Perdoem-me por começar essa resenha com uma pequena digressão pessoal, mas conheço muito pouco da música da banda Los Hermanos. Culpa minha: às vezes ficamos muito bitolados em alguns interesses – no meu caso, o cinema – a ponto de ignorar outros. Em minha defesa, só digo que estou me policiando para evitar isso e hoje – espero – tenho a mente mais aberta para tentar conhecer pelo menos um pouco de tudo.

Porém, uma coisa que sempre esteve clara para mim a respeito da banda é o fato dela despertar reações muito apaixonadas e extremas. Ao longo do tempo conheci gente que gosta e que não gosta da banda. Quem gosta não apenas gosta, AMA, ADORA, VENERA Los Hermanos. E quem não gosta ODEIA, DETESTA Los Hermanos com todas as forças. Essa polarização sempre pareceu curiosa para mim, e de certo modo acho que foi até bom poder assistir a Los Hermanos: Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida de forma “quase virgem”, por assim dizer, sem preconceitos ou favoritismos.

O documentário começa situando o público no tempo: em 2007 a banda carioca deu uma parada e voltou cinco anos depois em shows que percorreram várias capitais brasileiras. O filme é basicamente um registro dessa turnê, no qual a diretora – e conhecida atriz – Maria Ribeiro nos leva aos bastidores dos shows e aos palcos, alternando essas cenas com momentos mais íntimos dos músicos observados em lugares como quartos de hotéis e o ônibus da banda.

Quanto aos shows, é interessante observar o registro do filme e perceber a paixão dos fãs ao rever a banda. Goste-se ou não dos Los Hermanos, é necessário reconhecer que nesta última década não houve uma banda brasileira de rock capaz de despertar tanto entusiasmo do público quanto eles. A certa altura do filme chega a aparecer um rapaz que declara já ter assistido a 50 shows dos Los Hermanos, e esperava chegar a 70 até o fim da turnê. Nas plateias, a câmera do documentário capta rostos embevecidos de pessoas acompanhando as canções. Maria Ribeiro escolhe abrir o filme com a banda interpretando a canção “O Vencedor”, e a emoção do público, que começa a cantar antes mesmo do vocalista Marcelo Camelo, rende o momento mais eletrizante do documentário.

A diretora e sua equipe demonstram entrosamento e intimidade com os membros da banda, que são filmados em situações e conversas normais e se mostram bem simpáticos – especialmente Rodrigo Amarante que, com seu senso de humor, faz o espectador rir em diversos momentos. Outro belo momento é aquele no qual a câmera capta alguns integrantes da banda e da turnê em primeiro plano, e Camelo e sua esposa, a também cantora Mallu Magalhães, são enquadrados ao fundo, conversando e se divertindo. A sensação é de que a câmera é uma “mosquinha na parede”, dando acesso ao lado mais pessoal dos músicos.

Essa intimidade possibilita à câmera captar pelo menos um grande momento íntimo, como a cena na qual Camelo descreve seu encontro com a mãe de um fã, cujo filho faleceu ainda jovem, e pôde abraçá-lo. Momentos assim emocionam o público, mas são exceções dentro do filme, que se preocupa mais com o registro e não explora a história da banda e o porquê de tanta adoração por parte dos fãs. Pouco sobre a trajetória da banda é falado, menos ainda sobre a composição das suas músicas e seu processo artístico. Entrei no cinema sabendo pouco sobre os Los Hermanos e continuei sabendo pouco quando saí.

Por isso, no fim das contas Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida acaba sendo um filme feito por fãs, para os fãs dos Los Hermanos. Havia muitos deles no cinema – pessoas cantando junto, tão entusiasmadas como aquelas vistas na tela – e todos pareciam felizes de ter passado um tempo vendo um pouco da intimidade dos seus ídolos. A proposta do documentário era essa: a de ser uma festa para os já iniciados, uma pregação para os já convertidos, e como tal é bem sucedido. Mas quem ainda não conhece direito a banda e sua obra e gostaria de participar dessa festa, não encontrará neste documentário uma porta de entrada.