Envolver o público: esse é o feito extremamente óbvio que qualquer filme deve ser capaz de alcançar, não importando se a produção em questão é um tradicional dramalhão hollywoodiano ou uma obra alternativa e experimental. Fazer o espectador se sentir envolto pela trama faz com que ele até mesmo perdoe se o filme em si não é tão bom, pois entrar na pele de um outro alguém por cerca de 110 minutos faz parte da magia do cinema.

Apesar da boa intenção, “Caçadores de obras-primas” (2014) não atinge de todo esse ponto tão essencial. Dirigido por George Clooney, o drama com pitadas de comédia parte da história real dos “monuments men”, grupo de historiadores, museólogos e curadores que realizou missões para recuperar obras de arte roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Clooney também estrela o filme e reúne no elenco Matt Damon, Bill Murray, Cate Blanchett, John Goodman, Jean Dujardin e Bob Baladan.

O tema, interessantíssimo, perde impacto com o ritmo arrastado do filme. Clooney já dirigiu os ótimos “Confissões de uma mente perigosa” (2002) e “Boa noite e boa sorte” (2005), mas aqui não consegue imprimir a mesma pegada sóbria e direta de seus filmes de maior sucesso. As obras de arte surgem de maneira tão discreta que não dão conta de convencer o público de sua importância, não importa o quanto o roteiro garanta a presença de falas explícitas explicando isso. Talvez utilizando um apelo mais visual, o espectador que pouco ou nada sabe de história da arte se sentisse tão envolvido quanto os “monuments men”.

Outro ponto confuso em “Caçadores de obras-primas” é o mau desenvolvimento dos personagens. Aqueles interpretados por Damon, Blanchett e Goodman são os mais prejudicados pela direção, que parece querer implodi-los de cena. Já Murray, Dujardin e Baladan conseguem, ainda que comedidamente, criar alívios cômicos divertidos que poderiam até ter sido mais explorados sem prejudicar a trama. O filme explica de maneira quase didática o background dos historiadores, críticos de arte, arquitetos etc. envolvidos na missão do MFAA, mas não o porquê dessas pessoas comuns serem capazes de arriscar suas vidas pelo bem das obras em plena guerra.

Apesar dos deslizes, “Caçadores de obras-primas” ainda consegue manter certo charme. A direção de arte, fotografia, figurinos e outros elementos mais técnicos recriam sem grandes surpresas, mas de maneira cuidadosa, o que se espera do visual e atmosfera de um filme de guerra. A resolução da caça aos quadros, esculturas e outras obras ganha fôlego pelo menos ao final do filme, garantindo que o espectador não se sinta de todo insatisfeito. Já a trilha sonora instrumental foi um verdadeiro coringa na manga de Clooney, pois o simpático leitmotiv, retrabalhado de forma a inspirar os mais variados sentimentos (euforia, medo, tristeza), funciona sempre que entra em cena.

Não deixa de ser louvável a tentativa de Clooney de trazer um fato histórico importantíssimo, apesar de tão específico, ao grande público através de “Caçadores de obras-primas”. Apesar de o filme não mostrar a real dimensão do que foi a operação de resgate dessas obras durante a Segunda Guerra, consegue gerar certa curiosidade de saber mais sobre os “monuments men” da vida real, e, quem sabe, jogar no Google palavras-chave como Renoir, Rembrandt ou Michelangelo. Se o diretor não conseguiu deixar o filme com um apelo tão popular como poderia, ao menos deu ao público a opção de se divertir um pouco com algo que tenta ir além do entretenimento sem conteúdo.

NOTA: 6,5