O Cine Set inicia, nesta segunda-feira (11), a série de entrevistas com os candidatos ao Conselho Municipal de Cultural na cadeira de Cinema e Vídeo. Três postulantes disputam à vaga: Leonardo Costa, Paulo César Freire e Renan Carvalho. A ordem das entrevistas foi definida por sorteio e as perguntas base serão as mesmas para todos os candidatos.

A eleição acontecerá no dia 22 de maio na Biblioteca Municipal João Bosco Evangelista, no Centro, e o resultado será publicado na primeira semana de junho. A posse dos oito novos conselheiros (um por segmento artístico) acontece no dia 1º de julho:

Cine Set: Em primeiro lugar, gostaríamos conhecer o seu histórico. O que você fez, no audiovisual amazonense, que o credencia a ser conselheiro do setor?

Renan Carvalho: Eu passei a me envolver com o cinema a partir de 2010. Nesse ano, eu fiz a oficina da Amacine (Associação de Mídias Audiovisuais e Cinema do Amazonas) e comecei a fazer meus primeiros trabalhos como ator. Ao mesmo tempo, no primeiro filme que eu fiz, “O Detetive”, em 2010, eu também trabalhei como co-diretor, junto com o Bill Barroso. O curta foi exibido no Festival Um Amazonas, de filmes de um minuto. Também ganhei o Proarte 2013 com um roteiro meu, “Manjara”, que foi filmado e a gente já está finalizando. Estamos querendo lançá-lo ainda em maio, mas a expectativa é que, no máximo até junho, o filme esteja sendo exibido em Manaus.

Antes do cinema, porém, eu fazia teatro.  Comecei em 2007, como parte do grupo Fênix.

CS: Como você avalia a gestão do atual conselheiro, Zê Leão (também conhecido como Júnior Rodrigues) à frente do cargo?

RC: No momento, eu tenho procurado me inteirar da situação atual. Estou, inclusive, deixando o grupo de teatro, pra poder me dedicar inteiramente ao cinema. Falei com o Júnior, e ele me explicou a situação do Conselho, que o órgão sofreu um esvaziamento de poder, e pretendo agir para mudar isso. Ele admitiu que, no mandato dele, o Conselho não pôde fazer mais pelos realizadores do que ajudar em questões pontuais, como aconselhar sobre a participação em editais, e que, por motivos políticos, o órgão está infelizmente limitado em seu poder de atuação.

Eu soube, claro, do movimento dos realizadores em 2013, dos debates políticos e culturais. Mas, até agora, não vi o resultado concreto disso, se toda a mobilização resultou em algum benefício para a classe. Se eu fosse eleito, todas as minhas ações seriam no sentido de fazer avançar essas demandas, de tirar do papel o fundo setorial do audiovisual amazonense, de tentar atrair recursos federais. Nas minhas pesquisas, descobri que o audiovisual manauara não recebe incentivo federal porque, para o governo, Manaus não possui um movimento audiovisual significativo. É preciso mudar isso.

Mas, sinceramente, a minha pretensão maior é mostrar a cara, fazer a classe saber que tem mais uma pessoa disposta a lutar por ela, a fazer avançar as demandas dos realizadores. Acho, realmente, que seria uma surpresa muito grande se eu ganhasse o cargo nessa eleição, então minha maior expectativa é, realmente, aparecer, mostrar que estou a serviço dos realizadores locais.

CS: Quais as suas três principais propostas para o audiovisual amazonense?

RC: Bom, primeiro, fazer com que as demandas que vêm sendo discutidas pelos realizadores realmente se concretizem, de forma palpável, transformada em lei. Para isso, pretendo buscar apoio junto à classe política, principalmente o Legislativo, os vereadores e deputados.

Segundo, atrair o apoio de empresas para o cinema local. Pretendo propor que os empresários possam doar 2% do dinheiro de impostos para projetos de cultura. Acho realmente que seria viável, e traria incentivo para a região.

O terceiro seria criar meios para disseminar o cinema em municípios do interior, através do apoio a festivais e mostras. Estou estudando as ferramentas para viabilizar isso.

CS: Como você pretende estabelecer um canal de comunicação com a classe para a discussão de pautas e tomada de decisões?

RC: Uma das coisas que eu sempre senti falta, como produtor independente, é não saber quem procurar. Quando passei a me interessar por cinema, a fazer roteiros, filmes, etc., eu não tinha orientação nenhuma, nenhum lugar que oferecesse apoio, assistência a novos realizadores. A única coisa que o município oferece, e sem garantia nenhuma, são editais, uma coisa incerta, que, mesmo se o artista ganha, não tem segurança alguma quanto ao prazo, ou até mesmo se vai receber o recurso.

A minha ideia é criar um núcleo de apoio ao artista, e envolver a classe nisso, usar as redes sociais pra propor discussões, fazer convocações, lançar debates. Quero unir a classe nesse ideal de apoio mútuo, entre realizadores novos e experientes.

CS: Qual a sua opinião sobre produção realizada no Amazonas hoje em dia? Quais as maiores qualidades e os principais desafios a serem superados?

RC: Como alguém que participa ativamente dessa produção, posso dizer que o nosso cinema é guerreiro. Com todas as dificuldades, a falta de incentivo, de dinheiro, a gente tem, sim, grandes diretores, roteiristas, atores, gente com ideias maravilhosas. Fica complicado falar em qualidade, principalmente na comparação com outros estados, porque a gente tem bem menos recursos, mas vejo nossos realizadores participando de festivais nacionais e divulgando de forma brilhante o nome do Amazonas pelo resto do país. Claro, deveria ser bem mais gente, se nossos realizadores tivessem um acesso mais amplo a essas ferramentas, mas aí é o nosso papel, como classe, de seguir produzindo, se mobilizando e fazendo cinema de qualidade. Sem dúvida, o cinema amazonense é guerreiro.