Grande sucesso na época do seu lançamento e indicado a nada menos do que 14 Oscars (feito somente igualado por Titanic, 47 anos depois), “A Malvada”, ganhou seis prêmios, incluindo melhor filme de 1950.

A história trata da grande estrela da Broadway Margo Channing, uma mulher que acaba de chegar à casa dos quarenta anos de idade e que percebe que está ficando velha demais para os papéis de meninas que insistem em lhe dar. Após uma apresentação particularmente desastrosa, Margo conhece Eve Harrington, uma moça simples do interior que declara ser sua fã e que confessa estar seguindo a turnê da atriz em todas as cidades apenas para vê-la atuar. Impressionada pela amabilidade da moça, Margo a contrata como sua assistente pessoal. Não demora muito, porém, para percebermos que Eve na verdade tem um plano bem calculado para tomar o lugar da atriz.

A julgar pela sinopse, não parece que estamos diante de uma comédia. E de fato não se trata de uma comédia de gags visuais e situações cômicas exageradas.

O diretor e roteirista Joseph L. Mankiewicz cria aqui uma comédia com classe, onde os atores trocam entre si diálogos afiados e bem elaborados. O sarcasmo e o cinismo dos personagens é que ditam as nossas risadas.

Diálogos brilhantes, porém, não significam muito se não forem ditos da maneira correta pelos atores certos. Sorte nossa que aqui temos ninguém menos do que Bette Davis como Margo Channing, naquele que talvez seja o seu grande papel no cinema.

Davis dispara as suas falas de maneira precisa e incorpora de forma exemplar uma “megera” cujo talento é superado apenas pelo seu ego.

Debaixo da armadura do sarcasmo, porém, Davis mostra uma mulher que tinha, até então, medo de envelhecer, e que apenas agora começa a aprender a balancear a carreira com a sua vida pessoal.

Do outro lado, como Eve Harrington, a malvada do título, temos Anne Baxter. Hoje em dia, analisando a sua performance friamente, vemos que a atriz apresenta alguns cacoetes daquele tipo de atuação caricata que existia nas décadas de 40 e 50. Porém, é inegável a força da atriz quando esta demonstra a paixão de Eve pelo teatro.

Nós nunca sabemos quando Eve está dizendo a verdade ou não, mas o seu desejo de chegar ao topo e de ser reconhecida e aplaudida por todos parece bastante real.

O filme ainda apresenta grandes atuações de Celeste Holm, Gary Merrill e Hugh Marlowe, interpretando, respectivamente, a melhor amiga, o namorado e diretor, e o roteirista de Margo.

Mas quem se destaca mesmo dentro do elenco coadjuvante é Thelma Ritter, como a empregada de Margo, a qual é tão afiada quanto a patroa e desde o início desconfia das intenções de Eve.

Ritter tem apenas dez minutos de aparição ao longo do filme, mas cada segundo seu na tela é hilariante, o que garantiu a ela uma indicação ao Oscar.

Para finalizar, eu acredito que o que destaca A Malvada de outros filmes é que, além de ser uma ótima comédia, o longa também traz um retrato interessante do mundo do showbizz.

A valorização da juventude, o medo da velhice, a dificuldade de conciliar carreira com a vida pessoal, e a ferrenha disputa de egos do mundo artístico são todos temas abordados no filme.

Além disso, acho muito pertinente a condição de Eve. Sua ambição e desejo de sucesso são grandes sim, mas eles de nada lhe serviriam se ela também não tivesse talento como atriz.

Ao longo do filme se torna clara a sua qualidade como intérprete. Por outro lado, fica difícil imaginar de que forma uma menina interiorana como Eve, por mais talentosa que fosse, conseguira ser descoberta e alcançar o estrelato se não houvesse da parte dela ambição e habilidade para intriga.

Ao final, a mensagem que fica é a de que, para sobreviver no competitivo mundo do showbizz, você precisa ter um pouco de Eve Harrington dentro de si.

Nota: 9,5 (Obra-Prima)

Curiosidades

  • O filme é recordista em número de indicações ao Oscar, com 14 no total. Apenas Titanic, de 1997, repetiu tal feito.
  • O filme também é o único na história da Academia a ter quatro mulheres indicadas a prêmios de atuação (Bette Davis e Anne Baxter, indicadas a Melhor Atriz, e Celeste Holm e Thelma Ritter, indicadas a Melhor Atriz Coadjuvante). Curiosamente, porém, o Oscar de atuação que o filme recebeu foi justamente para o único homem do elenco indicado, George Sanders, premiado como Melhor Ator Coadjuvante.
  • O filme foi uma grande reviravolta profissional para Bette Davis, que tinha acabado de ser dispensada da Warner Bros depois de uma parceria de mais de 18 anos com o estúdio. Os último filmes da atriz tinham ido mal nas bilheterias e o estúdio acreditava que Davis havia perdido o seu apelo popular. O grande sucesso de público de A Malvada, no entanto, mostrou que eles estavam bastante errados.
  • O filme ainda conta no seu elenco com uma presença ilustre. Em um dos seus primeiros papéis no cinema, ninguém menos do que Marylin Monroe aparece como uma aspirante a atriz, e mesmo com pouco tempo de tela ela já demonstra o sex appeal e o carisma que iriam lhe consagrar como uma lenda viva anos mais tarde.
  • Até hoje há controvérsias sobre a orientação sexual da personagem Eve. Em determinada cena, após fazer uma ligação para o namorado de Margo, uma mulher desconhecida faz um sinal positivo para Eve e ambas sobem as escadas para o quarto. Há quem diga que se trata da amante de Eve. Eu particularmente acho ela nada mais é do que uma colega de quarto de Eve, a qual a ajudou nas suas manipulações.