Atos contra a extinção do Ministério da Cultura movimentaram a semana artística de Manaus nesta semana. Acadêmicos do curso de Teatro da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) se mobilizaram para a realização de um Palco Manifesto, na última quarta-feira (18), no hall da Escola Superior de Artes e Turismo (ESAT). Já na sexta-feira (20), outro grupo de artistas locais se reuniu no Paço da Liberdade, no Centro de Manaus, também para debater sobre o fim do MinC e se posicionar contra as medidas adotadas pelo presidente interino, Michel Temer (PMDB).

Presente no ato da última sexta-feira à tarde, a integrante do Coletivo Difusão, Michelle Andrews, afirmou que os artistas presentes ao encontro não compactuam com a política de retrocessos do atual governo. Segundo ela, uma ocupação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Centro de Manaus, deve acontecer nos próximos dias.

“A ocupação prevista para acontecer na próxima semana, busca não apenas mostrar a posição da classe, como também apontar caminhos para o não retrocesso. Não compactuamos com a situação do MinC dentro do governo Temer”, disse Andrews, salientando ainda os problemas enfrentados pela cultura também no âmbito local.

Microfone aberto na UEA

Organizadora do Palco Manifesto, a atriz Tainá Lima revelou que a decisão de realizar o evento ocorreu na madrugada de sexta-feira (13) após a definição da reforma ministerial de Temer. “Precisava-se fazer alguma coisa, então se pensou em uma manifestação com a estética de um microfone aberto, quando qualquer artista que quisesse apresentar um número de dança, uma peça, recitar um poema, fazer um discurso sobre as medidas atuais que envolvem o país tinha a oportunidade de expor sua opinião em um microfone colocado no hall da Escola Superior de Artes e Turismo (ESAT). Isso enquanto, simultaneamente, ocorriam apresentações artísticas no prédio”, contou.

Intitulando o evento como pacifico e apartidário, Tainá conta que a escolha pelo nome de Palco Manifesto aconteceu devido à vontade de evocar as manifestações artísticas como ato de resistência.“É um evento que precisa acontecer semanalmente para que a nossa voz seja ouvida. Não aceitamos o que está acontecendo em nosso país, a luta é pela democracia”, afirma.

Integrante da Artrupe Produções Artísticas e diretor do curta “O Que Não te Disse”, Diego Bauer acredita que o Palco Manifesto cria a oportunidade da classe artística colocar-se no lado prático do manifesto. “Uma manifestação como essa mostra que existe trabalho sendo feito e mesmo que não seja colocado de maneira pragmática como uma proposta, é um projeto, é um posicionamento”, declara. Para Bauer, a união da classe artística e a busca de um posicionamento que não permita um retrocesso diante da atual situação do trato governamental quanto ao Cultura são necessários.

“Para algumas pessoas, as manifestações em forma de apresentações artísticas podem ser coisas pequenas, mas isso pode ser difundido e expandido para coisas maiores. O questionamento dos participantes é pela sua identidade, seu ministério, para ter os investimentos ainda no patamar que se considera de crescimento e continuar nesse processo”, contou Antônio Carlos Junior, diretor dos curtas-metragens Cuspe e O Terrorista. Ainda segundo o realizador locala união dos artistas audiovisuais em contrapartida a atual situação da pasta de Cultura, “pode se ampliar e se difundir para que a sociedade também possa se envolver”, disse. Não é apenas uma apresentação em si, mas é todo um ativismo político através de aparentemente pequenas ações que podem se ampliar para coisas maiores”, conclui.

Com a proposta sempre voltada para o enfoque artístico, o Palco Manifesto terá mais uma edição na próxima semana: os estudantes da UEA estarão ao lado do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e do Instituto Patrimônio Histórico do Amazonas (Iphan) em atividades performáticas.