Uma noção muito presente no cinema hollywoodiano é que a sequência de um filme de sucesso sempre precisa ser maior que o original. No entanto, e quando o autor da sequência já é por natureza um cineasta simplesmente incapaz de pensar pequeno? Quando o estúdio 20th Century Fox encomendou a sequência do sucesso Alien: O Oitavo Passageiro (1979) a James Cameron, eles não podiam saber que o filme resultante ganharia vida própria e acabaria aclamado como uma das melhores continuações de todos os tempos.

Hoje em dia é fácil tirarmos uma onda com Mr. Cameron, o “Rei do Mundo” que virou ativista ecológico e que parece obcecado em fazer um monte de continuações de Avatar (2009). Mas vale a pena nos lembrarmos do seu começo nos anos 1980: Depois de ser demitido no meio das filmagens do trash Piranha 2: Assassinas Voadoras (1981), Cameron se reinventou graças à sua visão ambiciosa e à sua “pegada” poderosa. O Exterminador do Futuro (1984), Aliens: O Resgate (1986) e O Segredo do Abismo (1989) anunciaram na época a chegada de um novo candidato à disputa do trono do cinema fantástico, mesmo com o último não tendo alcançado o sucesso financeiro esperado. Seus filmes eram (e ainda são) definidos, acima de tudo, por ambição, e mesmo hoje Cameron vive numa eterna busca pela próxima inovação, a próxima forma de impressionar o público. Só a pegada hoje é que parece um pouco mais suave…

Ridley Scott, diretor do primeiro Alien, não quis fazer a sequência – ele só voltaria ao universo da franquia com Prometheus (2012), décadas depois. Após ser contratado, Cameron fez o filme do seu jeito. Ou seja, com tudo maior e mais espetaculoso, uma narrativa que mistura elementos de filmes de guerra, ficção-científica e terror, mas impulsionada pelo drama muito humano da sua protagonista e ao mesmo tempo alimentada por subtextos curiosos, capazes de torná-la tão marcante quanto o original.

O principal subtexto é o fato de Aliens ser, em essência, a história de duas mulheres. A primeira é a tenente Ellen Ripley, vivida por Sigourney Weaver. Ripley foi a única sobrevivente do primeiro longa e, quando o filme de Cameron começa, ela passou 57 anos flutuando à deriva no espaço. É encontrada, descobre que sua filha morreu nesse meio tempo – na versão estendida, a preferida do diretor – e vira, em essência, um alienígena em meio aos humanos, porque ninguém acredita na sua história e ela não consegue mais se relacionar com ninguém. Ao voltar ao planeta onde sua antiga tripulação entrou em contato com o monstro, como consultora de uma operação militar, a luta de Ripley se torna uma busca pela própria humanidade e para salvar uma segunda filha, a menininha Newt vivida por Carrie Henn.

A outra mulher do filme é a Rainha Alien, grande vilã concebida por Cameron e pela equipe de efeitos do mago Stan Winston. A vilã só aparece nos últimos minutos do filme, mas é uma das criaturas mais impactantes já vistas nas telas, ainda mais numa época em que não havia computadores para lhe dar vida. A Rainha, no fundo, só quer a mesma coisa que a heroína, proteger os seus, e o duelo do filme é eminentemente feminino – não à toa, a fala “Se afaste dela, sua cadela!” entrou para a história do cinema. Cameron, o cineasta que concebeu a Sarah Connor, a Helen de True Lies (1994) e a Rose de Titanic (1997), faz do seu filme uma batalha entre duas mães espaciais, e nela os homens praticamente não têm lugar. Aliás, quase todos morrem.

As mortes dos fuzileiros enviados junto com Ripley expõem outro subtexto do filme: Aliens tem sido, ao longo do tempo, interpretado como uma alegoria do Vietnã. Afinal, os soldados fortemente armados e confiantes vão pouco a pouco enlouquecendo ao confrontarem um inimigo que não podem ver direito, e que às vezes até os arrastam para as trevas por buracos no chão. E ainda há espaço para mais: no filme, Cameron explora seu tema preferido, o conflito entre o tecnológico e o primitivo, o biológico – o primeiro filme tinha como cena mais famosa o nascimento do monstro, já o segundo é repleto de vida por todos os lugares do planeta LV-426.

Tudo isso torna o filme interessante, mas representa apenas o pano de fundo. Para Cameron, o que importa é a experiência visceral, tão intensa quanto a do primeiro Exterminador do Futuro. O cineasta nos faz esperar uma hora pelo primeiro monstro – algo quase impensável no cinema de hoje – mas cria o suspense com atmosfera e nos cativa com um carismático elenco coadjuvante, repleto de nomes que viriam a se destacar dentro e fora do cinema fantástico, como Bill Paxton, Michael Biehn, Paul Reiser e Lance Henriksen. Depois, quando os aliens começam a atacar, Cameron pisa no acelerador e transforma seu filme numa sucessão de cenas eletrizantes: a primeira batalha, Ripley e Newt presas no laboratório com as criaturas, a emboscada pelo teto, a fuga pelos túneis, o retorno ao ninho para resgatar Newt e a luta final, tudo ao sim da bombástica trilha de James Horner e mostrado com a competência de efeitos especiais ganhadores do Oscar.

Falando em Oscar… Aliens foi o primeiro filme de ficção-científica a render uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz a uma intérprete. A atuação de Sigourney Weaver é intensa e sempre objetiva: como a sua personagem, Weaver sempre nos deixa ver o que Ripley está pensando. Além disso, ela passa pelo processo contrário ao de Sarah Connor: no primeiro Exterminador, Sarah ia de moça comum a figura forte; já Ripley começa forte por ter tido sua personalidade definida no anterior. Mas Cameron, inteligentemente, dá mais profundidade à heroína e a leva para o próximo passo, um teste de força ainda mais difícil que o anterior, e faz com que nesse passo o importante seja se humanizar, ao invés de endurecer.

É a marca de um cineasta que não deseja apenas repetir o que deu certo antes. Seu filme é uma experiência que se sustenta à parte do filme de Ridley Scott e representou um abalo sísmico nos gêneros ficção, ação e terror tão grande quanto o seu predecessor. Alguns elementos de design, vistos hoje, são muito “anos 1980”, e Aliens apresenta algumas cenas não tão boas aqui e ali – como a revelação da vida na colônia, na versão estendida – enquanto Alien é praticamente irretocável. Mas embora Alien seja perfeito e o meu favorito, pessoalmente eu não chamo de maluco qualquer pessoa que diga preferir o segundo filme.

Sem Aliens, não existiriam muitos videogames, muitos filmes de ação com protagonistas mulheres, muitas pérolas do trash e alguns poucos bons filmes a combinar criaturas a um clima de guerra. Sem Aliens não teríamos a cena do Bishop com a faca, não teríamos “Game over, man! Game over!”, não teríamos a empilhadeira, nem uma mulher que desce praticamente ao inferno, onde os homens já haviam perecido, para sair de lá purificada. E sem ele, provavelmente não teríamos a carreira de um cineasta que nos deu grandes e poderosas imagens nestes últimos trinta e poucos anos.

Talvez essa seja a chave para se entender Aliens: O Resgate: é um filme de fortes emoções. Quando há tensão, ele é muito tenso; quando há drama, é muito dramático; quando é divertido, é muito divertido. “Muito” é a palavra-chave aqui, e poucas vezes um filme mereceu tão apropriadamente ser comparado a uma montanha-russa de emoções. Uma montanha-russa de enormes altos, porque o seu criador é simplesmente incapaz de fazer um filme pequeno e que passa despercebido. O segundo Alien representa um ponto tão elevado que o seguinte não teve escolha a não ser descer muito. Mas essa é outra história, em outro tipo de sequência…