Andréa Muschieti é um cara ao mesmo tempo sortudo e azarado. Sortudo, porque conseguiu chamar a atenção de um grande diretor do porte de Guillermo Del Toro com seu curta de apenas três minutos, “Mama”; azarado, porque teve a oportunidade única de transformar “Mama” em um longa-metragem vendido com o selo da grife de Del Toro mundo afora e o resultado ficou aquém do esperado.

No suspense, o espectador acompanha a tragédia que envolve as irmãs Victoria (Megan Charpentier) e Lilly (Isabelle Nélisse). As meninas são raptadas pelo pai, que assassinara a mãe das crianças. Durante cinco anos, elas permanecem desaparecidas, até o dia em que o tio delas, Lucas (Nicolaj Coster-Waldau, mais conhecido pelo papel de Jaime Lanister na série “Game of Thrones”) as encontra vivendo numa cabana na floresta. Junto com a namorada, Annabel (Jessica Chastain), eles tentam levar uma vida normal com as meninas, mas percebem que algo de estranho os circunda. Trata-se da presença de Mama, um espírito que cuidou das crianças esse tempo todo e ao qual elas se afeiçoaram.

Partindo de um curta tão pequeno, o argumento de “Mama” até que consegue ser bem desenvolvido no roteiro. O tempo é um elemento essencial para mostrar as transformações graduais da personagem de Annabel, que não tinha o menor interesse em ser uma figura materna para as meninas que passa a criar, e para Victoria, a irmã mais velha que consegue compreender melhor o componente sobrenatural que circunda sua vida. Por outro lado, o tempo é mal aproveitado para o personagem de Lucas, que some por boa parte do filme apesar de ser o maior interessado no bem-estar das crianças.

O interessante em “Mama” é que seu ritmo permite que o suspense e os consequentes sustos se deem através de elementos muito mais ligados ao psicológico dos personagens do que a aparições de espíritos ou cenas de violência. O close na mão de Annabel quando ela ameaça abrir o armário das meninas onde Mama se esconde ou a cena do pesadelo de Annabel dão muito mais frio na barriga que a aparição da monstruosa inimiga da recém-formada família. Criam-se nesses momentos uma tensão exemplar para o gênero do suspense, o que remete a filmes como “O Sexto sentido” (1999) e “O Labirinto do Fauno” (2006), de Guillermo Del Toro, que parece ter feito escola para o jovem cineasta Muschieti.

Outro ponto a favor de “Mama” é a escolha de Jessica Chastain como protagonista. A atriz vem mostrando toda a sua competência em Hollywood em filmes como “A Árvore da Vida” (2011), “Os infratores (2012) e “A Hora Mais Escura” (2012). Em “Mama”, o roteiro permite construir uma personagem complexa, a roqueira que não leva o menor jeito para cuidar de crianças, e que se compadece da situação sem virar uma super-mãe do dia para a noite.

Destacados os pontos positivos, não se pode deixar de alertar sobre os defeitos de “Mama”. Um deles é a própria personagem-título, que é extremamente mal feita. O CGI de Mama é artificial e, por isso, causa pouco impacto sempre que aparece na tela. Não ajuda o fato de suas aparições se darem de maneira tão clichê, surgindo geralmente logo atrás de algum personagem que não percebe sua presença. Sem dúvida, as cenas em que essa presença é apenas sugerida são muito mais assustadoras, reforçando a tensão psicológica criada a partir da situação anormal das irmãs Victoria e Lilly.

Há também um desequilíbrio gritante na forma como a trama é conduzida nos últimos trinta minutos de filme. O que deveria ser o seu clímax, o momento mais impactante, torna-se justamente o mais “quadrado”, uma vez que a atmosfera e condução da história, até então galgada na sutileza, é encaixotada na forma de suspenses medianos norte-americanos. Até a edição reflete essa discrepância, entrecortando várias cenas com fade ins que chegam ao cúmulo de confundir o espectador quanto à noção de passagem de tempo na história.

É dessa maneira que “Mama”, o longa-metragem, acaba se colocando ao público da mesma maneira que o curta: uma promessa que ainda não mostrou a que veio, mas que ainda sim tem certo potencial.

Nota: 7,5