Refilmagens dentro do gênero terror não são uma coisa nova, nem precisam necessariamente representar sinônimo de filme ruim – que o digam os clássicos com Drácula, Frankenstein e o Lobisomem produzidos pelos estúdios Hammer durante os anos 1950 e 1960. O problema da mais recente onda de refilmagens é a visão indiscriminada de produtores e diretores, que parecem querer refilmar produções recentes e conhecidas do grande publico apenas para capitalizar sobre um título ou uma “marca” conhecida. É essa atitude mercantilista e preguiçosa que condena à morte muitos remakes. Porque, vamos ser sinceros, não há razão artística para se refilmar Poltergeist: O Fenômeno ou Carrie, A Estranha, quando suas versões originais ainda resistem tão bem – e isso só para ficar nos casos mais recentes. Se esses remakes existem, é apenas por causa do potencial de bilheteria que esses títulos possuem.

No fim das contas, refilmagens dentro do terror não são diferentes de refilmagens em outros gêneros: pode ser bom, pode ser ruim. Fazer um filme bom é difícil e dá trabalho, por isso a maioria acaba ficando ruim. Mesmo assim, algumas refilmagens conseguem manter sua dignidade e se sustentar por conta própria.

Nesta lista deixei de fora os dois remakes de terror mais badalados das ultimas décadas, e talvez os melhores de todos os tempos: O Enigma de Outro Mundo (1982) de John Carpenter, e A Mosca (1986) de David Cronenberg – mas se você ainda não os tiver visto, faça isso já! Preferi me concentrar em filmes que não são tão lembrados, mas que merecem ser descobertos (ou revistos).


Os Invasores de Corpos (1978)

Essa história de invasão alienígena na qual os humanos são substituídos por cópias sem emoção provenientes de plantas do espaço sideral já deu origem a quatro produções. A primeira, Vampiros de Almas, marcou época nos anos 1950 devido a alusões com a paranoia comunista. Nesta segunda versão, o diretor Philip Kaufman pega aquela estrutura e a história de filme B e transporta ambas para a San Francisco do final dos anos 1970. Prevendo a década da individualidade e do consumismo (os anos 1980), as pessoas-planta do filme de Kaufman parecem ter dado origem ao mundo em que vivemos hoje, e essa é a maior força da sua visão assustadora. E quem se esquece da cena final, o grito dado pelo ator Donald Sutherland?


Nosferatu, o Vampiro da Noite (1979)

Qualquer cineasta deve ter medo de mexer com um clássico, um ícone de uma era do cinema. Mas Werner Herzog não é do tipo que tem medo, e sua refilmagem do clássico mudo Nosferatu (1922) de F. W. Murnau, é mais do que apenas uma reinterpretação do mito do vampiro. Desde o início, com suas imagens de múmias ao som de um coral assustador, o filme parece ser uma coleção de imagens sobre a morte, com o vampiro interpretado por Klaus Kinski sendo o maior arauto dela. Com um ritmo que se assemelha a um pesadelo, Herzog cria, como de hábito, imagens grandiosas e até alguns momentos bizarros, como o destino final do personagem Harker, vivido por Bruno Ganz. E a sempre impressionante Isabelle Adjani representa a luz em meio à escuridão e aos ratos, centenas deles, que acompanham o conde Drácula na sua jornada.  Trata-se de um filme difícil de esquecer, e aqueles que o consideram como superior ao original merecem ter sua opinião respeitada.


A Marca da Pantera (1982)

O filme original, Sangue de Pantera, é um clássico do não visto: o produtor Val Lewton deu origem a uma estética nos 1940 que privilegiava aquilo que o espectador não via, e deixava sua imaginação trabalhar com sons e sombras enormes nos enquadramentos – neste caso, a sombra era de um enorme e perigoso felino que assombrava a protagonista. O diretor do remake, o eterno rebelde Paul Schrader, também usa sombras, mas de modo geral seu filme é dominado pela estética dos anos 1980. Mesmo assim, surpreendentemente ele permanece efetivo. É a estranha história da jovem Irene (Nastassja Kinski, lindíssima), cujo amadurecimento sexual a transformará, em mais de um sentido. É o tipo de produção com a coragem de poucos remakes: a de pegar apenas a ideia básica do original e explorá-la sob uma nova visão. Merece ser redescoberto, e para melhorar ainda mais a experiência, ainda temos aquela canção-tema matadora do David Bowie


A Bolha Assassina (1988)

A primeira versão da Bolha, o organismo que vem do espaço e começa a digerir os habitantes de uma pequena cidade americana, é um dos mais famosos filmes B da história do cinema americano. Esse remake foi dirigido pelo competente Chuck Russell e roteirizado por Frank Darabont, e atualiza a trama ao relacionar a criação da bolha aos militares que aparecem no decorrer da história para salvar o dia (ou não). O filme é divertido e com bons (e nojentos) efeitos de maquiagem que ainda se sustentam. Diversão garantida por uma hora e meia e, de novo, mais um remake que pode ser considerado como superior ao original.


Viagem Maldita (2006)

Os dois primeiros filmes de Wes Craven, Aniversário Macabro (1972) e Quadrilha de Sádicos (1977), causaram polêmica pelas cenas fortes e por trazerem uma forte sensação de pesadelo para dentro das vidas de personagens que parecem viver o “sonho americano”. Viagem Maldita é a refilmagem de Quadrilha, e mostra o confronto terrível entre duas famílias: uma, a perfeita representação familiar; e a outra, os deformados criados pelos testes atômicos e que vivem no deserto. A refilmagem, dirigida por Alexandre Aja, tem mais suspense e tensão que o antigo, e com atores melhores. O próprio Craven, um dos produtores do remake, se mostrou entusiástico sobre o resultado final.

MENÇÕES HONROSAS:

Refilmagens de trabalhos estrangeiros, de vez em quando, também rendem bons trabalhos. O Chamado (2002) está no mesmo nível do Ringu japonês, e Deixe-me Entrar (2010) é um remake digno do sensacional filme sueco de vampiro Deixe Ela Entrar (2008). Madrugada dos Mortos (2004) não tem a ironia do original de George Romero e é basicamente apenas uma correria, mas é um filme com “mordida”, com certeza. E sou um defensor do remake sangrento de A Morte do Demônio, lançado em 2013.