No domingo, fomos surpreendidos pela triste notícia da morte de Wes Craven. Mestre do terror moderno, ele entregou perólas do gênero como os filmes da série “A Hora do Pesadelo”. No entanto, a minha geração conheceu Craven por meio da produção que deu uma sobrevida aos filmes de slasher: “Pânico”. O filme de 1996 é uma pequena obra-prima, e as sequências, apesar de não terem o mesmo brilho, também têm seus momentos de brilhantismo.

Nessa singela homenagem do Cine Set ao mestre, vou elencar cinco motivos que fizeram da série “Pânico” um clássico do terror. Continua lendo e cuidado com os spoilers e com o Ghostface!

1. A ‘protagonista’ que morre nos primeiros minutos

O primeiro “Pânico” já nos surpreendeu de cara, com uma sequência inicial divertida, assustadora e que ganhou instantaneamente o seu lugar na cultura pop. Tudo é icônico, dos diálogos rápidos e metalinguísticos (mais sobre isso depois) até o cabelo de Drew Barrymore. A atriz, aliás, era o nome mais conhecido do elenco e era vendida como protagonista no material de marketing do filme. Então imaginem o choque que foi lá em 1996, quando Casey é dilacerada pelo assassino mascarado! Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson não estavam para brincadeira e nos mostraram, nos primeiros minutos, que qualquer coisa seria possível naquele universo.

2. O ‘ghostface’

Tal qual Jason Voorhees, Michael Myers e o próprio Freddie Krueger, imortalizado nos filmes de Craven, o vilão de “Pânico” tem um visual marcante. Soma-se a isso o fato de, em 1996, aquela máscara usada pelo serial killer já existir. Ou seja, o filme de Craven deu ao público uma sensação de insegurança, de que qualquer pessoa poderia ser aquele assassino, já que é só comprar aquela máscara em uma loja qualquer e você está pronto para sair matando. Assustador, não?

3. A mocinha não é uma virgem indefesa

Esqueçam a cara de bunda que a Neve Campbell faz sempre que ela descobre uma morte nova nos quatro filmes da série. A Sidney interpretada por ela não é a típica virgem-que-só-grita. Vemos uma protagonista que dá socos e pontapés e dribla o assassino (o que não é tão difícil, já que ele tem uma péssima mira) e que usa a inteligência para se safar, Pena que os amigos dela acabam ficando pelo caminho, né?

4. A metalinguagem

O mais divertido de “Pânico” é que os quatro filmes não se levam a sério e brincam com os clichês do gênero o tempo todo. O personagem Randy, que aparece nos três primeiros filmes, é o representante disso. Ao dar, em 1996, as regras dos filmes de terror, ele estabelece uma linha que seria seguida por filmes como “Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado” (do mesmo roteirista de ‘Pânico’, inclusive). No segundo filme, ele nos diverte com as regras sobre sequências e, mesmo morto, reaparece no terceiro em um dos melhores momentos da produção (a mais fraca da quadrilogia) para dizer o que acontece ao fim de uma trilogia. O filme de 2011 perde um pouco o brilho pela falta de Randy, mas compensa ao ser feito 100% para os fãs de “Pânico” e trazer mil e uma referências aos três primeiros.

5. O clímax

Assistindo ao primeiro “Pânico”, até penso que esse filme talvez não fosse possível de ser produzido hoje (o que pode ser um engano, já que estão exibindo uma série baseada na história), em um mundo pós-Columbine. Mas Craven e Williamson botam a discussão de violência na mesa com a revelação dos assassinos. Isso fica claro no filme de 1996, com a justificativa que Billy e Stu deram para cometer todos aqueles crimes. A revelação de ser dois assassinos, aliás, é outro ponto que surpreende o espectador. No segundo filme, voltamos a ficar chocados ao descobrir quem era o segundo matador. O terceiro é o mais fraco nesse sentido, não só por ter apenas um, mas pelo desfecho parecer apressado demais. Para compensar, o quarto filme nos dá um desfecho quase tão longo quanto o de “O Retorno do Rei”, mas vale pela discussão atualizada da fama pela fama. E, mesmo repetitivo, o assassino sempre voltando dos mortos diverte quem já embarcou naquele universo horas antes.