Você está lendo este texto. Alguém provavelmente está fazendo algo no cômodo ao lado. Carros passam na rua. A vida segue lá fora (ou aqui fora, se você estiver lendo isso num celular enquanto vai para algum lugar). Esse senso contínuo de indiferença marca “O Cacto”, filme de Arnaldo Barreto exibido na Mostra de Cinema Amazonense deste ano.

Isso pode ser apenas uma decisão estilística, claro: a narrativa, com pouca ação, acompanha o processo de um jovem (Wallace Abreu) de sair de sua vida enclausura em casa em direção ao mundo exterior, simbolizado por uma vizinha cuja rotina ele acompanha atrás de ruídos e falas que invadem sua casa.

O ator consegue criar empatia pelo personagem com muito pouco, uma vez que sua ação é contida ao extremo e ele não tem falas (de fato, os únicos diálogos que ouvimos são os da vizinha e seu companheiro).

No entanto, com 16 minutos e pouca história para preenchê-los, o curta se arrasta por momentos, principalmente, porque parece não ir a lugar nenhum por boa parte da projeção. A cena inicial, por exemplo, se demora muito estabelecendo a realidade do protagonista e ainda insere o personagem de uma mulher (Rosa Malagueta), aparentemente seu mãe, que nada contribui para a evolução da história.

O que faltou em edição, Barreto compensa com um bom trabalho de câmera, que não chama atenção para si mesmo e serve bem à história, nos aproximando ainda mais do personagem de Abreu. Sem diálogos, o diretor habilmente contornou diversos problemas com captação de som (ainda uma questão delicada em produções locais), o que colabora no produto final.

No final das contas, “O Cacto” se mostra um trabalho que entretém, ainda que pudesse se beneficiar de ajustes de ritmo ou uma história desenvolvida para contemplar outras etapas da história do protagonista. Em sua atual forma, a sensação de indiferença do personagem principal é partilhada pelo público.