Quando se fala na rivalidade entre Joan Crawford e Bette Davis, um episódio vem logo à cabeça: a cerimônia do Oscar de 1963, quando a primeira, que nem indicada estava, apareceu para receber o prêmio de melhor atriz como uma afronta à segunda. Logo, a expectativa era grande para ver como “Feud” iria recriar essa torta de climão. O resultado foi positivo, com, mais uma vez, as atuações de Jessica Lange e Susan Sarandon como as cerejas do bolo.

O primeiro capítulo de “Feud” já dava a deixa para este, com a exposição dos Oscars vencidos pelas rivais em diferentes momentos da estreia da série. Se não deu para entender, a Olivia de Havilland de Catherine Zeta-Jones sintetizou neste “And The Winner Is…” a importância da premiação e como ela é almejada pelas atrizes. Agora, a rivalidade de de Havilland com a irmã, Joan Fontaine, foi lembrada de forma mais clara, a serviço do episódio. “É difícil imaginar a pressão que o Oscar coloca em alguém”, diz Olivia, ao lembrar a ignorada que deu na irmã ao vencer sua primeira estatueta, em 1947.

A frase dita pela eterna Melanie Wilkes de “…E o Vento Levou” resume bem os ânimos de Joan e Bette nos momentos que antecederam o “E a vencedora é…” dito por Maximilian Schell. Para ambas, segurar aquela estatueta mais uma vez significava mais alguns minutos de um prestígio que se dissipava a cada momento.

O episódio 5 de “Feud” foi um deleite para os cinéfilos, a começar pela sequência inicial, que apresenta cada uma das cinco indicadas a melhor atriz, com direito a uma esperta introdução a Katharine Hepburn, a reclusa atriz que, à época, ainda tinha “apenas” dois Oscars. Bette Davis, que almejava ser a primeira a ganhar três estatuetas (Hepburn acabou conseguindo esse feito e venceu uma quarta), aparece como a favorita e, já nos primeiros minutos, ironiza a esnobada de Crawford aos jornalistas. Guerra é guerra.

Em sua mansão, Crawford confabula com Hedda Hopper para que Davis não vença. Ligações são feitas, até que a colunista instiga a atriz a tentar convencer as outras concorrentes a não irem ao Oscar para que ela, tão solidária, aceite o prêmio em nome delas. É difícil entender por que Geraldine Page, por exemplo, aceitou isso, mas a mágica da atuação de Sarah Paulson, em uma rápida aparição na série, torna crível a pena e o alívio sentidos ao ouvir os chorumes de Crawford. Trívia: Page só viria a ganhar o Oscar nos anos 1980, depois de várias indicações. Amy Adams, você está lendo isso?

Com Anne Bancroft temos mais uma cena que nos leva ao âmago do desespero de Joan. Idêntica à atriz, Serinda Swan faz um trabalho eficiente, mas não é mais que uma escada para que Jessica Lange tenha um de seus melhores momentos na série. Sem falar nada, apenas com o olhar, Lange faz o espectador entender toda a necessidade de aprovação e o medo do ostracismo sentidos por Crawford. É como se ela pensasse no quão cruel é que o prêmio vá para uma atriz que parece não estar nem aí para a honraria. Esse zelo às tradições hollywoodianas é pontuado ainda em outra cena com Hopper, onde a colunista explica que prefere Joan a Davis (e a Katharine Hepburn) porque ela abraça o tapete vermelho em vez de se esconder dele. Nos dias de hoje, uma atriz que “joga o jogo” como Crawford teria muito mais chances em detrimento de estrelas que nem fazem questão de aparecer na premiação.

E quando finalmente chegamos ao Oscar, vemos a direção de Ryan Murphy se divertir com a extravagância de Joan. O momento mais brilhante deste episódio de “Feud” não é o resultado da categoria de melhor atriz, mas sim o que vem antes dele. Um plano sequência com Joan e David Lean (que acabara de ser premiado por ‘Lawrence da Arábia’) nos leva aos bastidores da premiação, ao passo que a atriz age como uma anfitriã

Uma atriz que nem indicada está faz questão de fazer o que quer nos camarins do Oscar, com direito a uma entourage liderada pela fiel Mamacita e, claro, um carregamento de Pepsi.

Novamente, Murphy aproveita do escopo do episódio para fazer um desfile de estrelas. Além dos já citados Page, Bacroft, de Havilland, Schell e Lean, temos ainda um idêntico Gregory Peck, a prodígio Patty Duke e o diretor George Cukor (de ‘My Fair Lady’, entre outros clássicos), companhia de Crawford na premiação e o único a dizer a ela que subir ao palco para provocar Davis era algo doloroso.

Doloroso para ambas, vale dizer. “Feud” ainda tem mais três episódios, onde veremos todo o desenvolvimento dessa rivalidade e o que se seguiu após o Oscar. No entanto, para ambas, aquela premiação em 1963 era mais que uma mera celebração da indústria. Era a última chance de dizer ao mundo um ‘oi, ainda estou aqui’. E elas estavam, mas a indústria estava em mudança. E caprichos dignos da era dos estúdios como o cunhado por Crawford no palco do Oscar não seriam perdoados.