Assistir um blockbuster no conforto de casa no mesmo dia em que o filme será lançado nos cinemas? A ideia, acredite, é possível e está sendo proposta pelo fundador do Napster, Sean Parker, através da empresa Screening Room. O custo do aluguel de cada filme seria US$ 50. As informações são do jornal inglês The Guardian e Variety.

Pela proposta de Sean Parker, o equipamento do Screening Room custaria US$ 150 e daria acesso ao menu com as produções disponíveis. Em seguida, a pessoa teria que pagar US$ 50 pelo filme que ficaria disponível por dois dias. De acordo com a Variety, para os exibidores, cada aluguel geraria uma receita de até US$ 20, enquanto as distribuidoras que ingressassem no modelo ficariam com uma fatia de 20% do preço do filme. À empresa de Parker, caberia uma parcela de 10% desse total.

Como incentivo extra para os donos de cinema, cada título escolhido pelo assinante daria a ele o direito a retirar dois ingressos, o que abre a possibilidade de ele se descolar do sofá e gastar uns dólares a mais na bomboniere dos participantes.  A Universal Studios, Fox e Sony se mostraram interessados na parceria com a Screening Room, de acordo com a Variety, assim como a rede de cinemas AMC, a segunda maior dos EUA.

Segundo a Variety, os estúdios americanos procuram uma nova forma de aquecer o mercado de home vídeo, enquanto os donos de cinemas temem a debandada do público com a nova tecnologia. Para uma produção chegar à casa do espectador seja através de DVD, Blu-Ray ou video-on-demand leva, em média, 90 dias nos EUA.

A proposta do Screening Room é garantir os direitos dos estúdios contra a pirataria, porém, ainda conforme a Variety, em uma era com torrents e Pirate Bay na ativa, Hollywood teme que a tecnologia seja uma furada. Especialistas no mercado cinematográfico americano afirmam que o projeto somente vai vingar se Sean Parker e equipe provarem não haver esse risco. “Essa notícia é muito perigosa. Você não imagina o quanto estou chateado com isso”, declarou um executivo de um dos grandes estúdios de Hollywood ouvido pela Variety. Sem ter o nome divulgado, ele afirmou que o serviço oferecido por Sean Parker seria o início do fim e metade dos cinemas nos EUA fecharia.

Batalha com a indústria fonográfica

Ironicamente, o cartão de visitas da proposta tem um histórico ligado à pirataria. Parker, também sócio do Facebook, ganhou projeção quando seu serviço de troca de música digital gratuita, o Napster, inaugurou uma enorme batalha judicial com as gravadoras, no início dos anos 2000. Em sua nova empreitada, ele tem se valido da expertise de Jeff Blake, ex-executivo da Sony, que atua como consultor.

Durante sua “turnê” pelos escritórios de Hollywood, Parker vem repetindo que já está em negociações avançadas com a AMC, cadeia americana controlada por capital chinês e que caminha para ser o maior exibidor do mundo caso a compra da Carmike Cinemas seja aprovada pelos órgãos reguladores dos Estados Unidos. E haveria simpatia de alguns dos principais estúdios, como Universal, Fox e Sony. A Disney, por enquanto, seria a única major a manifestar desinteresse explícito.

Experiências frustradas com janelas

Os obstáculos da missão são muitos. O primeiro deles, mais evidente, é a histórica resistência das grandes cadeias americanas a mexer nas janelas de exibição, que ditam um intervalo de 90 dias entre a estreia nos cinemas e sua chegada a outras plataformas. Em 2011, a Universal testou o lançamento da comédia Roubo nas alturas em sistema day-and-date com um VoDpremium, a US$ 59,99, mas desistiu quando exibidores anunciaram boicote ao filme.

No ano passado, foi a vez da Paramount experimentar uma estratégia parecida com Atividade paranormal: Dimensão fantasma e Como sobreviver a um ataque zumbi. Mais conservadora, a proposta previa apenas diminuir a janela clássica, garantindo a arrecadação compartilhada do on demand com donos de cinema. Porém, as adesões ficaram restritas à AMC, Cineplex e outras redes menores.

Preço alto pode dificultar adesão

Outro senão do serviço seria o alto preço, principalmente na comparação com o tíquete médio nos EUA, de US$ 8,42. Os defensores da ideia lembram que o cinema como programa familiar inclui outros gastos, como estacionamento, comida, babá, além dos múltiplos bilhetes. Mas a principal dúvida do mercado é se o modelo teria escala para sustentar seu interesse diante de outras opções mais baratas (ou até de graça, vide a pirataria). “Não existe mercado para isso”, vaticinou um executivo de estúdio ouvido pela Deadline.

Atualmente, há um serviço em operação com características semelhantes, o Prima Cinema. No entanto, ele não ameaça diretamente o Screening Room. Embora a ideia também seja levar para a casa dos usuários filmes ainda em cartaz nos cinemas, como Zoolander 2, trata-se de um modelo para poucos e abastados. Os assinantes precisam instalar um equipamento de home theater de luxo, com parâmetros bem determinados, e pagam de US$ 750 a US$ 1 mil por filme. Por enquanto, não consta que ninguém tenha chiado.

com informações do site Filme B