A cada novo projeto, Leandra Leal se mostra uma artista mais completa. Seja no teatro, novelas, filmes, como atriz, cantora ou autora, ela mostra uma busca incansável por viver da arte diariamente. Desta vez, Leal foi além e se arriscou por trás das câmeras, presentando o cinema brasileiro com o belíssimo ‘Divinas Divas’.

É fato que os grandes nomes da história são as transformistas Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios. Juntas, elas foram as pioneiras dos shows de travesti, na Cinelândia da década de 1970, no Rio de Janeiro. Mais especificamente, no Teatro Rival, considerado um lar para o octeto, e protagonista de histórias que o filme, agora, se dispõe a contar.

É impossível falar deste seleto grupo sem adicionar um nono membro a ele, que, no caso, é Leandra Leal. Ciente do peso que seu nome e imagem adicionam à narrativa, Leal é parte da história e expõe os motivos pelos quais está profundamente envolvida com as transformistas, mas tem a sensibilidade de perceber que seu papel principal, aqui, é conduzir a história, e não contá-la. Por isso, é raro ouvirmos a voz da atriz global em entrevistas, ensaios e até na própria narração em off, durante o filme. Mais raras ainda (na verdade, quase inexistentes) são às vezes em que seu rosto aparece.

Já na cena inicial do documentário, a diretora estreante sinaliza sua intenção de dar acesso quase que irrestrito ao mundo dessas travestis. Com um plano fechado no rosto de uma delas, o foco varia ora mostrando em detalhes a textura da pele de uma drag na faixa de 70 anos, ora destacando o glitter que a cobre, nos apresentando à natureza multifacetada daquela personagem, que “veste” duas peles.

Aqui, é preciso falar do trabalho de David Pacheco como diretor de fotografia. Como a premissa da história gira em torno de um grande reencontro entre as transformistas, no palco icônico que as lançou para a fama em todo o Brasil, cenas de ensaios e bastidores se tornam inevitáveis. O que chama atenção nestes momentos (além dos diálogos em si, que são extremamente divertidos), é que Pacheco, e Leal, quase sempre filmam a interação das artistas à distância, entendendo que, mesmo diante das câmeras, se trata de um instante íntimo e particular. Outra prova disso é que uma espécie de cortina translúcida é colocada de forma a separar o telespectador das mulheres, sempre que estão conversando espontaneamente. Como se nos fosse permitido assistir à distância, mas sem interferir no processo.

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E que prazer é testemunhar este reencontro, mesmo que através da tela. À sua própria maneira, cada uma das divinas divas se deixa levar pela espontaneidade e vulnerabilidade para contar detalhes de suas trajetórias como transformistas. E, como não poderia deixar de ser, é nelas que o filme ganha força. Inteligentes, criativas e belas, elas parecem dominar não só a arte da transformação visual, mas também a de sentimentos, levando o público, no teatro ou cinema, a irem do riso ao choro em questão de segundos.

‘Divinas Divas’ é um filme elegante e bem conduzido, tanto em sua temática quanto em suas características técnicas. E que momento mais propício a uma assistida do que no mês do Orgulho LGBT? Apesar de estreante, Leandra Leal exibe confiança, maturidade e engajamento por trás das câmeras. Que este seja o primeiro de muitos grandes filmes de sua nova carreira.