Quando se fala em Sebastião Salgado, logo vem à cabeça a genialidade e a sensibilidade do fotógrafo brasileiro, considerado um dos melhores do mundo. Em 2014, o olhar único de Salgado ganhou um novo ângulo, com a estreia do documentário “O Sal da Terra”, co-dirigido por seu filho, Juliano, e por um dos mestres da não-ficção, Wim Wenders.

O Cine SET foi conferir o filme, claro. A crítica da nossa equipe, vocês leem durante a semana. Mas e os fotógrafos daqui? O que acharam? Pensando nisso, procuramos quatro artistas das lentes e das luzes para saber o impacto de Salgado em suas carreiras e, claro, como avaliam o filme.

Alex Pazuello, sobre "O Sal da Terra"

Alex Pazuello

“Eu vi o documentário e achei muito bom e enriquecedor, além de ser inspirador para mim. A produção reforçou aquele dito popular, ‘por trás de um grande homem tem sempre uma grande mulher’.

Como fotógrafo, sempre tive o Salgado como fonte inspiradora. Ele é a grande referência brasileira lá fora não só como o grande fotógrafo que é, mas também pelo grande ser humano que é. Ele tem uma influência muito forte no meu trabalho. Inclusive estou fazendo um projeto onde retrato trabalhadores diversos na área portuária e dos mercados em preto-e-branco. O nome do em projeto é ‘Invisíveis’ e já tem seis anos.

Não dá para destacar uma parte apenas do documentário. Ele, como um todo, se encaixa. Além da fotografia genial do filme, eu saí da sala bastante inquieto e com a certeza que escolhi a profissão certa”.

Alberto César Araújo

Alberto César Araújo

“Assisti à estreia de ‘O Sal da Terra’ em uma sala de cinema de shopping quase vazia. Eu e um casal na sala VIP. Pena, porque depois de um movimento nas redes sociais para que o filme fosse exibido aqui, somente três pessoas assistiram ao filme. Podemos pensar sobre o porquê disso: ingresso caro? Trânsito maluco, com engarrafamentos intermináveis e local contramão? Medo das pessoas sair pela falta de segurança nas ruas? Será? Ou será que o gênero (documentário) não combina com as salas comerciais? A cidade não tem público para esse tipo de filme?

Bem, o que dizer de alguém que influenciou pelo menos três gerações de fotógrafos? O filme é sobre o fotógrafo, Salgado, de sal da terra, aos sais do suor dos trabalhadores, das dores dos famintos, aos sais de prata de seus filmes, aos milhões de pixels em suas nova fase digital, às duas milhões de árvores que seu instituto plantou na mata Atlântica, impactando comunidades e o microclima da região.

O filme serve para constatar, ratificar tudo que já se disse sobre Tião, como é conhecido por seus amigos. Frequentemente criticado por explorar estética e economicamente a miséria humana. Mas, que se redime, se é que isto é  necessário, diante de uma obra gigantesca, do tamanho do planeta, onde sua influência no mundo da fotografia se espalha como água, entra em todos os setores da sociedade e nos enche de prazer, curiosidade, nos chama para uma reflexão. Além, é claro de uma verdadeira aula para o gerenciamento de carreiras de qualquer fotógrafo. Suas habilidades econômicas, sua relação de trabalho com a esposa Lélia, nos fazem crer que é possível realizar sonhos, fazendo o que se ama e ao mesmo tempo se realizar em todos os sentidos.

Ver suas imagens na telona é uma experiência estética profunda. Se em suas exposições ficamos encantados com a qualidade das ampliações, onde cada detalhe é mostrado e percebido de forma sutil e sofisticado. No cinema o impacto é imediato, um grito pela humanidade, um berro pela natureza”.

Chico Batata

Chico Batata

“Assistindo o filme ‘O Sal da Terra’, você tem a impressão de estar acompanhando uma enciclopédia viva do registro dos acontecimentos das causas sociais no mundo e acompanhados em vários trabalhos de Sebastião Salgado, que, por acaso, saindo de uma vida universitária e indo para a França, se encanta com o mundo das imagens e envereda por esse universo em Londres, onde inicia-se  a composição de registros em causas sociais, vindo a rodar o mundo com  belas revelações em preto & branco, dando mais dramaticidade e aos mesmo tempo nostalgia em suas fotos.

Nestas imagens ele registra as grandes transformações do mundo, captando  o cotidiano, ora a miséria, a  fome, as guerras e as atrocidades nos continentes, onde rendeu-lhe vários projetos para alertar o mundo sobre estas catástrofes sociais, vivenciando o dia-a-dia sub-humano de vários povos, buscando na sua essência da composição de suas imagens o retrato fiel do mundo. Em um de seus trabalhos, esteve em Parintins, quando tive o prazer de trabalhar com ele”.

Zamith Filho

Zamith Filho

“‘O Sal da Terra’ é um documentário para aqueles que querem ir além da fotografia, aqueles que gostam de conhecer um pouco a história da foto e ainda a trajetória de um dos melhores fotógrafos de todos os tempos. Sim, sou profundo admirador das obras de Sebastião Salgando. Suas fotos emocionam, mexem, te tiram do lugar comum e nos levam à reflexão.

Sei que é um tanto complicado contar uma história de 70 anos em duas horas, mas senti falta de algumas passagens importantes da vida de Sebastião Salgado. Como a transição do filme para o digital, que ocorreu justamente no seu último projeto, chamado ‘Gênesis’. Senti falta também do trabalho dele enquanto colaborador da Agência Magnum, que mostrou as fotos dele da tentativa de assassinato do presidente norte-americano Ronald Reagan ao mundo e consequente reconhecimento mundial. Me encantou as cenas em que Wim Wenders foge da ‘entrevista’ tradicional de documentário e coloca Salgado à nossa frente, direto, cara-a-cara, olho-no-olho e entre nós suas fotos. Com descrição da composição e a história da foto. Embora Lélia Wanick Salgado apareça muito pouco no filme, Salgado sempre faz o devido reconhecimento, ela é o grande alicerce da dupla. Cabe a ela a organização das obras e exposições, diagramação dos livros e muito mais.

Salgado está, ainda em vida, tentando deixar um legado das suas obras e do seu personagem, sinto um tom de despedida no ar,  mas o mais importante no filme é sua mensagem de esperança, mesmo depois de ver tantas catástrofes e degradação humana, Salgado viu em ‘Gênesis’ a possibilidade de salvação, de que é possível transformamos o mundo. Basta querer ser O SAL DA TERRA”.