Em certa cena do recente A Liga Justiça, Barry Allen, o Flash, pergunta para Bruce Wayne “Qual é mesmo seu super poder?”, “Eu sou rico”, devolve de forma seca, nosso herói bilionário, anti-social e filantrópico. Agora, imagine ele falido – a crise econômica está por aí e ronda o mundo atual – pobre, envelhecido e tentando sobreviver nas ruas de uma grande metrópole como um morador de rua.

Essa é a premissa do terceiro curta-metragem de Ricardo Manjaro, responsável pelo atmosférico Necromante, que faz uma homenagem no formato de sátira social com elementos de suspense e noir à graphic novel de Batman- O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, em Morcego de Rua, curta que serviu como Trabalho de Conclusão para o curso de direção cinematográfica da Academia Internacional de Cinema de São Paulo – AIC que o cineasta realizou.

Nos seus aproximadamente 14 minutos de duração, Morcego de Rua é seco e direto em mostrar a trajetória do seu herói e pária social frente a onda de violência da grande metrópole paulista – que casa muito bem com a sombria Gotham City dos quadrinhos de Miller – cenário escolhido pelo diretor enquanto morava na cidade. Nele seguimos a história de um morador de rua interpretado Paulo Guilarducci (cujas expressões faciais dão uma forte tônica dramática para acentuar o comentário social do curta) que acredita ser um super-herói do mundo real, no caso o Batmam. Depois de ser abrigado por uma família, ele precisa ajudá-la a enfrentar uma horda de desordeiros – semelhante aos motoqueiros do primeiro Mad Max (1979) – que ronda a moradia.

A estética de Morcego de Rua é seu diferencial. A fotografia de André Tashiro entra em sintonia com a direção de arte de Mariana Fernanda, assim como os planos atmosféricos elaborados por Manjaro. É fácil notar influências principalmente de David Fincher e Paul Thomas Anderson em vários segmentos do curta, muito devido a habilidade de Ricardo de traduzir, através da comunicação visual, o equilíbrio com diversos elementos cinematográficos como a fotografia, narrativa e montagem. Isso também fica evidente na exploração do cenário como na sequência ambiciosa do herói no alto de um prédio que remete a uma bela referência aos quadrinhos, como aos ambientes opressores dos filmes policiais. De certa, maneira Morcego de Rua é eficiente em traduzir sua narrativa na sua forma estética, onde as imagens evidenciam os dramas dos seus personagens, sem precisar de diálogos expositivos.

Na parte do comentário social, Manjaro mostra sua boa veia pop de utilizar a jornada do herói, quanto a visibilidade e voz do oprimido/excluído dentro da violência urbana. A imagem degradante do seu justiceiro Batman e dos prédios paulistanos pichados pontuam estes aspectos. É claro que o curta esbanja certas deficiências e o trabalho de captação de som é um deles, que pode ser notado nos 5 minutos iniciais do curta.  A própria saga do protagonista merecia uma narrativa de encerramento mais concisa e atraente em razão da ótima nuance psicológica apresentada pelo texto e pela atuação de Guilarducci.

Sem dúvida, Morcego de Rua se revela o amadurecimento do trabalho de Ricardo Manjaro. Concilia bem o fascínio próprio do seu realizador pela cultura pop com uma narrativa mais clássica dos suspenses e policiais hollywoodianos. Talvez, seja hora desse aprendizado, permitir galgar desafios mais ambiciosos na sua carreira cinematográfica