Interessante o Oscar 2014 colocar na mesma disputa dois filmes tão antagônicos e complementares como “Nebraska” e “O Lobo de Wall Street”. Se os personagens e o ritmo da narrativa adotados pelas obras divergem totalmente, ambas tratam sobre a economia americana e os reflexos do mau momento vivido pela superpotência. Assim como Martin Scorsese, Alexander Payne conta com um elenco inspirado para realizar a obra mais madura de uma carreira com filmes do porte de “Eleição”, “Sideways” e “Os Descendentes”.

O road-movie traz a história de David Grant (Will Forte) que leva o pai idoso, iludido por acreditar ter ganho US$ 1 milhão, até a cidade de Lincoln, no estado de Nebraska, onde supostamente será entregue o prêmio. Porém, eles irão passar ainda na antiga cidade natal do patriarca para que ele veja antigos amigos e familiares.

Os EUA exibido durante “Nebraska” traz o estado melancólico tomado pelas regiões menos desenvolvidas do país nesse período pós-crise econômica. As ruas pouco movimentadas dão o tom daquele cenário triste e os negócios são os mesmos de 50 anos atrás. Os jovens quase não existem, os poucos adultos ali são os problemáticos, sem chance de progredir e os idosos vivem para aguardar a morte. As reuniões na casa da irmã de Woody e como todos se colocam para assistir uma partida na televisão ilustra bem o estado paralítico daquela sociedade.

Não à toa que uma novidade como o suposto novo milionário da cidade coloca todos em polvorosa, pois, enxergam ali a única possibilidade de conseguir sair da monotonia e ganhar um dinheiro impossível de conquistar em situação normal. A escolha pela fotografia em preto e branco realça ainda mais esse cenário em um trabalho primoroso de Phedon Papamichael aliada à trilha sonora intimista.

Essa desesperança se reflete em David Grant, sujeito sem perspectivas na vida, com um emprego nada desafiador e prestes a terminar um relacionamento amoroso de dois anos. Ir até Lincoln serve não apenas para dar uma esperança ao pai, mas, também como uma jornada de reflexão. Já Bruce Dern cria Woody Grant como um sujeito cansado, marcado pelo passado de traumas e alcoolismo. Mesmo com a fragilidade mental, se agarrar na propaganda milionária acaba sendo uma forma de liberdade da rotina e uma maneira de consertar erros. Por fim, ainda temos a mãe de David, Kate Grant, uma mulher rabugenta ainda capaz de segurar a família nos momentos mais complicados. O trio de atores (Forte, Dern e Squibb) trazem criam figuras adoráveis, levando o público a se importar com cada um deles.

Experiente em contar histórias sobre dramas de pessoas comuns com toques de humor, Payne desenvolve a trama de forma cadenciada. Não vemos grandes movimentos de câmera ou estripulias narrativas; há uma concisão e a consciência de se colocar como um mero espectador daquela trama. Aliado ao roteiro inspirado do estreante Bob Nelson, o longa se torna uma comédia dramática mesclando momentos emocionantes (a ida a antiga casa de Woody) com outros mais engraçados (a visita ao cemitério).

“Nebraska” acaba sendo o reflexo dos abusos cometidos pela turma de “O Lobo de Wall Street”. Enquanto Jordan Belfort e cia esbanjava com drogas, mulheres e investimentos arriscados, a turma de Woody Grant sofria com a economia estagnada, sem dinheiro, restando esperar o milagre de uma fortuna inesperada.

Parece dois mundos opostos, porém, é a América.

NOTA: 8,0