Em 2002, o cinema americano presenciou um daqueles seus fenômenos anuais, onde uma produção modesta, fatura milhões. Coube à comédia familiar Casamento Grego (2002), roteirizada e estrelada por Nia Vardalos ser o filme inesperado daquele ano. Por isso não deixa de ser estranho, que apesar do seu sucesso, levou exatamente 14 anos para uma continuação ser realizada. A demora de acordo com a própria criadora era a falta de um roteiro adequado para continuar a saga da família grega mais estranha do cinema.

Com a estreia de Casamento Grego 2 (2016) na última semana, fica evidente que se este era o melhor roteiro ou enredo que Vardalos tinham em mãos, ela poderia ter deixado seus personagens excêntricos mais um tempo de Standy By no cinema, até porque é visível a falta de boas ideias neste novo exemplar. Desta vez Toula (Nia Vardalos) precisa lidar com a filha Paris (Elena Kampouris), que almeja estudar fora de Chicago por não tolerar as excentricidades da família. Ao mesmo tempo, o patriarca, Gus (o adorável Michel Constatine) descobre que seu casamento com Maria (Lainie Kazan) não foi oficializado e depois de várias confusões, ambos resolvem marcar uma nova cerimônia, o que é claro vai culminar em outras mais confusões.

Ao brincar com os estereótipos familiares e culturais – no caso as tradições gregas – a comediante obteve êxito no primeiro filme por dois fatores: 1) Ao mexer com os arquétipos familiares gerava de forma sutil e inteligente uma identificação junto ao público, que enxergava nos comportamentos excêntricos dos personagens, algo próximo da própria experiência familiar, tipo um parente com as mesmas características; 2) O tipo de humor repleto de confusões e situações inusitadas funcionava muito bem para uma época em que os sitcoms americanos não eram tão difundidos como acontece nos dias atuais.

O primeiro ponto citado acima, ainda é uma das boas qualidades desta sequência (mesmo em escala menor). Em relação ao segundo, nota-se que grande parte da essência do humor proporcionado pelo original, aqui já evidencia certo cansaço – uma espécie de R.O requentado – muito em razão da fórmula desgastada, afinal de 2002 para 2016, você com certeza já viu famílias disfuncionais em vários sitcoms na TV (vide Modern Family) mais interessantes, principalmente no quesito piadas, do que nesta continuação. Não é à toa que o novo filme parece àquela piada que repetida várias vezes, já não rende boas risadas.

O primeiro Casamento Grego funcionava como um conto de fadas simpático e excêntrico dentro da embalagem de uma comédia romântica-familiar. A nova produção foca-se exclusivamente nos conflitos familiares e conjugais. Isso por si só, poderia justificar a realização de um novo filme, mas o roteiro preguiçoso de Vardalos prefere se render as repetições das mesmas piadas do filme original como as extravagâncias dos comportamentos da família de Toula. Não há nada de novo no texto de humor, o que dá a nítida impressão que a comediante se perdeu dentro do seu próprio mundo particular que ajudou a criar.

A própria linha narrativa do filme centrada em dois arcos principais é desenvolvida superficialmente e desproporcionalmente. A primeira de Toula com a filha – que envolve o ato inicial do filme – é equivocada e arrastada. Já a segunda que investe no casamento de Gus e Maria rende até algumas boas risadas, mas só é explorada no ato final e quando assume as rédeas do filme, parte do público já está entediado com o que presenciou. Além de não conseguir trabalhar satisfatoriamente suas narrativas principais, Vardalos ainda insere no roteiro, outras subtramas que inflam o filme, criando a sua dispersão junto ao público.

É uma pena que alguns dos conflitos dos enredos secundários se minimamente bem cuidados ou aprofundados, poderiam proporcionar reflexões interessantes. Neste ponto, o próprio roteiro desperdiça temáticas pertinentes como o empoderamento feminino, a homossexualidade e a sexualidade no casamento frente ao patriarcado conservador. Cada uma delas é subutilizada pelo próprio texto, que perde a oportunidade de oferecer ao público, um olhar mais atual e crítico frente a hipocrisia que certas culturas machistas carregam.

Curioso perceber que a própria protagonista é engolida dentro do próprio filme pelos personagens secundários, que ganham mais tempo em tela do que ela própria. Isso demonstra o descuido da própria autora em delinear melhor os conflitos e problemáticas da sua personagem. É claro que o enredo leve e ingênuo, apresenta os seus méritos por utilizar os estereótipos, não no intuito de ridicularizar culturas e crenças e sim como elementos de descontração e divertimento para o público, através dos comportamentos excêntricos da família (ainda que repetitivos), evitando a fórmula escatológica e de excessos que algumas comédias familiares atuais utilizam.

Um dos pontos que dão fôlego e espontaneidade ao longa, é a dinâmica familiar entre os personagens que ainda funciona bem. Neste quesito Michael Constantine continua impecável na sua composição do patriarca Gus, um sujeito razinza e teimoso. Quando o personagem se encontra em tela, o filme cresce e até dá para relevar os seus problemas. O ator é responsável pelos melhores momentos do longa, inclusive pela divertida cena na qual precisa aprender a usar a internet.

Falando em modernidade, é nítido que Casamento Grego 2 até se esforça em discutir as tradições familiares conservadoras frente ao mundo tecnológico e o quanto estes avanços, acarretaram mudanças significativas nas relações afetivas e familiares. O problema é que o resultado final do trabalho indica um produto desconectado na criação do seu humor, visivelmente anacrônico e que não envelheceu muito bem com o passar dos anos. A direção do britânico Kirk Jones até esboça uma montagem dinâmica, mas acaba esbarrando nas várias fragilidades do roteiro.

Assim como aconteceu em 2014 com Debi & Lóide 2, Casamento Grego 2 demonstra que a demora em realizar uma continuação 14 anos depois, afetou consideravelmente na qualidade desta continuação. Não que o filme original seja memorável, mas ao menos agradava pelo tom descompromissado. Nesta sequência, os personagens ainda apresentam o seu valor, pena que o humor datado e estagnado, não acompanhou as mudanças proporcionadas pelas séries de TV e pelo cinema dentro do gênero da comédia nos últimos anos.