Camila Henriques – “Simplesmente Amor”

Nesse singelo compilado de histórias natalinas, Rickman protagoniza a mais tocante de todas. Como o marido que flerta com a colega de trabalho e deixa a esposa esperançosa com a ideia de um presente de Natal, o ator criou um dos personagens mais dúbios do longa.

Sabemos que ele ainda sente amor pela esposa (uma igualmente brilhante Emma Thompson), mas também temos a dimensão exata da estagnação em que ele se encontra. Ao mesmo tempo, Rickman nos faz rir em cenas como as que “tira do armário” a paixão de Laura Linney por Rodrigo Santoro e que, impaciente, espera o meticuloso balconista vivivo por Rowan “Mr. Bean” Atkinson embrulhar o presente que comprou para a “amante”.

Um trabalho bastante subestimado de Rickman, que, assim como Thompson, deveria ter sido mais lembrado nas premiações de cinema.

Gabriel Oliveira – Série ”Harry Potter”

Para a geração que cresceu assistindo aos filmes da saga “Harry Potter”, é pelo papel do professor de Poções Severo Snape que Alan Rickman ficou mais conhecido – talvez seu “vilão” mais marcante, ao lado de Hans Gruber. Às vezes odioso além da conta, às vezes simplesmente intrigante, Rickman foi o único ator que a escritora J.K. Rowling fez questão de escolher a dedo, e revelar antecipadamente a ele o que aconteceria com seu personagem no final da septologia.

Foi mais do que o suficiente para que ele pudesse brincar com a ambiguidade do papel que tinha em mãos, explorando as diversas nuances e sutilezas de um personagem que, por trás do semblante ameaçador e do desprezo pelos outros, esconde um homem amargamente arrependido e assombrado pelas ações do passado e em busca de uma forma de redenção. Agora, mais do que nunca, quando alguém perguntar se os fãs ainda sentem saudade do ator, “After all this time?”, a resposta certamente será: “Always”.

Ivanildo Pereira – “Duro de Matar”

Alan Rickman podia ter passado a carreira inteira fazendo vilões e teria ficado milionário com isso. Ele teve de lutar um pouco para fugir do estereótipo de vilão em filmes de Hollywood porque ele fez um dos melhores vilões de todos os tempos em Duro de Matar, que foi justamente o seu primeiro trabalho no cinema. Ele viveu o terrível (e meio patético também) Hans Gruber tão bem, mas tão bem, que praticamente dominou o mercado dos “personagens vilanescos estrangeiros”. Gruber tinha classe, pose e aquela voz de Rickman… E tinha também um lado divertido e meio sacana, que o ator trouxe à vida em alguns momentos do filme. Se Duro de Matar é hoje considerado um dos grandes filmes de ação e thrillers de todos os tempos, Rickman merece boa parte desses elogios, pois é graças a ele (e a Bruce Willis) que o filme funciona. Nem os filmes de James Bond tiveram um bandido tão interessante quanto Hans Gruber.

Lucas Jardim – “O Guia dos Mochileiros das Galáxias”

Alan Rickman, como Charles Dance antes dele, tem um quê vilanesco (ou obscuro) que é difícil ignorar, de maneira que muitos dos seus papeis famosos são de antagonistas, à exceção do professor Severo Snape, na série “Harry Potter” – e mesmo este papel carregou a dúvida sobre sua lealdade ao bem até o último filme.

Apesar disso, o ator, consagrado no teatro, possui uma versatilidade invejável, que lhe permitiu viver aristocratas e pais de família românticos. “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, no entanto, não tem nada disso: encarregado de dar voz a Marvin, o “androide paranoico” (ou você acha que o Radiohead inventou isso?) criado pelo escritor Douglas Adams, Rickman faz uso do seu tão conhecido barítono para… fazer rir!

Dublando um dos robôs mais misantropos do universo, Rickman consegue despertar raiva, pena e humor, às vezes dentro do espaço de uma única fala – um papel estelar, que ainda serve como uma das maiores defesas de filmes legendados em que consigo pensar.

Susy Freitas – “Razão e Sensibilidade”

Com uma carreira diversa, Alan Rickman conseguiu ainda um papel como um improvável galã em “Razão e Sensibilidade”. Coube a ele interpretar o Coronel Brandon no filme de Ang Lee, um personagem tímido com um segredo que mudaria a trama.

Embora Rickman nunca tenha se encaixado nos moldes de beleza vigentes, ele conseguiu emular muito bem um perfil de personagem querido à Jane Austen, autora da obra na qual o filme se baseia: o homem taciturno e incompreendido, mas de bom coração, o que lhe garante o amor da personagem de Kate Winslet, Marianne. Ainda que o foco de “Razão e Sensibilidade” sejam as personagens femininas, Rickman entregou um coadjuvante à altura de Emma Thompson e Winslet.