Aquela Estrada, curta do diretor Rafael Ramos, é um filme sobre o movimento. As pessoas estão sempre se movimentando no quadro e há uma energia jovem na tela, devido ao fato de apenas pessoas jovens aparecerem no filme. É um filme de sensações, acima de tudo, e embora elas nem sempre se articulem ou sejam compreensíveis para quem assiste, elas rendem um trabalho interessante.

Não é um filme com uma história: acompanhamos um rapaz, o mais próximo de um personagem principal, que trava um diálogo no início com um interlocutor num bar. A conversa é sobre brindes, clichês e sobre como “conhecer as outras pessoas é como conhecer a si mesmo”. Então começa o movimento. Esses dois personagens sairão, junto com outros jovens, numa viagem por uma estrada a caminho da “melhor festa de Manaus”. No trajeto, passam pela Ponte Rio Negro que “leva do nada ao lugar nenhum”.

O filme evoca o desejo, muito jovem, de buscar algo. Nunca fica claro o que esse algo é, mas envolve experimentar o que a vida tem a oferecer: bebida, diversão e sexo. Os atores aparecem nus (há nudez frontal, especialmente masculina) e na festa, sucumbem a um verdadeiro turbilhão de sensações. A câmera do filme também entra no turbilhão, girando e acompanhando a todos, ao som da música da banda Luneta Mágica.

Isso dá um forte ar de videoclipe ao filme, mas, pelo menos, nesse momento o filme faz jus ao seu propósito, o de absorver essa energia jovem e colocá-la na tela.  E a fotografia de César Nogueira é eficiente em captar a beleza do momento e das pessoas. Outras opções do diretor são mais passíveis de questionamento, como a cena sem propósito da vendedora de frutas (interpretada pela veterana do cinema local Rosa Malagueta), ou o momento de sexo entre dois homens no meio do filme. A cena é interrompida por um personagem nu com uma máscara retangular na cabeça, o que também desperta a sensação de estarmos vendo algo próximo a um videoclipe.

Aquela EstradaNo fim das contas, isso até não pode ser visto como um problema real. Aquela Estrada é quase um videoclipe, onde a música é interrompida pelas cenas entre os atores, sobre e voltado para os jovens, reais ou de espírito, que um dia já quiseram pegar a estrada com uns amigos e curtir para valer, pelo menos um pouco. É um filme, em alguns momentos, sobre jovens se descobrindo, sobretudo sexualmente e é possível vê-lo como um desejo de expressar uma sexualidade total e inclusiva. Por isso mesmo é difícil determinar porque as cenas envolvendo dois homens, acompanhados da figura de máscara, acabem com tiros e insinuações de medo e violência. A visão da sexualidade parece meio contraditória, o que sugere que o diretor sabe colocar suas intenções e as imagens desejadas na tela, mas ainda parece um pouco indeciso sobre o que quer dizer com seu filme.

Ainda assim, é um filme de belas imagens e cheio de vida. Mas, como seus personagens, não parece ir a nenhum lugar em particular.

https://www.youtube.com/watch?v=RyY3G7tBRxs