Sob os cuidados do Programa de Proteção à Testemunha, o gângster Giovani Manzoni, interpretado por Robert De Niro, se vê convidado para uma sessão do cineclube da pequena cidade francesa onde vive. O objetivo é que ele ajude os habitantes do vilarejo a entender os EUA e a sociedade do país a partir de um filme clássico. Porém, na noite do evento, a Cinemateca não consegue a cópia do longa definido e decide exibir outra obra: “Os Bons Companheiros”, dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Ray Liotta, Joe Pesci e… Robert De Niro.

Comandado por Luc Besson (“O Quinto Elemento”) e produzido pelo próprio Scorsese, “A Família” se trata de uma homenagem aos personagens mafiosos feitos por De Niro. Tanto é que a base da obra trata sobre a tentativa do protagonista em fazer um manuscrito das memórias dele, mesmo que não possua talento para tanto. Paralelo a isso, o filme mostra os problemas enfrentados pela família do sujeito em se adaptar a uma nova mudança de endereço e as dificuldades em se relacionar com o povo de cultura diferente.

O desejo de Manzoni colocar no papel as recordações representa, de certa forma, a oportunidade para os mafiosos vividos por De Niro no cinema também passem pela revisita. Não que vejamos trejeitos de Don Corleone (“O Poderoso Chefão 2”) ou Sam ‘Ace’ Rothstein (“Cassino”) em “A Família”, porém, elementos característicos dos gângsters como o amor à família e a violência encarada de forma natural ressoam nas declarações do personagem. Como não poderia deixar de ser, o ator se mostra à vontade no papel e vê-lo falar ‘cacete’ com tanto gosto chega a ser uma forma de extravasar o passado brilhante.

Outro ponto interessante abordado de forma bem-humorada no filme é trazer a violência como estilo de vida e sobrevivência daquela família. A incapacidade de saber lidar com situações cotidianas e irritantes leva os protagonistas a agirem com extremismo seja para resolver desde problemas de encanamento a lidar com uma grosseria de um balconista no supermercado. Ao mesmo tempo, “A Família” aborda bem uma Europa cada vez mais em decadência e o isolamento americano através da falta de diálogo perante o resto do mundo, solucionando tudo na base da porrada.

Apesar da atuação protocolar de Tommy Lee Jones, o retorno de Michelle Pfeiffer a bons papéis já é um alívio depois de um longo período apagada. Porém, quem surpreende mesmo é a jovem Dianna Agron, a qual interpreta a filha do casal Manzoni. A garota explora a inocência e beleza de traços suaves do rosto angelical para, logo em seguida, assustar nos momentos em que a personagem age com violência e dá uma densidade interessante dos duelos para sair daquele ambiente cruel.

Apesar do filme realizar uma sequência de ação desnecessária no ato final, tirando o clima intimista até então, “A Família” traz Luc Besson aos bons filmes com aposta no sarcasmo afiado. Não chega a ser brilhante, porém, diverte como poucos, além de possuir a excelente cena inicial e a justa homenagem a Robert De Niro.

NOTA:8,0

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.