“Na boa, críticos são um saco: só sabem reclamar das coisas legais”.

“Qual filme que você fez? é diretor de alguma coisa? Se toca cara…”.

“Moço, você tem alguma formação? Cinema? Comunicação social? Se tiver, faça um favor a sociedade: rasgue o seu diploma e tente outra coisa da sua vida”.

“É incrível como a critica brasileira é a mais sem noção que existe, não que temos que ter a opinião igual ao das pessoas de outros países, mais parece que os brasileiros gostam de ser do contra só pra mostrar que são diferentes”.

“Vai nessa trouxa se não sabe criticar não critique”.

“Ei cara tu nem sabe escrever e nem sabe fazer filme, que critica mais fulera eh essa tua???Num fala coisa com coisa, tava era embreagado era? Quando resolveu escrever essa merda de critica… Acho que teu negocio eh rola viu! pq tu nem entende de cinema, nem de fazer filme, nem de critica, so resta rola pra ti”.

============================================================================

As frases acima são um apanhado das “gentilezas” distribuídas na seção de comentários ao longo de 2,5 anos do Cine Set em críticas de filmes americanos, europeus e brasileiros. As belas mensagens revelam a noção popular sobre a profissão: sujeito chato disposto a encontrar defeitos em produções amadas pelo público e apreciador de obras difíceis que ninguém é capaz de entender. Tudo causado pelo suposto ressentimento dele não ter capacidade ou talento para fazer igual ao visto na tela, despejando frustrações em formato de texto. A defesa dessas obras acabam sendo feitas pelos justiceiros apreciadores do artista.

A situação por si só já seria triste, porém, se torna ainda pior quando pessoas do meio artístico enxergam a crítica como um mal e veem o profissional como inimigo. Diretor, roteirista e protagonista da comédia “Chef”, Jon Favreau expõe essa visão ao trazer como vilão do filme um homem conhecido como o principal crítico de gastronomia de Los Angeles.

Projeto pessoal do diretor especializado em grandes produções (“Homem de Ferro 1 e 2” e “Cowboys e Aliens”), “Chef” traz a história de Carl Casper (o próprio Favreau), chefe de cozinha de um requisitado restaurante. Após ser proibido pelo dono do local de ousar no menu, ele acaba recebendo uma má avaliação do tal crítico. Tudo piora quando os dois se reencontram e o protagonista perde a cabeça partindo para cima dele. Demitido, Casper embarca em uma viagem com a ex-esposa (Sofia Vergara) e o filho para Miami onde irá encontrar a oportunidade de ouro ao decidir viajar os EUA vendendo lanches em um trailer.

Se fosse um momento sem importância na trama, a briga entre o chefe de cozinha e o crítico seria algo para ser esquecido. A trama de “Chef”, porém, somente chega no segundo e terceiro ato devido a este acontecimento elaborado de maneira, no mínimo, imatura. Para que o público ganhe raiva do antagonista, Favreau opta por criar um crítico disposto a ataques pessoais, provocações dispostas a humilhar Casper e pouco se atém ao objeto da análise, a comida. Ora, se fosse um sujeito qualquer e iniciante, ok. Porém, vários personagens fazem questão de ressaltar se tratar do maior especialista em gastronomia na cidade de Los Angeles, levando a crer ser alguém com conhecimentos de causa e capaz de fazer um texto muito melhor e mais embasado do que o lido pelo protagonista.

O ataque histérico de Casper para cima do crítico no restaurante lotado com frases de efeito como “você não sabe como suas palavras machucam” vindas com um sorriso debochado do personagem vivido por Oliver Pratt ressaltam ainda mais essa imaturidade de Favreau. O diretor busca novamente o contraste de um sujeito passional contra um cara frio desprovido de alma. Tudo isso sem perceber que o cozinheiro somente vai buscar a reinvenção de uma carreira estagnada em um local onde está preso há 5 anos e, por consequência, reencontrar a felicidade com a família após o texto considerado devastador.

Ao contrário do que pensa Favreau pela caracterização do personagem visto em “Chef”, o verdadeiro crítico busca observar as qualidades de uma obra de arte e apontar os possíveis defeitos caso sejam detectados. Tudo em busca de elevar ainda mais a compreensão e percepção sobre as ideias expostas no trabalho, muitas vezes não percebidas em sua totalidade pelo público. Não há intenção de humilhar ninguém ou fazer provocações pessoais dentro de um texto do gênero, sendo quem o faz as piores espécies da profissão. Evidente que o artista pode ficar chateado ou entristecido por uma má avaliação do produto, afinal de contas, todas as etapas até o resultado final são duras e cansativas. Porém, como mostrado de forma tão precisa em “Ratatouille”, o crítico, acima de tudo, ama a arte a que se propõe analisar e não admite quem a maltrate ou a faça com desprezo ou sem zelo.

Sendo assim, “Chef” não pode ser visto como um desastre por essa avaliação equivocada de Favreau sobre o trabalho do crítico. Mesmo previsível desde os 10 minutos iniciais, o filme conquista pela condução leve do diretor e por trazer um elenco coadjuvante de primeira: Robert Downey Jr., Sofia Vergara, Scarlett Johansson, Dustin Hoffman, John Leguizamo, Bobby Cannavale. Nem mesmo a duração excessiva (115 minutos) e cenas clichês (jura que precisava colocar alguém dançando ao cozinhar?) diminuem as belas imagens dos deliciosos pratos feitos e o road-movie de superação para o reencontro familiar suficientes para tornar o longa um agradável passatempo.

NOTA: 6,5