A fixação de Adam Sandler por vômitos, banheiros, mulheres gostosas ou gordas, animais transando, bundas, peidos, pessoas idosas sendo arremessadas ao infinito não chega ao fim. “Juntos e Misturados”, por exemplo, começa com uma cena que foca as pernas de uma mulher sentada no vaso sanitário. Pouco mais de três minutos depois, a mocinha cospe e baba toda uma sopa de cebolas engolida às pressas para livrá-la do sabor picante de um molho em pleno restaurante. Ela está acompanhada do mocinho que utiliza a roupa da empresa onde trabalha intitulada Dick (Google Tradutor, por favor.

O público se acostumou com situações do tipo em obras estreladas pelo comediante: “Gente Grande 1 e 2”, “Cada um Tem a Gêmea Que Merece”, “Esposa de Mentirinha”, “Zohan” e “Eu os Declaro Marido e Larry!”. Se antes cada obra nova de Sandler era um sucesso absoluto, agora a fórmula parece cansar. Essa nova parceria com Drew Barrymore recém-lançada no Brasil rendeu apenas US$ 44 milhões nos EUA, valores bem reduzidos para quem antes conseguia US$ 131 milhões como aconteceu em “Tratamento de Choque” (2003).

Triste é perceber que “Juntos e Misturados” poderia render uma comédia divertida sem apelar para o humor grosseiro. Longe de qualquer originalidade, o filme traz a história de Jim (Sandler), viúvo e pai solteiro de três meninas, e Lauren (Barrymore), divorciada e mãe de dois rapazes. Depois de um encontro às cegas mal sucedido, ambos viajam juntos com as respectivas famílias para a África do Sul e acabam se apaixonando.

As fragilidades dos protagonistas com seus dramas pessoais (Jim perdeu a mulher após um câncer e nunca mais teve algum envolvimento amoroso) e problemas em lidar com os filhos (Lauren não consegue ajudar o filho mais novo a ganhar confiança) poderiam render uma comédia com tons emocionais semelhante a “Como Se Fosse a Primeira Vez”, melhor filme protagonizado pela dupla de estrelas. Apesar do talento limitado, Barrymore e Sandler são atores carismáticos, o que ajuda o público a criar elo afetivo com o que se passa na tela. O roteiro, infelizmente, prefere criar estereótipos (ele = inconveniente / ela = chata / os filhos = estranhos) para reforçar as diferenças, criando soluções óbvias para cada conflito.

Daí para o humor chulo se torna consequência. Tem loura decotada de voz infantil fazendo “Shammy, Shammy” com os seios, dancinha no meio do jogo de basquete para que uma garota mostre sua feminilidade, dois rinocerontes transando, brincadeiras com os diversos tipos de absorventes, língua de girafa interrompendo momento romântico do casal adolescente. Se a visão folclórica da África multicolorida encosta, muitas vezes, no preconceito ao trazer um coral de negros cantando feito tontos, a necessidade de explicações de piadas – Jim explicar a referência de chamar a filha de ESPN com uso da vinheta do Sportscenter – evidenciam a pobreza do humor exibido na tela.

Nem a presença de Shaquille O’Neill e poucas tiradas boas (a comparação do filho de Lauren com Frodo) salvam “Juntos e Misturados” da ruindade. Hora de Adam Sandler avaliar se o repertório além da piada de banheiro pode ser uma saída para a falta de criatividade.

NOTA: 5,5