No início desse terceiro episódio, “The Queen’s Justice“, Jon Snow (Kit Harrington) comprovou que ainda tem muita coisa estranha por ver em sua (segunda) vida, como bem comprovou com o voo rasante dos dragões de Daenerys (Emilia Clarke) ao chegar em Dragonstone. Nada disso tirou o foco do Rei do Norte quanto ao objetivo da visita dele: lutar contra os White Walkers com o máximo de gente (viva) possível. O embate de poder, autoridade e a sombra das desavenças e traições entre Targaryens e Starks no passado por pouco não desestabilizaram o encontro. A capacidade de comunicação e o modo de colocar-se perante os demais líderes é um tema que, mais que nunca, vem sendo explorado na série, e como estamos já quase no meio da temporada, podemos tomar como garantido que é um dos mais centrais esse ano.

É o que comprovamos também com Sansa em Winterfell. Cada vez mais segura de seu papel prático e simbólico no Norte, ela tem sabido lidar com as atividades cotidianas de liderança, mas a proximidade com o Mindinho, para variar, permanece dúbia – será ele um mentor ou uma ameaça? A humanidade de Sansa parece preservada por enquanto, como bem lembramos no breve, mas tocante reencontro entre ela e Bran (Isaac Hempstead-Wright, cada vez mais sinistro), quando ele afirma ter visto imagens mentais do casamento de Sansa com o finado Ramsay Bolton (Iwan Rheon).

Enquanto isso, a misoginia rolou solta em King’s Landing, com a chegada de Euron (Johan Philip Asbæk) e suas prisioneiras, Ellaria (Indira Varma), Tyene (Rosabell Laurenti Sellers) e Yara (Gemma Whelan), expostas pelas ruas da cidade e sendo chamadas de “vadias” pelo povo de Westeros. Pelo menos, esse ódio às mulheres vem sendo usado de maneira proeminente pelos personagens que naturalmente acabamos apenas odiando, o que é o caso do Greyjoy, ao contrário do que víamos algumas temporadas atrás, quando nosso favorito Tyrion (Peter Dinklage) soltava algumas falas nada espirituosas com o mesmo teor (não que ele não faça mais isso – afinal, é uma fantasia medieval da HBO –, mas agora é em menor escala).

Embora breve, a conversa entre Euron e Jaime (Nikolaj Coster Waldau, meio nessa temporada) acabou retomando também outro tópico caro à série: a função espetacular dos rituais de punição – o famoso circo do duo “pão e circo”. Esse ponto se junta a um mais amplo, e que demarca a principal diferença entre Daenerys e Cersei: a primeira pode saber como poucos a arte de dominar, mas a última sabe como manter o poder que conquista através do temor, vide a conversa com o representante do Banco de Braavos. Ao pontuarem o papel do dinheiro no andamento da guerra – um paralelo cruel com nossa realidade – Cersei (Lena Headey) talvez tenha feito seu movimento mais inteligente até agora ao frisar o papel desestruturador dos ideais revolucionários defendidos por Daenerys, incluindo-se aí o desejo de acabar com a escravidão. A Lannister trouxe à tona o medo da mudança ao banqueiro e, principalmente, a ameaça de um mundo no qual a vida humana teria mais valor que moedas de ouro – outro importante paralelo com o mundo real.

Cada vez mais implacável e vitoriosa, não é por acaso que Cersei já está ganhando até admiradoras, como a serva que foi aos aposentos da rainha em dada cena, apresentando roupas e corte de cabelo similares aos da monarca (e ainda a pegando no flagra de um after de sexo muito errado com Jaime). É um recurso já utilizado pela série anteriormente, quando as jovens imitavam a outrora popular Margaery (Natalie Dormer), por exemplo, e que sempre funcionou como demarcação de influência no reino.

Porém, destaca-se que a vingança continua sendo, em grande medida, a força motora de Cersei, principalmente na escolha pela tortura psicológica à prisioneira Ellaria, sentenciada a testemunhar a lenta morte da filha por envenenamento; pelo sacrifício estratégico de Casterly Rock; e pelo desejo de torturar Olenna (Diana Rigg) até a morte no ataque à High Garden – dissuadido por Jaime, que descobre finalmente quem arquitetou a morte do filho, Joffrey (Jack Gleeson). Aliás, que alívio essa morte minimamente digna à última líder dos Tyrell, assim como sua cena de encerramento atrevida e tocante ao mesmo tempo.

Como garantia de continuidade de um plot importante, mas não necessariamente muito exposto até agora, temos o fato de que Jon conseguiu o Vidro de Dragão ao negociar com Daenerys. Aliando isso à habilidade cada vez mais clara de Samwell (John Bradley-West) de decifrar os antigos conhecimentos escondidos na Cidadela – o que incluiu a cura de Jorah (Iain Glen) – podemos esperar uma luta árdua, mas não tão absurdamente desigual, contra os White Walkers daqui para o final da série.

No final das contas, a justiça da rainha que dá título ao episódio ainda se volta para os conflitos no Sul e é um termo vago e multifacetado: tanto para Cersei quanto para Daenerys, ele se confunde com vingança e com a necessidade de continuar em frente apesar de todas as perdas.