Independence Day, de 1996, é uma lembrança querida para muita gente. Podia não ser um grande filme, mas quem ligava? Numa época em que o cinema de ação a la Jerry Bruckheimer estava no auge, e Bruce Willis, Sylvester Stallone e até Nicolas Cage entregavam bons exemplares do gênero a cada ano, o filme do alemão Roland Emmerich não só trazia toda a pancadaria  catártica e as frases de efeito do gênero, como ainda era uma impressionante demonstração do poder do CGI, que ganhava força na época.

Vinte anos depois, uma sensação de desapontamento similar à do novo Star Wars de J. J. Abrams toma forma a cada sequência deste Independence Day 2: O Ressurgimento. Enquanto o reboot da saga Jedi ao menos tenta agregar personagens novos à sua mitologia, a nova incursão de Emmerich por seu trabalho mais célebre é praticamente uma refilmagem, com os raros elementos novos pouco acrescentando à receita.

Desde aquele fatídico 4 de julho, vinte anos atrás, a Terra se tornou um lugar muito mais civilizado e avançado tecnologicamente. Estudos dos artefatos deixados pelos invasores em 1996 permitiram a construção de veículos e armas muito mais potentes, a ponto da própria Terra começar a sua colonização do espaço. A chegada de uma ameaça em escala cósmica também fez os países deixarem suas diferenças de lado, e o planeta experimenta uma paz também inédita. Como sói acontecer nesses casos, porém, os derrotados não querem deixar barato: dessa vez, uma nave do tamanho de um oceano terrestre pousa no planeta, e os aliens começam uma sinistra escavação para desequilibrar e destruir nossa superfície. Cabe a David Levinson (Jeff Goldblum), mais uma vez, tentar entender o plano dos invasores e detê-lo.

Independence Day 2Goldblum é o remanescente do filme de 1996 com maior importância na trama. Judd Hirsch também retorna como o pai de Levinson, Julius, e comanda um divertido subplot envolvendo o resgate de órfãos do ataque. Já Bill Pullman, o protagonista do primeiro filme, faz uma participação estranhíssima. Seu personagem, que era o presidente dos Estados Unidos no longa original, agora é um velho assombrado pelos eventos de 1996, e o ator fica indeciso entre retratá-lo como tal (com uma hilária voz “frágil”) e conservar a postura de herói e galã. Ainda que que pela bizarrice, o ator deixa uma impressão mais forte do que os novos nomes do elenco: Charlotte Gainsbourg, como a pesquisadora Catherine Marceaux, não diz a que veio; e o triângulo formado por Liam (irmão de Thor) Hemsworth, como o piloto Jake Morrison, Maika Monroe, como a filha do presidente Pullman, e Jessie Usher, como o filho do personagem de Will Smith no primeiro filme, é apático e não convence. O pior talvez seja Liam: se ele já não empolgava como o Gale Hawthorne de Jogos Vorazes, agora ele faz um protagonista de ação completamente genérico. Outros atores que retornam do primeiro longa são Brent Spiner, agora com bem mais destaque como o cientista Brakish Okun (com um incomum – para o gênero – par gay) e Vivica A. Fox, que fazia a mulher de Will Smith, numa ponta rapidíssima.

Fora os atores, a diferença mais óbvia entre O Ressurgimento e o Independence Day original é a evolução nos efeitos. Mas até nisso o filme é pouco animador: comparado a, digamos, Terremoto: A Falha de San Andreas (2015), ou mesmo a O Dia Depois de Amanhã (2004), do próprio Emmerich, a destruição de prédios e carros e a formação de maremotos como consequência da invasão é bem-feita, mas não impressiona. Idem para os combates espaciais e o embate final com a líder dos alienígenas.

Burj-Khalifa-Independence-dayHá uma coisa, ao menos, em que Ressurgimento faz jus ao original: o humor e a evidente despretensão da obra abrem uma janela para o cinema de ação da década de 1990, que, antes das tentativas de adensar a trama, comuns a todos os filmes pós-Senhor dos Anéis e O Cavaleiro das Trevas, ou ainda às tentativas de crueza e realismo pós-série Bourne e Casino Royale, se preocupavam apenas em entregar pancadaria, explosões e acrobacias, pouco se lixando para ser “sérios” ou “profundos”. Muito pouco, infelizmente, diante de tanta expectativa.