Há algo no olhar de Julianne Moore e boa sorte para você se quiser explicar o que é. Como Meryl Streep antes dela, Julianne Moore consegue a façanha de sumir nos papeis, mas o je ne sais quoi em seus olhos permanece. Outra coisa que as conecta é a versatilidade e a entrega com a qual se aventuram atuando, afinal de contas, quando foi a última vez em que você viu alguém interpretar uma personagem de Tchekov e uma atriz pornô?

Seu papel em Short Cuts – Cenas da Vida (1993) lhe colocou no mapa das estrelas em ascensão e nas graças de um dos auteurs mais consagrados do cinema estadunidense, Robert Altman, com quem ela voltou a trabalhar em A Fortuna de Cookie (1999). Como a vida tem dessas, ela se viu às voltas com o cineasta mais digno do legado de Altman: Paul Thomas Anderson.

julianne moore longe do paraíso todd haynesInterpretando Amber Waves, uma atriz que serve como uma espécie de matriarca na cena pornográfica californiana da década de 70, em Boogie Nights – Prazer Sem Limites (1997), Moore arrebatou público e crítica e conseguiu sua primeira indicação ao Oscar (atriz coadjuvante). Ela repetiu a parceria com o cineasta no épico Magnólia (1999), em que ela interpreta a esposa de um doente terminal. Também em 1999, ela estrelou Fim de Caso, filme pelo qual concorreu novamente ao Oscar.

Mas foi em suas colaborações com o diretor Todd Haynes que Moore pôde, livre das amarras de tempo impostas pelos elencos massivos de Anderson, trazer à tona sua habilidade para personagens femininas marcantes e idiossincráticas. Em A Salvo (1995), Moore interpreta uma dona de casa que se descobre alérgica a produtos de limpeza e começa a procurar tratamentos controversos e alternativos para a doença. Já em Longe do Paraíso (2002), a atriz encanta e assombra como uma mulher devastada pela revelação de que seu marido é gay, um papel escrito especificamente para ela por Haynes.

virada do jogo julianne moore hbo game change sarah palinEm ambos, bem como em As Horas (2002), Moore consegue estabelecer a figura da dona de casa americana como uma instituição à beira do colapso, algo que a Academia reconheceu como positivo: naquele ano, a atriz foi indicada ao Oscar tanto por Longe quanto por As Horas, se tornando a nona pessoa na história a ser indicada a dois Oscars de atuação no mesmo ano.

Poderíamos gastar o resto do texto elencando os papeis marcantes da atriz, tais como a única pessoa que enxerga em Ensaio Sobre a Cegueira (2008), uma mãe homossexual de um casal de adolescentes em Minhas Mães e Meu Pai (2010), como a ex-candidata a vice-presidente dos EUA, Sarah Palin, em Virada no Jogo (2012), e como uma problemática atriz em Mapas para as Estrelas (2014). Estes últimos dois papeis lhe renderam, inclusive, prêmios de Melhor Atriz no Globo de Ouro e no Festival de Cannes, respectivamente.

Concorrendo ao Oscar deste ano pelo retrato de uma professora com mal de Alzheimer em Para Sempre Alice (2014), Moore reitera sua importância em uma Hollywood constantemente atacada (e com razão) pelo pouco espaço dado a mulheres e pela escassez de papeis tridimensionais feitos para elas. A despeito de interpretar personagens que perderam sua identidade e seus objetivos, a figura forte que Moore é fora do celulóide está mais do que clara.

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