Cordisburgo ficou conhecida nacionalmente por ser a terra natal do escritor Guimarães Rosa. Recentemente, a cidade mineira, distante 96,9km em linha reta de Belo Horizonte, virou cenário de uma pentalogia de outra cria da terra, o diretor Marco Antônio Pereira. Com cinco Kikitos na estante pelos elogiados “A Retirada para um Coração Bruto” e “Teoria Sobre um Planeta Estranho”, o cineasta teve a honra de abrir os trabalhos da mostra competitiva de curtas-metragens do Festival de Gramado 2020 com o belo “4 Bilhões de Infinitos”.
Homenagem ao lúdico e ao cinema, o curta de quase 15 minutos acompanha uma família pobre formada por uma mãe (Aparecida Gomes) e os dois filhos (Adalberto e Ana Júlia Gomes). Após a morte do patriarca, eles lutam para sobreviver em uma casa sem luz elétrica. Ao mesmo tempo, os irmãos seguem sonhadores e com desejos de um futuro melhor.
Por mais que tudo o que cerca os personagens seja um prato cheio para um discurso sociopolítico direto e contestador tamanha a situação de miséria daquela família, Marco Antônio segue a linha dos filmes anteriores ao colocar o foco no naturalismo intimista daquelas pessoas. São as pequenas falas, os pequenos gestos, os olhares perdidos, os agradecimentos repletos de pureza e gratidão que catalisam e movem o universo de “4 Bilhões de Infinitos”.
E é justamente daí que brota a riqueza do curta, pois, residem, simultaneamente, a melancolia proporcionada pela consciência da situação e a falta de perspectiva de avanços sociais reais em contraste com o afeto e a esperança de dias melhores, armas cruciais para se seguir adiante. Dentro deste cenário, “4 Bilhões de Infinitos” observa na arte, no lúdico e, consequentemente, no cinema, uma forma de resistência, um espaço de criação, imaginação e senso de coletividade. Como diz Adalberto, “televisão e celular é um negócio solitário; no cinema, a gente ri, chora e se diverte juntos”.
Em um mundo cada diz mais individualizado, fechado em suas bolhas, em que até o cinema busca caminhos cada vez mais solitários de consumo, “4 Bilhões de Infinitos” demonstra com muita singeleza o quanto necessitamos uns dos outros para manter nossos sonhos e esperanças vivos e, quem sabe, mudar a chave de um mundo doente.