Agora que a saga dos vampiros kitsch acabou e não provocou nenhuma alteração no giro do planeta, mas deixou um lucro de milhões de dólares, a sua produtora, Summit Entertainment, quer saber como extrair mais da faixa etária pré-adolescente, a responsável pelo fenômeno.

A resposta veio rápida, poucos meses depois do último capítulo da série, Amanhecer – Parte II, e atende pelo nome de Dezesseis Luas. Tirado do romance Beautiful Creatures, das autoras Kami Garcia e Margaret Stohl, sem muita projeção, mas com a mesma expertise em cruzar romance açucarado, dilemas adolescentes e fantasia, a nova franquia tem elementos para agradar em cheio aos fãs de Crepúsculo, ainda que, em última análise, guarde mais diferenças do que semelhanças com a prima famosa (ainda bem).

Ethan Wate (Alden Ehrenreich, que fez um ótimo trabalho em Tetro, de Francis Ford Coppola) é um garoto frustrado na sua pacata cidadezinha de Gatlin, um pedaço humilde e conservador do Sul, cuja maior ocupação é reencenar uma batalha histórica ocorrida durante a Guerra Civil. Leitor voraz, interessado em escritores rebeldes (Charles Bukowski, de Mulheres, e Kurt Vonnegut, do esplêndido Matadouro 5, estão entre os seus favoritos – citações que não deixam de ser surpreendentes neste filme), Ethan sonha com novos ares, com uma vida menos aborrecida em outro lugar. Seus sonhos incluem também uma mulher misteriosa, que ele logo reconhece em Lena Duchannes (a novata Alice Englert, filha da diretora Jane Campion, de O Piano), recém-chegada à escola onde estuda, e cuja família tem a reputação de participar de rituais satânicos. Atraído de forma irresistível (claro), Ethan logo descobre que Lena é herdeira de um clã de feiticeiros, e que, em seu aniversário vindouro, a sua verdadeira natureza, boa ou má, irá se manifestar.

O mote pode ser bobo, mas a história é envolvente, e os protagonistas, especialmente Ethan, bem desenvolvidos. Dezesseis Luas conta, ainda, com um elenco de apoio extraordinário, ao menos no cartaz: ninguém menos que Jeremy Irons (Lolita, M. Butterfly), como o pai de Lena, Emma Thompson (Razão e Sensibilidade, Simplesmente Amor), como a vilã Sarafine, e Viola Davis (Dúvida, Histórias Cruzadas), como a protetora de Ethan, Amma.

Os problemas, porém, começam aí. Pena que Viola esteja no filme a passeio, e Jeremy e Emma, num aparente desprezo pelo material, tão caricatos – Emma, em particular, está pior do que o Michael Sheen de Crepúsculo. Alice, como Lena, também tem uma expressão vacilante, mais ou menos como o Robert Pattinson do primeiro filme da saga. Salvam-se, portanto, Ehrenreich, cuja participação nesta série pode atrapalhar a sua promissora carreira, e Irons, que, mesmo exagerado, consegue ser positivamente creepy. Emmy Rossum (O Fantasma da Ópera) está fraca, mas isso não é novidade.

O roteiro, se resolve mais a contento a sua salada de referências do que Crepúsculo (e com menos cafonice), também tem problemas. O maior deles é a longa espera por um clímax. Se o romance dos protagonistas começa bem, com fluidez e humor, o filme depois passa, passa, e as situações só se repetem – o aprendizado de Lena, então, é um martírio, para ela e para nós. Suas duas horas de duração, por causa disso, parecem três. Também se tornam mais interessantes os momentos em que Lena tem de lidar com a comunidade conservadora e hiperreligiosa (numa das melhores cenas, uma beauty da classe se recusa a ler o livro indicado pela professora, por ser malvisto pela igreja) do que os momentos de fantasia convencional – em especial o péssimo embate final entre Lena e Sarafine, sequência cujo diálogo é um caso sério.

Maus sinais para o diretor e roteirista Richard LaGravenese, que, como escritor, já adaptou brilhantemente material como A Princesinha (1995) e As Pontes de Madison (1995), e criou a trama de Pescador de Ilusões (1991). Desde Bem-Amada (1998), porém, que ele não emplaca uma grande história – as melhores, talvez, sejam Escritores da Liberdade (2007) e Água para Elefantes (2011), que não são grande coisa.

Mesmo assim, a trama cativa, os efeitos especiais são bem melhores que os da saga Crepúsculo, o casal protagonista também é melhor – Alden e Alice parecem bem mais à vontade em cena do que Kristen e Robert no primeiro filme da série, além do que são personagens que (ufa) não têm problemas com sexo – e a série cria melhores expectativas por suas sequências. É só ter um pouco de paciência com este aqui.

Nota: 7,0