Se existe um cineasta capaz de fazer o público passar por uma montanha-russa, é o senhor M. Night Shyamalan. E quando falo isso, não estou me referindo à sua capacidade de criar suspenses de roer as unhas. Falo mesmo dos altos e baixos da sua carreira. Nesse quesito, é realmente um cineasta raro: Quando ele acertou, Shyamalan voou perto do Sol como Ícaro; quando errou, despencou e deu com a bunda no chão.

Em homenagem a este diretor de cinema tão, digamos, “peculiar”, e também aproveitando o seu retorno às graças do público (em termos de bilheteria) com o lançamento de Fragmentado, vamos agora relembrar os melhores momentos da sua carreira, e também o seu pior.

VAMOS À LISTA

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5º. Lugar: A Vila (2004)

A Vila não é perfeito – afinal, para comprarmos o “plot twist”, a reviravolta de roteiro no final que se tornou marca registrada do diretor indiano, é necessária uma boa dose de suspensão da descrença. Além disso, o filme já apontava os primeiros sinais de preocupação com Shyamalan – leia-se, o seu ego, afinal neste filme ele é essencialmente o “plot twist”, é quando ele aparece que surge a reviravolta. Mas a história de uma comunidade dominada pelo medo vem ganhando novas ressonâncias ao longo do tempo. Cada vez mais, A Vila vem parecendo menos um filme de época e mais uma alegoria dos nossos tempos – E há um duplo sentido nesse meu comentário, entendedores entenderão.


4º. Lugar: A Visita (2015)

Depois de vários tiros no pé, Shyamalan enfim reencontrou seu rumo na carreira ao aceitar uma ajudinha do produtor Jason Blum, um dos grandes nomes do terror da Hollywood atual. Com A Visita, o cineasta voltou a entregar um produto focado e interessante, um exercício de suspense que não perdeu a dignidade nem ao apelar para o formato found-footage. Até o humor, coisa que nos filmes anteriores de Shyamalan operava meio no esquema tentativa-e-erro, funciona neste. Ainda não foi o grande filme que esperávamos dele fazia tempo, mas espera-se que A Visita tenha representado o recomeço de uma carreira.

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3º. Lugar: Sinais (2002)

Algumas pessoas desdenham de Sinais por causa daquele negócio dos alienígenas serem alérgicos à água. Bem, se você joga o filme no lixo por causa disso, é prerrogativa sua, mas o exercício de suspense em Sinais é tão poderoso, e a trama em si tão alegórica, que eu simplesmente não consigo fazê-lo. Ainda é provavelmente o mais bem dirigido trabalho do diretor: a câmera está no lugar certo em todos os enquadramentos, as atuações são ótimas – é o melhor momento de Mel Gibson como ator – e o indiano conduz a tensão como um maestro.

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2º. Lugar: O Sexto Sentido (1999)

O suspense que lançou o diretor como “o novo Hitchcock” ou “o novo Spielberg” sobrevive às revisões: Todo mundo se lembra daquele final, mas o filme resiste a uma segunda, terceira, quarta, várias assistidas. Tudo porque Shyamalan acerta especialmente no núcleo emocional da história, e emoções não envelhecem ou perdem a novidade. Quando O Sexto Sentido estreou, presenciamos a chegada de um cineasta maduro e 100% seguro de si. Por isso mesmo é difícil aceitar o que aconteceu com ele alguns filmes depois.

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1º. Lugar: Corpo Fechado (2000)

Lançado depois do impacto de O Sexto Sentido, Corpo Fechado deixou uma parcela do público coçando a cabeça quando saiu. Hoje, com 17 anos de exposição aos conceitos de super-heróis e histórias em quadrinhos nos blockbusters, fica claro como Shyamalan era um cineasta à frente de seu tempo naquela época. Seu filme na verdade não é tanto sobre superpoderes, isso é apenas o pano de fundo. Ele é realmente sobre a história mais velha de todas, a de um personagem encontrando seu lugar no mundo, mesmo que a um alto custo. Trata-se de outro trabalho filmado de maneira exemplar e segura, e com uma história e visão ainda mais especiais que as de O Sexto Sentido. Um produto de um artista em domínio do seu meio, trazendo uma visão madura a um tipo de história – a dos super-heróis no cinema – cuja maturidade ainda estava apenas começando a aparecer.

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Pior: A Dama na Água (2006)

Esqueça o risível Fim dos Tempos (2008). Esqueça os trabalhos de aluguel com mestres do ar e o filho do Will Smith. Todos eles são perdoáveis e até trazem um elemento de “prazer culposo”, quase o tipo de filme “tão ruim que é bom”. O mesmo não se pode dizer de A Dama na Água. Ego no cinema é um problema, e nesta época Shyamalan se achava tanto que filmou uma historinha de ninar que inventou para os seus filhos. Nada contra, mas ele achava que tinha nas mãos o novo E.T., e o filmou como tal, ignorando os diálogos e nomes ridículos (ainda rio quando escuto scrunt) e escalando a si mesmo como um artista cuja obra vai mudar o mundo para melhor. Sinceramente, é melhor sofrer tortura por afogamento do que rever A Dama na Água.

E Fragmentado? Será um novo ponto alto ou mais um momento em baixa? Logo saberemos. Uma coisa é certa: O senhor M. Night Shyamalan é um diretor que provoca suspense apenas com a menção de seu nome. O suspense do tipo: “Será que dessa vez o filme dele vai prestar?”.