Há muitos ex-Bonds em November Man – Um Espião Nunca Morre: primeiro, Olga Kurylenko, ex-Bond girl que fez sua aparição em Quantum of Solace; e segundo, Pierce Brosnan, intérprete do papel do próprio agente 007 por quatro filmes, antes de Daniel Craig assumir seu posto. Mas as coincidências param por aí: o protagonista vivido por Brosnan neste filme em nada lembra o seu James Bond de anos atrás.

Peter Devereaux, experiente agente da CIA aposentado, é reativado para uma missão especial: resgatar Natalia, uma velha amiga na Rússia, que possui um nome capaz de incriminar o ex-general Arkady Fedorov, principal candidato à presidência do país. A missão dá errado, no entanto, e Devereaux passa de agente a foragido, além de descobrir que seu algoz é ninguém menos que um velho aprendiz, o agente David Mason (Luke Bracey). Assim, mesmo com Mason e a CIA em seu encalço, Devereaux se empenha em vingar a morte de Natalia e descobrir os podres de Fedorov, com a ajuda da assistente social Alice Fournier (Olga Kurylenko), que pode ser a chave para o mistério.

Brosnan é, sem dúvida, a grande alma do projeto. À moda de Liam Neeson e, mais recentemente, Kevin Costner, o ator assume o papel de agente-experiente-quase-invencível-geriátrico com propriedade. Seu personagem é muito mais brutal e menos classudo do que um James Bond e possui bons momentos que revelam suas nuances de complexidade, talvez numa tentativa de reafirmar o potencial de Brosnan como herói de ação depois de tantas comédias românticas sem graça. Acontece até mesmo ameaça ao telefone aos moldes de Neeson, com Brosnan soltando um “eu vou encontrar você e vou matar você” digno de Busca Implacável.

Infelizmente, a persona do protagonista não é o suficiente para sustentar o filme sozinho. Depois de um primeiro ato interessante, eficiente ao apresentar a dinâmica entre Devereaux e os demais personagens, principalmente em relação a Mason, November Man desiste e se entrega completamente a todos os clichês possíveis de filmes de ação. Tem donzela em perigo? Tem sim. Tem jogo de gato e rato entre aluno e mestre? Tem sim. Tem subtrama de conspiração política? Tem sim. Tem assassina perigosíssima e implacável matando todas as prováveis testemunhas de algo que pode incriminar um figurão importante? Tem sim. Tem uma mulher coadjuvante que aparece apenas para se relacionar com um dos agentes e protagonizar uma cena de sexo gratuita, já que a personagem não vai servir pra mais nada depois? Tem sim. Tem outra moça em trajes de femme fatale e peruca chanel? Tem sim. Tem traidores? Tem sim. E, principalmente, tem reviravolta? Tem sim, claro que tem. Aliás, tem pouco ainda, joga mais reviravolta pra ficar mais legal – pelo menos é assim que eu imagino que devam ter sido os brainstormings para produzir o roteiro.

O problema nem é o excesso de tramas paralelas, mas a incapacidade de conseguir lidar com todas elas de maneira satisfatória. A sensação que dá é que o filme sofre de uma tremenda falta de foco, sem se decidir por que caminho vai seguir. A trama de conspiração política, por exemplo, se revela interessante, no fim das contas, mas é mal trabalhada. E a perseguição entre Mason (Luke Bracey, aliás, não ajuda: é bonito, mas apático durante o filme todo) e Devereaux acaba resultando em momentos que em nada avançam para a trama. Por exemplo, qual era a necessidade mesmo de Devereaux invadir o apartamento do agente e ameaçar a vizinha apenas pra sumir logo em seguida? Era só pra mostrar o quão perigoso ele pode ser?

É coisa demais para pouco mais de uma hora e quarenta minutos de projeção, e algumas dessas coisas passam tão rápido e sem explicação que fiquei com uma dúvida sincera se eram furos de roteiro mesmo ou trechos enormes largados na ilha de edição, já que há saltos de tempo e espaço que não fazem sentido algum na montagem.

Com tantos agentes da CIA e criminosos incompetentes, já que todos são incapazes de produzir pelo menos um arranhão no protagonista nas cenas de luta – em certa sequência, um deles vê que Devereaux está descendo as escadas armado e simplesmente sobe correndo mesmo assim, sem fazer absolutamente nada –, é pelo menos divertido ver Pierce Brosnan de volta à ação. Mas isso não basta para fazer de November Man mais do que um filme “assistível”. Diversão por diversão, eu ficaria com as doses de humor de 3 Dias Para Matar, outro dos recentes exemplares de caras durões de meia-idade. Mas o que eu importo, não é mesmo? Afinal de contas, os planos para a sequência de November Man já estão aí – agora é aguardar.