Recordo-me de um clipe bem legal dos Smashing Punpkins, chamado Tonight, Tonight em 1996. Apresentando bastante criatividade contando a história através de um filme mudo, o clipe é uma homenagem declarada ao filme Viagem à Lua (1902) de Georges Méliès. Mais do que fez o vídeo da banda americana, A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, se mostra como uma homenagem não apenas ao cineasta francês, mas também à origem do cinema.
Hugo (Asa Butterfield) é um garoto que vive numa estação de trem juntando peças para reconstruir um autômato depois da morte de seu pai (Jude Law), além de tomar conta dos relógios do local. Passando por dificuldades, ele se vê obrigado a realizar pequenos furtos para sobreviver, mas certo dia é flagrado em uma loja de brinquedos, e acaba sendo forçado a trabalhar para o dono da loja para não ser entregue ao implacável guarda do lugar (Sacha Baron Cohen). No local, ele acaba se tornando amigo de Isabelle (Chloe Moretz), filha adotiva do comerciante, que é nada menos que Georges Méliès (Ben Kingsley), pioneiro cineasta que passou por uma grande decepção em sua vida, e nem quer mais ouvir falar em cinema. Juntos eles tentam descobrir o que aconteceu com Méliès para que ele tentasse esquecer de todas as formas o seu passado como cineasta.
Sendo contada pelo ponto de vista do garoto, o filme propositalmente adota um olhar inocente, doce, mas sofrido sobre os acontecimentos que passam pela vida de Hugo, meio que mostrando todas essas emoções de uma forma bastante intensa, como uma criança veria.
E é com esse olhar que Scorsese mostra todo o seu carinho e admiração pela sua profissão, e por aqueles que a ajudaram a se tornar o que ela é hoje. Além disso, o filme é, ao mesmo tempo, uma aula e uma homenagem ao cinema. Começando pelos irmãos Lumière e seu “show de mágica” com A chegada do trem na estação (1896) que apavorava o público, causando a ilusão de que o trem iria na direção da plateia. Passando por um delicioso momento de O Homem mosca (1923), além de O Garoto (1921), A General (1927) e outros.
Fica claro como Scorsese respeita e admira esses filmes, por suas qualidades e importância. Note a maneira entusiasmada com que as crianças assistem ao filme no cinema, e como Hugo e Méliès se referem de maneira apaixonada ao cinema, chegando a compará-lo a sonhos.
Mas A invenção de Hugo Cabret também traz a clara mensagem de que o tempo é implacável, mesmo para aqueles que fizeram história, e tiveram grande destaque no que realizaram. Mostra o quanto a fama é descartável, perecível e ingrata, e como acontecimentos da vida (no caso do filme, a guerra) podem fazer com que todo um árduo trabalho feito com dedicação e amor seja esquecido facilmente pelas pessoas.
Ao mesmo tempo, mostra a necessidade de valorizar os grandes nomes do passado, e destacar o seu valor e sua importância para a arte como ela é hoje. Como na cena em que um admirador de Méliès vai à casa dele e diz à sua mulher como o seu marido havia sido importante para ele na sua infância, e vemos o olhar emocionado dela, apresentando sincera gratidão por um agradecimento cada vez mais raro em dias como aqueles, tantos anos depois dos seus momentos de glória.
Mas a melhor cena da história é a que mostra como Méliès fazia os seus filmes, semelhante a um teatro filmado. Scorsese acerta em cheio nesta sequência. Note que ela é bastante longa, como se o diretor fizesse questão de mostrar como o trabalho de Méliès era apaixonado e revolucionário para a época. Em seus filmes ele trabalhava como diretor, roteirista, ator, produtor, cenógrafo, figurinista e fotógrafo.
Além disso, este momento mostra para os mais novos, como o cinema de antigamente era feito, de uma maneira bastante artesanal, com um pé bem grande na teatralidade, bem diferente da que conhecemos hoje. Apenas cineastas como Scorsese teriam capacidade de fazer esta cena com tanta sensibilidade. Aula de cinema.
As atuações do filme são precisas e muito bem desenvolvidas. Asa Butterfield traz para Hugo um correto tom de: criança. E acredite, isso é algo bastante louvável. É comum em filmes como esses, em que as histórias são contadas através de crianças, que elas tenham um tom mais adulto do que deveriam, e acabem se afastando do fato de que são: crianças. Mesmo que Hugo tenha que lidar com uma realidade imprópria para sua idade, com furtos, trabalho infantil, e a perda da escola, ele encara tudo com isso com a convicção e o profundo sofrimento que uma criança teria. Nada mais que isso, e se sai muito bem.
Chloe Moretz também está ótima, e faz um belo par com o protagonista, trazendo doçura e, por que não, aventuras para a vida de Hugo. Além de ser através do personagem dela, que o filme também cria uma oportuna homenagem à literatura. Sacha Baron Cohen apresenta um trabalho ótimo como o guarda da estação. Mesmo sendo uma espécie de vilão da história, Cohen é o principal alívio cômico do filme, mostrando um ótimo timing para comédia. Mas o seu trabalho se mostra mais do que apenas um tipo excêntrico, como quando vemos a sua tentativa de conquistar uma moça que vende flores. A cena em que uma mulher fala para ele dar o seu “melhor sorriso” para a florista é um ótimo momento cômico, mas que também serve para dar interessante complexidade ao seu personagem.
Mas sem dúvida a melhor interpretação do filme fica para Ben Kingsley. Mostrando diferentes faces de Georges Méliès, que a princípio se apresenta como um homem amargurado e infeliz com o rumo que sua vida tomou, somos tomados de assalto por um Méliès apaixonado, charmoso e extremamente feliz quando no auge de suas atividades, a princípio como mágico e depois como cineasta. Trazendo consigo grande carga dramática, Kingsley diverte e emociona o espectador com uma interpretação precisa e admirável.
Tecnicamente o filme também é brilhante. Apresentando cenários bem desenvolvidos e ricos em detalhes, o filme tem uma primorosa direção de arte, que retrata bem a Paris da década de 30. A fotografia também se mostra competente, e uso do 3D, do qual não sou nem um pouco entusiasta, se mostra correto, trazendo um interessante paradoxo entre o tradicionalismo do início do cinema e a tecnologia do cinema atual.
Em certo momento do filme, Hugo diz para Isabelle que se o mundo fosse uma máquina, cada coisa teria que ter uma função nele. Bem, depois de assistir ao filme, posso dizer que se o mundo realmente fosse uma máquina, a função de A invenção de Hugo Cabret seria emocionar, e homenagear aqueles que ajudaram o cinema a ser a arte que é hoje.
E nisso, ele cumpriu sua função com maestria.
NOTA: 8,5
Boa crítica, Diego.
Adorei o filme! Iria gostar mais ainda se não fosse 3D,
e não tive opção. Aqueles óculos desconfortáveis deixavam as cenas, principalmente as que não tinham efeitos, bem escuras. E como o filme é um pouco longo, a dor de cabeça [no meu caso] é inevitável.
Fora isso, ah, perfeito! HHAHA.
Concordo com tudo, o filme é maravilhoso, emocionante, só não vi crianças no cimema pra ver a reação delas. É um filme pra se ver dez vezes. PARABÉNS SCORSESE!!! VOCÊ ACERTOU EM CHEIO.
Georges Méliès teria adorado o cinema 3D. Talvez, o 3d não existiria sem Méliès. O melhor filme que assisti nos últimos anos.
O filme é realmente maravilhoso. Scorsese é um mestre, e assim como em “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” também faz uma homenagem ao cinema usando a melhor tecnologia que temos hoje: o 3D (um dos mais bem empregados dos últimos anos), junto com a primorosa direção de arte e a bela fotografia. O único ponto negativo é o longo roteiro e algumas cenas desnecessárias. Fora isso, temos uma história comovente e uma lição importante: também pode-se usar tecnologia 3D, efeitos especiais de encher os olhos e orçamento grandioso para fazer cinema de qualidade.
um filme apaixonante, uma aula de cinema e história para quem não teve contato com os feitos dos cineastas do passado, é um filme que agrada a toda a família, recomendo
Ola!!!!
Não entendo de cinema na ótica técnica, porém não gostei do filme e não indicaria. Me deu vontade de sair no meio da historia. Foi sim uma homengem ao cineasta, porém longo demais sem necessidade e a história não me prende e tão pouco me comoveu… Estou ate precupada…. com tantos elogios aqui…. Sera que estou insensível demais a uma “bela homenagem”?
Ainda não assisti ao filme, mas já li muito sobre ele e posso confiar em Scorsese. A riqueza dos detalhes é impressionante e a atuação dos protagonistas é incrível! O pequeno Asa Butterfield mostra-se surpreendetemente fantástico para sua idade e para muitos atores mais velhos, e já provou isso deste sua atuação em o ”Menino de Pijama”…Certamente será o ator mais jovem a ganhar um Oscar!
Maravilhoooooooooooooso, perfeito, em 3D magnific e magestic!!!!! Já fui assistir 3 vezes no cinema, perfeito!!!!!
Definitivamente, é um excelente filme. Mas é válido observar que sua beleza está mais no que não procuramos nele do que naquilo que buscamos encontrar. Aliás, cara Luciene, o filme é bom por sua falta de excesso e mirabolância, e isso requer tranquilidade e pura fruição para ser percebido. Concordo que há algo interessante: unanimidade nas críticas super elogiosas.
Scorsese mais uma vez dá um show cinematográfico. Lindo, sensível, completo. Conta a história do cinema de maneira poética. As crianças são singelas, lindas e nos encantaram. O Ben dispensa comentários sempre muito bom. Nem senti o tempo passar. Adorei!!!
Realmente, uma aula de cinema! Meu sobrinho de 8 anos tbm gostou! Bom trabalho de Scorsese!
Filmaço, aço, aço,aço que homenageia a todos que em algum momento da vida teve algum tipo de relação com o cinema, seja trabalhando em sua produção ou como expectador.
E excelente 3D, vemos o quanto esse recurso pode ser benéfico nas mãos de diretores realmente dedicados ao seu uso e também competentes. Desde Avatar, não me lembrava do recurso agregar tanto valor na projeção como em Hugo Cabret.
P.S.: Engraçado, também passei o filme inteiro pensando em Tonight Tonight. Hehehe!
achei esse filme um lixooo, o hugo é um otario mesmo, tem filmes melhores do q esse…. bem melhorees !!!!
afff q LIXO
Porra, to quase chorando aqui com os comentários, quanta sensibilidade do povo, o Daniel então, meu deus, é um poeta.
Eu sou fan do Scorsese, os melhores filmes que eu ja filme foram obras dele, mas esse filme aí não faz o meu gosto, não concordo com essa história de que só porque o cara é bom, tudo que ele faz é bom, todo diretor faz filmes bons, fimes mais ou menos, e filmes ruins, esse filme aí não vai nada além do mais ou menos.
Pra quem ja fez Touro Indomável, Cassino, Os bons Companheiros, e outros filmes, esse filme aí é muito água com açucar, e põe açucar nisso.