Num videogame de ação, quando o jogador morre ele quase sempre tem a oportunidade de começar de novo e de novo até triunfar sobre todos os desafios. É possível ter várias vidas e virtualmente infinitas chances de recomeçar. Esse é também o conceito por trás da ficção-científica No Limite do Amanhã, no qual o protagonista vivido por Tom Cruise morre e retorna à vida diversas vezes, até conseguir chegar ao estágio final do game. Um game, aliás, montado com peças de outros filmes.

Na trama do filme, a raça humana está em guerra contra criaturas alienígenas que chegaram à Terra num meteoro. Cruise interpreta o major William Cage, um assessor de imprensa do exército americano que subitamente é jogado no meio de uma das maiores batalhas desta guerra, mesmo sem ter experiência de combate. Medroso e despreparado, Cage acaba morrendo, como se esperava… Mas eis que de repente ele se vê desperto, vivo, de volta ao momento da sua apresentação para a batalha, no dia anterior à sua morte.

Cage descobre que ao entrar em contato com os alienígenas durante a batalha, adquiriu a capacidade de voltar no tempo. Ele consegue fazer contato com Rita (Emily Blunt), uma heroína da guerra que conhece a natureza do poder de Cage, pois já experimentou as mesmas viagens no tempo. Ambos então traçam um plano para derrotar os alienígenas.

Cage vive, morre e retorna, como um verdadeiro herói de um game. E o visual do filme remete a games futuristas e de guerra – o diretor Doug Liman, o mesmo de A Identidade Bourne (2002), até inclui algumas tomadas em primeira pessoa na sequencia da batalha, como num jogo de tiro. No entanto, à parte essa influência, a ideia básica do filme é a mesma da já clássica comédia Feitiço do Tempo (1993): examinar como um homem reage ao ficar preso no tempo, condenado a reviver o mesmo dia sem parar.

Há outras influências cinematográficas também, e elas acabam fazendo com que No Limite do Amanhã pareça um filme feito com peças avulsas. O exoesqueleto que os soldados usam remete à empilhadeira de Aliens – O Resgate (1986). Os monstros alienígenas lembram as máquinas em forma de lula da trilogia Matrix. A batalha na praia, no fundo, é a versão sci-fi da sequência de abertura de O Resgate do Soldado Ryan (1998). E por falar no filme de Steven Spielberg, há também referências aos filmes fantásticos que Cruise fez com o diretor. Cage adivinha o futuro como os precogs de Minority Report: A Nova Lei (2002), e a cena na qual ele mata uma criatura num cenário destruído repete o momento em que o personagem de Cruise fez o mesmo em Guerra dos Mundos (2005).

Apesar disso, por grande parte da sua duração No Limite do Amanhã é uma divertida aventura de ficção. Liman filma a sequência da batalha de forma grandiosa, criando momentos de impacto – por exemplo, quando Rita sai de dentro de uma nave destroçada, filmada num contra-luz e carregando uma enorme “espada”. Liman também consegue filmar as mesmas cenas de formas diferentes, especialmente na primeira meia hora, quando o espectador precisa lembrar a sequência de acontecimentos que se repetirão no dia de Cage. Isso torna o filme mais interessante visualmente e proporciona a participação da plateia, que ora adivinha os acontecimentos futuros, ora se surpreende com as mudanças.

Há também um bem-vindo humor no filme, como no corte súbito que mostra Cage amordaçado ou no momento em que o astro do filme é esmagado por um caminhão! Cruise também se diverte nesse começo, criando um personagem meio covarde que se diferencia dos seus tipos usuais de herói de ação, e Blunt, uma atriz sempre esforçada, torna Rita uma personagem forte.

Esses elementos ajudam a dar um pouco de frescor a No Limite do Amanhã, pois a premissa e o roteiro são por demais parecidos com o que já foi visto em outros filmes. Esse é o principal problema do longa: sentimos já ter visto tudo isto antes, e essa sensação aumenta quanto mais o filme avança. Além disso, na sua meia hora final o filme se transforma numa desinteressante e óbvia batalha entre humanos e ETs, e a essa altura as qualidades do inicio da projeção já se dispersaram. Não ajuda também o fato dos roteiristas criarem um final forçado e que destoa de tudo que mostraram anteriormente. Mas um filme de Tom Cruise nunca poderia deixar o espectador triste no final, certo? Assim como num bom videogame, o que vale é a empolgação enquanto se joga.

Então este novo trabalho do astro acaba sendo apenas mais um trabalho mediano da sua safra recente: Encontro Explosivo (2009), Jack Reacher: O Último Tiro (2012) e Oblivion (2013) não foram ruins, mas também não foram particularmente memoráveis, e No Limite do Amanhã segue o mesmo caminho. A única exceção nessa recente filmografia foi o ótimo Missão Impossível: Protocolo Fantasma (2011), mas mesmo esse também parecia um videogame. Talvez No Limite do Amanhã represente melhor que os outros o momento atual da carreira de Cruise: agora, ele só quer jogar.

Nota: 6,0