O Cine Set prossegue com as entrevistas dos candidatos à Prefeitura de Manaus nas eleições 2020 com Marcelo Amil.  

O candidato do PC do B tenta chegar pela primeira vez à Prefeitura de Manaus. Esta é a segunda eleição que Marcelo Amil participa: em 2018, foi candidato a deputado federal pelo PMN, recebendo 1.392 votos.  

Conforme estabelecido junto a todas as chapas, as perguntas são idênticas para todos os candidatos e feitas na mesma ordem. 

 

Cine Set – Qual deve ser o papel do Estado no setor cultural e qual será o foco da sua gestão no setor? 

Marcelo Amil – O Estado tem o dever de fomentar a produção cultural por ela ser o nosso cartão de visita. Se você perguntar para qualquer pessoa na periferia de Manaus se conhece a Torre Eiffel ou a Estátua da Liberdade, elas vão saber que uma fica em Paris e a outra em Nova York. Foi por que ele foi lá? Não, essa é uma realidade distante da esmagadora maioria da nossa população, mas, o cinema entra em casa, sendo um cartão de visitas. Logo, ele precisa ser explorado com inteligência. 

No Brasil, tivemos uma experiência que rendeu bons frutos, o Polo Cinematográfico de Paulínia, no interior de São Paulo, mas, infelizmente, acabou perdendo o rumo por problemas de gestão. Uma das nossas ideias é justamente utilizar a produção cultural, especialmente, a cinematográfica com curtas e médias-metragens que cabem no orçamento da Prefeitura, para vender Manaus para o mundo.  

Fazer um edital para dar dinheiro ao produtor cinematográfico realizar um filme é um dos pontos que precisa ser efetivado. Tão importante quanto isso é garantir mecanismos para que essa obra circule pelo mundo, seja vista e difundida no maior número de salas possíveis. 

Cine Set – Como tornar a Lei Municipal de Incentivo à Cultura mais eficiente em sua proposta?  

Marcelo Amil – Saber quem faz cultura e ouvi-los é a forma mais eficiente. Um gestor municipal precisa assistir a produção cinematográfica local. No mínimo, ter um conhecimento histórico de saber quem foi o cineasta da selva. Conhecer também Michelle Andrews, a Keila (Serruya), o Dan (Leal) um cara que também faz cinema, fantástico. Isso vale para as artes cênicas, teatral, o pessoal do stand-up como o Wagner Mello, a cena musical de Manaus. Desta forma, o gestor irá conseguir entender melhor o que é a categoria e, assim, chamar para discutir. 

Não sou eu no gabinete na sede da Prefeitura, na Compensa, que vou saber exatamente o que precisa o Júnior Santos, músico de um barzinho no Vieiralves. Preciso ouvir quem está fazendo cultura, saber quem está lá na ponta do sistema levando arte para as pessoas, os quais conhecem os exatos problemas e as melhores soluções para a classe. 

A Prefeitura, muitas vezes, terá que fazer intermediação entre o que o artista considera necessário e o que a lei determina que seja possível. Depois, há uma conversa com a Câmara Municipal para se ajustar legalmente, implementando o que for factível e positivo para a categoria.  

Cine Set – Como a Prefeitura pode estimular a iniciativa privada a apoiar e investir na cultura local?  

Marcelo Amil – A Prefeitura já patrocina diversos eventos privados e acho que tem que patrocinar mesmo. Agora, ela precisa estabelecer critérios: por exemplo, se eu vou apoiar um grande show de um artista nacional, eu posso exigir que todo aparato midiático do evento seja 50% de mídia para o artista nacional e 50% para os artistas locais. Essas ferramentas são possíveis.  

Todos os eventos promovidos pelo município na nossa gestão terão setlists com artistas locais e vamos iniciar uma política de remuneração adequada de acordo com a média de cachê dos grandes artistas. Os profissionais da cultura amazonense não são menos talentosos do que os do Sul, Sudeste e Nordeste, mas, infelizmente, são menos valorizados.   

Essa valorização precisa partir inicialmente do poder público. 

Cine Set – Como a Prefeitura de Manaus pode ajudar a descentralizar as atividades culturais para que elas cheguem nas regiões periféricas, especialmente, nas zonas norte e leste da capital? 

Marcelo Amil – Temos um projeto no nosso plano de governo que são as grandes praças no molde da Praça das Águas, de Boa Vista. Se você hoje recebe um parente seu de fora e quer levá-lo para passear terá o Largo de São Sebastião, a Ponta Negra e acabou Manaus. 

Na Praça das Águas, lá tem o calçadão com diversas obras de arte – esculturas, chafariz com as águas dançantes – e, acima de tudo, músicos tocando ali, espetáculos periódicos e muitos artistas de rua.  

Pretendemos construir duas grandes praças na zona leste, duas grandes praças na zona norte, revitalizar a orla do Amarelinho e, principalmente, teremos vida cultural intensa. Todo dia haverá uma apresentação artística. Stand-up, teatro, música, exposição de artes plásticas, recital de poesias, exibição de um curta, média ou longa-metragem. A construção destes espaços exige simplesmente vontade do poder público em difundir a cultura. 

Tivemos fun-parks na época da Copa do Mundo. Todos iam para a Ponta Negra. Por que a Prefeitura não construiu espaços alternativos nas demais zonas e não prestigiou o artista local? Temos muita gente talentosa nesta terra com um violão debaixo do braço doido para tocar por aí. 

O Orçamento da Prefeitura para a cultura precisa ser revisto. É surreal se você pensar que esporte, cultura, turismo e lazer representam apenas 0,9% do Orçamento de R$ 6,2 bilhões. Vamos mudar isso: cultura é cartão de apresentação da cidade, é opção de lazer e representa qualidade de vida, especialmente, para a população das periferias de Manaus. 

Cine Set – Políticas de editais públicos para o setor cultural como, por exemplo, “Conexões Culturais” e arranjos regionais em parceria com a Ancine, serão mantidas? Se sim, como poderão ser aprimoradas? 

Marcelo Amil – Serão mantidos e aprimorados. Sempre digo que não vamos reinventar a roda. É a turma que está vivendo no dia a dia quem vai dizer os problemas para serem solucionados. Queremos acabar com esta filosofia da Prefeitura municipal de decidir de cima para baixo.  

Eu não quero sentar na cadeira de prefeito; eu quero estar sentado na mesa de reuniões onde será discutido o futuro de Manaus e uma destas reuniões acontecerá com os profissionais da cultura. A classe é uma turma trabalhadora, valorosa que poderia fazer qualquer outra coisa, mas, que continua insistindo por amor e por saber que, se não prosseguir, este espaço importante de manutenção da história de Manaus e da nossa identidade será perdido. 

Cine Set – Artistas amazonenses quando precisam realizar atividades formativas ou cursos, mesmo de curta duração, muitas vezes, precisam sair de Manaus para fazer estas atividades, pois, elas não existem por aqui, sendo inviável para muita gente. Como a Prefeitura pode contribuir neste aspecto formativo do setor? 

Marcelo Amil – É muito comum quando atletas vão disputar competições nacionais e internacionais que recebam apoio logístico com passagens e diárias. Isso passa por uma previsão anual. Podemos fazer este mesmo tipo de planejamento para a cultura através de um incremento no orçamento do município; há valores suficientes para isso. 

Deve haver um estímulo à criação de entidades de classe. A Prefeitura não pode tratar simplesmente com a pessoa física; a questão deve ser institucional. Vamos colocar à disposição a Ouvidoria para formalizar as entidades que desejam isso. Desta forma, estimulamos a criação destas pessoas jurídicas para que possam ter uma previsão orçamentária destas atividades de formação.  

Estudar é fundamental: a UEA tem cumprido um papel muito interessante com sua faculdade de artes cênicas, permitindo que haja seminários. Podemos, por exemplo, viabilizar convênios com a UEA pela Universidade Municipal de Manaus que pretendemos criar.  

Com isso, o que não pudermos trazer para a cidade viabilizamos a ida dos nossos artistas, enquanto o que for possível de vir para cá, a Prefeitura entra em campo buscando parcerias com a iniciativa privada. 

Cine Set – O senhor pretende ter uma secretaria ou fundação destinada exclusivamente à cultura ou ela estará associada junto a algum outro setor? Por quê? 

Marcelo Amil – Pretendo ter uma secretaria exclusiva de cultura.  

Vamos, aliás, recriar três secretarias que foram extintas: Cultura, Esporte e Incremento ao Turismo. Esses pilares interagem em determinados momentos e precisam de um estímulo efetivo.  

Cine Set – O senhor conhece alguma obra do cinema amazonense? Já assistiu? Tem algum que o senhor mais gosta? 

Marcelo Amil – Assisti muitos curtas-metragens, mas, os nomes não me recordo. Lembro de filmes da Keila Serruya e obras da Joyce Ipiranga que passavam no Amazon Sat. Sou um consumidor do produto local e esse amor que tenho pela produção artística manauara que eu quero implementar na gestão, utilizando o município para difundir estas obras. 

 

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