A Academia gosta de filmes sobre o jeito inglês de ser. Há duas evidências disso. Uma é o feel-good movie O Discurso do Rei, melhor filme do Oscar de 2011. A outra é A Rainha, de 2006, que foi uma consagração para sua protagonista, Hellen Mirren, vencedora do prêmio de melhor atriz do mesmo ano. Agora, o gosto dos acadêmicos é atiçado com A Dama de Ferro. A história inspiradora da ex-primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher foge das convenções e consagra o Talento de Meryl Streep.
A Dama de Ferro mostra Thatcher (Streep) já idosa e com o Mal de Alzheimer. Ela reluta para aceitar as limitações da idade e se recusa a admitir que as conversas com o marido, Denis (Jim Broadbent), são delírios causados pela doença. Para se confortar, a estadista se prende às glórias do passado com fotos e vídeos. Assim, suas trajetórias política e pessoal são contadas em paralelo com a da Inglaterra.
Dirigida por Phyllida Lloyd, a produção tem vários pontos fortes. A fotografia opta por sempre realçar a grandeza da protagonista e cerca-a com o passado por meio de fotos. Além disso, é um ponto positivo a variação entre tons quentes (na juventude de Thatcher e na Guerra das Malvinas, ponto de virada da história) e frios (na velhice e nos momentos difíceis da vida da protagonista).
Outros pontos fortes são a direção de arte e a maquiagem. A reconstituição dos cenários e das roupas da Inglaterra pós-guerra é fiel. Nela, destaca-se o figurino de Thatcher. A firmeza das suas ideias e o fato dela ir contra a corrente são evidenciados com o contraste entre as cores vivazes das suas roupas e o preto e o cinza dos seus colegas. A maquiagem potencializa o trabalho de Streep. O retrato da decadência física da “Dama de Ferro” é admirável, assim como detalhes como suas características rugas, gengiva e cabeleira.
O preparo de ator é o maior dos pontos fortes. Jim Broadbent incorpora o companheiro de Thatcher que não perde o humor nem quando eles sofrem um atentado terrorista. Alexandra Roach faz a estadista antes do auge e mostra com competência que ela trabalhou os seus ideais desde a juventude. Mas, seguramente, o maior destaque fica com Meryl Streep.
A atriz acerta nas variações de dicção e segurança de Thatcher no decorrer da sua vida. Além disso, a artista encarna o seu papel com maestria. Vemos a estadista que mudou os rumos da Inglaterra no pós-guerra, e não a pessoa que fez uma ensolarada dona de hotel que canta os sucessos do Abba (no caso, Mamma Mia!, o filme anterior de Llody).
Margareth Thatcher foi uma das maiores figuras políticas da década de 80. Na sua trajetória política, há o conflito com os sindicatos ingleses, as privatizações, a Guerra das Malvinas e o fim da União Soviética. Lloyd opta por usar todos esses eventos como suporte para os conflitos psicológicos dela. Por outro lado, a “Dama de Ferro” é mostrada como alguém que luta contra o machismo da Inglaterra pós-guerra e pratica sem saber o “Faça Você Mesmo”, filosofia dos punks que tanto a odiavam.
Dois dos temas de A Dama de Ferro são a autoconfiança e a perseverança, tão comuns em feel-good movies como “O Discurso do Rei”. Mas foge das receitas do gênero ao defender que precisamos saber desistir e aceitar o fim. Assim como “A Rainha”, o filme tem uma protagonista forte, baseada numa figura histórica importante e vivida por uma atriz extraordinária; por conta desse trabalho, a expectativa que Meryl Streep ganhe seu terceiro Oscar é grande.
Os pontos em comum entre os três filmes são a qualidade das atuações o retrato simpático das tradições inglesas e das particularidades daquele povo de senso de humor peculiar.
Pois é, Hollywood espera que deus continue salvando a rainha.
NOTA: 8,0
Caro César,
Acompanho a trajetória de Meryl Streep e seus comentários são por demais coerentes e bem feitos, tanto no que diz respeito a extraordinária atriz que ela é, como a sua visão do filme,A Dama de Ferro.Gostei muito.
Um abraço
Dulce
Olá, Dulce! Tudo bem? Muito obrigado pelo comentário.
Penso que a Meryl Streep está alguns níveis acima das suas colegas. Para mim, ela é uma Artista que honra seu trabalho.
Abraços!
César parabéns pela crítica. Acabo de assistir o filme e senti exatamente tudo que você comentou. EXTRAORDINÁRIA é o que define a atriz Meryl Streep.
Olá, Samanta! Tudo bem? Obrigado pelo comentário.
Concordo com o elogio à Meryl Streep. 😀
Adorei o filme, mostra que mesmo sendo uma ‘dama de ferro’ Thatcher ainda é humana. Meryl Streep como de costume atuou perfeitamente (até mesmo o tom da voz!).
É uma pena que a própria Margaret talvez esteja tão senil que não possa compreender este brilhande filme…
Nossa parabéns pelo seu blog está muito bom, sou um pouco suspeita para falar de Meryl, para mim ela é uma atriz perfeita e sempre se supera. E o filme A Dama De Ferro é simplesmente muito bom independente das idéias políticas de ex Primeira Ministra isso não à torna um monstro ela sem dúvida é um ser humano e como tal sujeito a erros… É fácil falar quando não estamos no lugar do outro; e se fosse um homem no lugar dela pensariam mil vezes antes de apelidar e/ou mesmo criticar.
Bem acho que é isso, gostei muito do filme e da interpretação e a entrega de Meryl a seu trabalho então… nem se fala. PERFEITA!!!!
* Um abraço!
César amei seus comentários. E como meu intuíto no blog é sempre divulgar coisas boas e ainda peguei emprestada as suas fotos, mas coloquei referência em fontes.
Continue escrevendo para nós.
Sônia, Nathália e Cesar, muito obrigado pelos comentários!
* Cesar: infelizmente, o Alzheimer e a idade dela estão avançados, né.
* Nathália: concordo com o seu comentário.
* Sônia: na verdade, o blog é de um conjunto de profissionais. Se possível, ajudem a nos divulgar.
Parabéns pela análise! Achei o filme excelente sendo esta a única crítica na qual pude concordar totalmente. Diferente de outras críticas, achei o filme bem montado e não achei o roteiro confuso. Algumas pessoas esperavam novas informações históricas, uma bobagem pois o filme não é um documentário. O filme nos mostra como foi difícil a trajetória de uma mulher que precisou romper preconceitos e por isso precisou realmente se fazer de ferro.
Gostei muito de sua crítica sobre este filme ,sempre que vou assistir um novo filme ,procuro ler suas críticas antes,além de interessantes, são bem próximas da realidade.Bacana,continue assim !
Chrysthiane e Cristiano, obrigado pelos comentários!
Cristiano: uma crítica minha ao filme é a relação entre Denis e Margareth – uma hora ele disse que ia abandoná-la, mas continua com ela, como se tivesse dito nada.
Chrystiane: vou continuar me empenhando!
Caro Nogueira,
Parabéns! Até que enfim um comentário de quem entendeu o filme como eu. Não se trata de obra-prima, mas é um bom filme, de qualidade, que retrata Mrs. Thatcher de modo diferente. Os acontecimentos mais importantes do governo da primeira-ministras estão retratados, e quem acompanhou a história da personagem, via imprensa, os reconhece.E Meryl Streep está sensacional.
Valeu!
R.Secco
Olá, Ricardo! Obrigado pelo comentário!
Ainda não tive tempo de assistir a “Dama de Ferro” mas irei o mais breve possível e não é só pq Meryl Streep ganhou esse oscar (merecido), mas pq ela realmente é uma excelente atriz! Acredito que eu tenha visto 90% dos filmes que ela atuou basicamente pelo fato de ela estar no filme. Sei que no mínimo, verei boas interpretações! Parabéns à coluna!
Olá, Silvia! Obrigado pelo comentário e pelo elogio.
Penso que o prêmio de ontem foi mais do que justo. Estou ansioso para as próximas atuações dela.
não sei se merecia um 8, talvez um 7,5 mas de fato a meryl está asstadora de tão transfigurada. Depois desse amo ela mais ainda, e uma atuação dessa com certeza vai parar no meu altar de meryl na estante dos meus dvds.
vou ao EUA proximo mes e gostaria muito de encontar com Meryl,vou deixar com ela o meu livro,ainda não publicado,voce saberia me dizer,como consigo um encontro com ela?
Relendo agora a crítica, acho que poderia ter investido mais no argumento de que o filme usa as críticas à “Dama de Ferro” antes para engrandecê-la do que para humanizá-la….