Em uma noite marcada por críticas e até piadas sobre Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, a atriz Meryl Streep foi responsável por um dos momentos mais emocionantes do Globo de Ouro 2017.

Homenageada com o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto de sua carreira, ela subiu ao palco para um discurso duro sobre a diversidade que Hollywood representa, a responsabilidade dos artistas e a irresponsabilidade do futuro mandatário do país mais poderoso do mundo.

“Obrigada, Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood. Vocês e todos nós nessa sala pertencemos aos segmentos mais vilanizados na sociedade americana hoje. Pensem nisso. Hollywood, estrangeiros e a imprensa. Mas quem somos nós? E o que é Hollywood? Só um bando de pessoas de outros lugares. Eu nasci, fui criada e educada nas escolas públicas de Nova Jersey; Viola nasceu em uma cabana em uma plantação na Carolina do Sul; Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por uma mãe solteira no Brooklyn”, lembrou ela, com a voz quase sumindo, antes de citar outros artistas que vieram de partes diferentes do mundo, como Natalie Portman (Israel) e Ryan Gosling (Canadá).

E continuou, referindo-se aos planos de Trump de expulsar estrangeiros do país: “Hollywood está cheia de forasteiros e estrangeiros, e se expulsarmos todos eles, vocês não vão ter nada para assistir além de futebol americano e Artes Marciais Mistas (MMA), que, aliás, não são arte”.

Em seguida, ela se referiu ainda mais diretamente a Trump. Leia o restante do discurso de Meryl, que ainda lembrou a morte de Carrie Fisher, e assista ao vídeo abaixo:

O único trabalho de um ator é entrar nas vidas de pessoas que são diferentes de nós e fazer vocês sentirem como é isso. E tivemos muitas interpretações poderosas esse ano que fizeram exatamente isso. Trabalhos de tirar o fôlego e cheios de compaixão. Mas houve uma interpretação esse ano que me deixou atordoada, afundou suas garras no meu coração, mas não porque fosse boa –não havia nada de bom nela. Mas foi eficaz e cumpriu sua função. Fez seu público-alvo rir e colocar as garras de fora. Foi aquele momento em que a pessoa pedindo para sentar no lugar mais respeitado do nosso país, imitou um repórter deficiente, alguém a quem ele [Trump] superava em privilégio, poder e capacidade de revidar. Partiu meu coração quando vi isso, e ainda não consegui tirar da minha cabeça, porque não era um filme.

E esse instinto para humilhar, quando é demonstrado por uma figura pública, por alguém poderoso, afeta as vidas de todo mundo, porque dá permissão para que outras pessoas façam o mesmo. Desrespeito convida a mais desrespeito, violência incita violência. Quando os poderosos usam sua posição para fazer bullying, nós todos perdemos.

O que me traz à imprensa. Precisamos que uma imprensa de princípios que cobre os poderosos, que os condene por cada ofensa. Foi para isso que nossos fundadores garantiram liberdade à imprensa em nossa Constituição. Então eu somente peço que a famosa e afluente Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood e todos em nossa comunidade para apoiar um comitê para apoiar jornalistas, porque vamos precisar deles agora e eles vão precisar de nós para proteger a verdade.

Uma vez em que eu estava no set, reclamando sobre algo como trabalhar na hora do jantar ou longas horas de filmagem, Tommy Lee Jones disse para mim: ‘Não é um privilégio enorme, Meryl, ser ator?’. Sim, é, e temos que lembrar uns aos outros do privilégio e responsabilidade do ato de empatia. Devemos ficar muito orgulhosos do trabalho que Hollywood honra esta noite.

Como minha amiga, a querida falecida princesa Leia me disse uma vez: ‘Pegue seu coração partido e transforme em arte’. Obrigada.

do site UOL