O ciclo de terror que reinou absoluto na primeira metade da década de 80 foram os slashers movies. Este período foi marcado por uma “matança” desenfreada de adolescentes no cinema americano pelas mãos de vários psicopatas que apresentavam na sua conduta, graves transtornos emocionais quanto sexuais. O ano de 1981 é considerado o ano de ouro da matança, o masterpierce do slasher pelo grande índice de sangue jorrado na tela.

Só neste ano, tivemos em torno de 33 produções voltadas ao subgênero– recorde absoluto – de assassinos aniquilando os jovens das mais diversas formas. De certa forma, os slashers (o termo slash em inglês significa retalhar ou cortar) oitentistas se proliferam que nem os Gremlins, criaturas do filme homônimo que não podiam ser alimentadas depois da meia-noite e nem serem molhadas. Troca-se a água e comida pela cobiça dos produtores que crescia potencialmente ao verem os cifrões que os filmes geravam de lucro, sem precisarem gastar muito.

Halloween, de John Carpenter, o avô da parada, deu o escopo e formato aos slashers. Foi lançado em 1978, custando 300 mil e rendendo mais de 50 milhões de dólares. Já Sexta-Feira 13, de Sean S. Cunningham, o pai da criança, foi aquele que sedimentou a fórmula vulgar e clichês do gênero, sendo lançado em 1980 custando quase 700 mil e rendendo acima dos 40 milhões de dólares. Belos sucessos no quesito custo e benefício, correto? É claro que árvore genealógica dos slashers movies já provinha antes dos filmes citados. Na década de 60 com o clássico Psicose (1960) e na década seguinte, mais precisamente no ano de 74 através de uma genética variada: o sangue italiano de Mario Bava no ótimo Banho de Sangue; o sangue texano-maluco de O Massacre da Serra Elétrica e no sangue canadense de Noite do Terror (este inspirou, sem dúvida, a obra de Carpenter). Por isso, leitor, se você adora assistir litros de sangue, assassinos mascarados e mortes violentas e criativas, conheça a safra de filmes que são mais representativas do 1981:


As continuações das franquias de sucesso – Sexta-Feira 13 Parte 2 e Halloween 2

O ano de 81 ampliou a febre dos slasher movies com duas continuações: Sexta-feira 13 Parte 2 e Halloween 2. O primeiro teve um impacto forte por introduzir pela primeira vez o ícone Jason Voorhees que assume a matança da mãe nesta sequência dirigida por Steven Miner. Pessoalmente é minha continuação preferida dentro da série, não devendo nada ao original.  Apresenta um ritmo enxuto, graças à boa direção de Miner que cria belos sustos, encenando uma interessante atmosfera de suspense. Sem contar a ótima Final Girl, Ginny a carismática Amy Steel. Dá até para perdoar o Ctrl + C e Ctrl + V que Miner faz de algumas cenas de Banho de Sangue de Mario Bava.

Halloween 2 de Rick Rosenthal é uma bela sequência que segue o estilo elegante do original de John Carpenter – que escreveu o roteiro e dirigiu algumas cenas. A maior virtude da continuação é ampliar a mitologia da série, deixando Michael Myers quase como um monstro indestrutível (sem precisar ser o “bombadão” do remake fétido de Rob Zombie). A atmosfera sombria, os bons momentos de tensão e um final interessante que fecharia a saga com chave de ouro (se não fosse a ganância dos produtores em ressuscitar o personagem) são os ótimos ingredientes desta continuação que não envergonha o original –  chupa esta manga Mr. Zombie.


Os violentos – Chamas da Morte/Vingança de Crospy e Quem Matou Rosemary?

São os meus dois slashes favoritos de todos os tempos, muito em razão de tratarem o espectador com o mínimo de decência e oferecer doses cavalares de violência explícita. Chamas da Morte dirigido por Tony Maylam desenvolve o enredo, personagens e suspense, sem qualquer pressa, permitindo o espectador crie empatia pelo filme. Depois de ser queimado em uma brincadeira em um acampamento, o nosso “ herói” Crospy resolve voltar ao local para tocar o terror. Dotado de sua tesoura de jardim, Crospy e seu instinto de vingança transformam Jason e suas mortes em uma produção do jardim de infância. Destaque para a “cena da jangada“, filmada por Maylam com uma crueldade impressionante (veja abaixo). Foi um dos grandes clássicos das Sessão das Dez do Tio Silvio Santos.

Quem Matou Rosemary? dirigido por Joseph Zito é outro slasher violentíssimo. Depois de ir para segunda guerra e descobrir que a namorada o trocou por outro homem, o nosso assassino corno se veste como soldado e ataca um baile de formatura de uma pequena cidade. A direção inspirada de Zito é nítida nas cenas violentas – a da morte no banheiro é a versão gore grosseira de Psicose – e na ambientação do suspense e mistério. Curiosamente nos dois filmes, o responsável pelos efeitos especiais é o mago Tom Savini que estava inspiradíssimo nos anos 80 – não é à toa que ele considera ambos, os seus melhores trabalhos.


Os recordistas nas contagens de Corpos – Dia dos Namorados Macabros e A Hora das Sombras

Dia dos Namorados de George Mihalka e A Hora das Sombras de Jimmy Huston são os recordistas de mortes em filmes deste ano, respectivamente 12 e 11 vítimas. O primeiro é uma produção canadense que também virou clássico da Sessão das Dez e colocou nos anais dos slashers, o vilão maluco Harry Warden que ataca no dia dos namorados americano para se vingar por uma tragédia acontecida numa mina de carvão. Por mais que a tesoura da censura tenha podado as sequências mais violentas, o filme ainda oferece um intricado e ótimo suspense como na cena na qual um grupo de jovens precisa escalar um fosso da mina por meio de uma escada. Outro slasher acima da média e que ganhou um remake em 2009 em 3D que mesmo divertido, não tem o charme ordinário do original.

A Hora das Sombras apresenta um assassino sem motivo aparente que começa a matar jovens em uma universidade.  É o mais fraco devido a narrativa oscilante, mas tem o seu charme pela contagem de corpos e pelas criativas cenas de morte.


Os deformados –
Pague para Entrar, Reze para Sair e Noite Infernal

Pague para Entrar, Reze para Sair (Funhouse no original) é um daqueles slasher inusitado: não ocorre em um colégio, universidade ou acampamento de férias e sim em um parque de diversões. Dirigido por Tobe Hooper do clássico Massacre da Serra Elétrica, ele é eficiente por encenar uma atmosfera claustrofóbica e por reinventar o conceito do parque de diversões em um formato de um ambiente do medo. Nele, um grupo de jovens fica preso em um parque e passa a ser caçado por uma criatura deformada. É ao mesmo tempo um trabalho divertidíssimo e de gelar a espinha.

Por sua vez, Noite Infernal de Tom DeSimone é o clássico slasher passado em uma fraternidade, onde um grupo de calouros tem que cumprir um trote que é sobreviver a uma noite em uma mansão abandonada, que é claro, tem um assassino deformado escondido nela. Constrói com eficiência uma atmosfera de pesadelo nas cenas de perseguição dentro dos tuneis escuros da mansão, além de um desfecho acima da média. É um slasher despretensioso e divertido como deve ser.