Relembrar uma história infantil após ter deixado a infância pode render uma grande decepção para muitos. Seja por diálogos não compreendidos ou mal interpretados, o significado de um filme pode se transformar conforme as mudanças de seu espectador e sua forma de ver o mundo. Tendo isso em mente, Marc Forster retoma o estilo assumido da direção de “Em Busca da Terra do Nunca” e apresenta “Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível” com artifícios infantis utilizando questões filosóficas como plano de fundo para sustentar seus dramas.

A trama inicia com a despedida de Christopher Robin (Ewan McGregor) de seus grandes amigos da infância: Ursinho Pooh, Tigrão, Corujão, Abel, entre outros. Devido à escolha temporal, o amadurecimento do protagonista passa por relacionamentos românticos e pela guerra de forma bem superficial na tentativa de justificar a mudança em sua personalidade. Porém, é com as situações do presente que o personagem se torna mais relacionável com o público, variando entre dias difíceis de trabalho e a falta de tempo para estar com a família ou cuidar da vida pessoal.

Cercado de clichês, o início de “Christopher Robin” também apresenta um bom fator ao incluir desenhos em 2D e buscar identificações da trama com antigas histórias de Pooh e seus amigos. O ursinho, inclusive, dá espaço para o protagonista sem deixar sua importância de lado. O grupo de roteiristas, ao incluir pensamentos aparentemente simples em um urso amarelo falante, consegue atingir a maturidade necessária para sustentar os argumentos apresentados pela construção de Christopher.

Os momentos em que Pooh e Christopher se juntam são os mais interessantes do filme e também as cenas que apresentam maior reflexão. Para uma criança que assiste ao filme, as animações com o humor cumprem um bom trabalho, enquanto para os jovens e adultos, os diálogos se mostram muito mais simbólicos e reflexivos. A mistura de ação e fantasia do filme não anulam os dilemas enfrentados por Christopher Robin, apesar de tornarem algumas linhas narrativas bobas e sem um desenvolvimento mais profundo (a relação dele com a filha, por exemplo) como o presente entre outros diálogos do filme.

Para desenvolver bem o reencontro de Christopher com seus amigos e com a pessoa que era, a produção apresenta dificuldades de ritmo. Isto ocorre principalmente em seu final, onde as soluções perfeitas (e já esperadas) acontecem sem tempo para o espectador respirar e até mesmo comprar a ideia de final feliz.

Apesar dos limites entre animações e seus live actions ser extremamente tênue, a utilização de animação consegue funcionar para “Christopher Robin”. Tanto pela dublagem quanto pela intensificação das personalidades já conhecidas são essenciais para ajudar o filme neste sentido. A caracterização dos figurinos e cenários também contribui para a imersão fantasiosa que o espectador precisa se propor, já que o diretor perde a mão à medida que o desfecho se aproxima.

Tentando segurar a trama em diversos aspectos, Ewan McGregor aparece como o ator ideal para este papel. Na maior parte do filme, ele interpreta o adulto responsável que utiliza um discurso para reafirmar suas ações mal pensadas, mas, em alguns momentos, o antigo Christopher Robin precisa aparecer, o que McGregor consegue desempenhar muito bem. A dificuldade em seu papel também aparece nos últimos minutos do filme, talvez pela resolução forçada ou pelo empobrecimento de suas falas.

Em linhas gerais, “Christopher Robin” apresenta um potencial surpreendente pela boa utilização de diálogos em uma trama clichê. O filme poderia apresentar mais aspectos positivos, porém sua narrativa não permite aprofundar outros personagens além de Christopher e Pooh ou se desprender de um final óbvio. Mesmo que o filme precisasse terminar com um tom positivo, poderia ter apresentado uma maior reflexão acerca da escolha de seu protagonista, assim como o fez em outros momentos. Se o fator nostalgia também seja considerado, o longa alcança outro patamar além de uma adaptação, se tornando uma releitura fiel de seus personagens que consegue dialogar facilmente com outros públicos.