Barulhos de Lucas Martins, apresenta como grande “trunfo” nos seus aproximadamente 12 minutos de duração, a economia e precisão como trabalha o seu argumento frente às limitações da produção. Em sua estreia de curtas-metragens, o diretor debutante realiza um estudo cínico dos medos e fobias sociais cada vez mais presentes no imaginário da sociedade contemporânea. Nele, acompanhamos um sujeito (Paul Brown) que acaba de chegar em casa na madrugada e deseja apenas descansar. Porém, começa a escutar barulhos estranhos dentro do local, situação que vai compor o cenário principal de mistério do curta.

Filmado praticamente em um local e com um único ator em cena, Martins dribla estas limitações orçamentárias com um ritmo interessante e planos inteligentes que jamais deixam a produção monótona. A forma como trabalha o terror psicológico é eficiente e ganha o belo reforço do som ambiente – no caso os ruídos básicos que vão desde um pé tocando o chão ao ranger de uma porta ou janela – que ajuda a deixar a narrativa mais misteriosa, apostando em planos fechados o que cria uma inquietante e tensa atmosfera onde imagem e som se ajustam para evocar um tipo de medo oculto que povoa nossas sensações – afinal quem nunca foi a a cozinha de madrugada beber água e escutou aquele som ou eco esquisito pela casa de fazer a espinha gelar?

Ao trafegar pelo horror psicológico, Barulhos não deixa de lembrar em certos momentos a mesma dinâmica da “trilogia do apartamento” do polêmico polonês Roman Polanski, principalmente  Repulsa ao Sexo (1965). Porém, o jovem diretor valoriza mais o humor negro excêntrico que flertar com a veia cínica de Joe Dante. Assim como o cineasta americano, Martins homenageia vários elementos da Sci-fi tradicional, onde uma TV transmite cenas cartunescas – o desenho da trupe Looney Tunes do divertido Pernalonga – e o clássico O Dia Em que A Terra Parou (1951) de Robert Wise.

Pena que esta experiência visual não ecoe com o mesmo equilíbrio dentro do roteiro assinado por Martins em parceria com Max Michel. Falta ao texto mais ousadia em trabalhar estes elementos de terror e ficção científica para o impacto emocional do conflito sugerido pelas imagens, o que deixaria com certeza a cena final (repleta de ironia e acidez) muito mais interessante. Ainda assim, Barulhos como produto audiovisual de um estreante, funciona pela direção dinâmica, o bom ritmo e pela narrativa tensa que é elaborada de forma sutil e precisa.