Na primeira parte do nosso especial “O Design de Star Wars”, falamos sobre como os diferentes planetas da saga intergaláctica reforçam elementos do roteiro, atmosfera e simbolismos dos filmes. Nessa segunda parte, abordaremos outro elemento que salta aos olhos ao longo das trilogias: o figurino. Ao longo da saga, John Mollo, Aggie Guerard Rodgers, Nilo Rodis-Jamero, Michael Kaplan e Trisha Biggar foram os responsáveis por vestir essa galáxia distante, com destaque ao que o texto abaixo traz.

Entre mocinhos e vilões

Culturas, hierarquias e funções dentro da trama de Star Wars são também delimitadas a partir das vestimentas e acessórios de seus personagens. Isso fica claro desde a trilogia original, na qual heróis e vilões são explicitamente demarcados pelos tons de cores e fluidez dos figurinos.

Se Luke Skywalker e a Princesa Leia apresentam roupas que trafegam sempre entre o branco e tons de bege, o icônico traje de Darth Vader apresenta o preto e a rigidez dos tecidos como grande marca. O capacete oculta ainda o rosto do vilão, impossibilitando dar a ele expressões e dificultando o processo de empatia com o personagem e de identificação de suas intenções, além de trazer, de maneira sutil, a influência das armaduras orientais na ideia do traje como um todo.

Na trilogia formada pelos Episódios I, II e III, a distância entre o branco e o preto é utilizada de forma interessante no personagem de Anakin Skywalker/Darth Vader. Quando criança, em Tattoine, o traje do personagem, ainda não corrompido pelo lado negro (ops, sombrio!), apresenta modelagem similar a do Luke que conhecemos no Episódio IV, além de apresentar as mesmas cores suaves.

No decorrer do amadurecimento e tendência à indisciplina, os tons se tornam cada vez mais fechados, tendendo ao marrom e depois ao preto. Surgem coturnos e tecidos com aspecto de couro, pouco flexíveis, como um prenúncio do figurino final de Vader, transformação essa que se completa no Episódio III.


Quando mais ligados à ação dentro da trama, mais práticos se tornam as vestimentas dos personagens. Isso acontece especialmente com Han Solo, cuja personalidade pouco se altera no decorrer da trama, característica essa reforçada com o figurino pouco variado. A praticidade do figurino é mais marcante em Leia, que vai do vestido esvoaçante do começo do Episódio VI para o fardamento unissex dos Rebeldes nos demais filmes. Os pilotos, que vestem macacão laranja, não possuem diferenciações significativas em seus fardamentos. Não por acaso, o único deles que ganha algum destaque na trama é o próprio Luke.

O estilo Jedi

As vestimentas dos Jedis também se apresentam de forma distinta. Novamente a inspiração dos samurais vem à tona a partir do corte das roupas, que possui a base na yukata, e do obrigatório sabre de luz, que será analisado mais pra frente em nosso especial.

Se por um lado os tecidos dos trajes Jedi não apresentam tanta leveza, o corte das roupas provem a mobilidade necessária para as lutas. A faixa na cintura, além de remeter à faixa dos quimonos e yukatas, serve também como “cinto de utilidades”, carregando o sabre e outros apetrechos. Completa o visual a capa marrom, pesada, com algo de monástico. Ela reforça a espectadores e personagens a ligação dos Jedis com uma forma de sagrado no contexto da trama, uma vez que seus ensinamentos apresentam a Força como uma espécie de simbiose com demais elementos naturais a partir dos midi-chlorians, além de permitir sentir e até prever acontecimentos distantes no tempo e no espaço e mesmo desafiar a morte.

A trilogia original não permita muitas distinções de vestuário entre eles, uma vez que os únicos Jedis que vemos é Obi-Wan Kenobi e Yoda, além de Luke. O treinamento não ortodoxo deste leva à ameaça constante de pender para o lado negro, dilema esse que é demarcado no figurino do Episódio VI, no qual o personagem confirma sua ascendência e passa a trajar roupas com características similares a de Darth Vader, fortalecendo a ligação entre eles.

A diferença hierárquica entre os Jedis também se demarca visualmente. Os jovens Padawans apresentam ao longo dos filmes trajes semelhantes aos dos habitantes de Tatooine, além da já icônica trancinha na lateral dos cabelos curtos. Quando mais alta a “patente” entre eles, mais os figurinos se aproximam dos tons terrosos, exceto Anakin, por motivos óbvios.

Lute como uma princesa

As personagens femininas de maior destaque na saga são, de longe, Padme Amidala e Leia. A primeira é a que apresentou maior variedade de figurino para expressar posição política, ação e sentimentos. No Episódio I é marcante novamente a inspiração oriental em suas vestes pomposas, acompanhadas de penteados característicos que emulam o visual de uma geisha, completado com a maquiagem carregada na face. É justamente essa pompa que a permite ser quase irreconhecível, dando espaço para que sua identidade seja mantida no anonimato ao de disfarçar de serva enquanto uma sósia assume o papel de monarca.

Na medida em que a personagem abandona o título de rainha e para a integrar o senado, o figurino se aproxima da sobriedade. Outra mudança significativa acontece no Episódio II, no qual ela se envolve de maneira mais direta nos confrontos. Saem de cena os vestidos pesados e entram roupas funcionais, que guardam aparência com os figurinos da trilogia clássica em vários momentos.

Nos momentos em que o relacionamento amoroso com Anakin se fortalece e, posteriormente, durante a gravidez, voltam os vestidos, embora muito mais fluidos e de aparência romântica e suave, marcadas pela predominância de tons pastel, o que demarca suas emoções. Embora de maneira mais lúgubre, o visual é mantido no momento de seu funeral, com clara influência do quadro “Ofélia”.

Da mesma maneira, Leia frisa sua maior integração nas cenas de conflitos ao distanciar-se do icônico vestido branco e o penteado pelo qual a maioria das pessoas a conhece. Predominam as tranças, práticas e aliadas a trajes tão ou mais funcionais que os que Padme usa no Episódio II, além de marcarem menos suas curvas. O branco e o bege, no entanto, permanecem em destaque, com exceção do inesquecível (e não no bom sentido da palavra) visual de escrava do gangster Jabba The Hutt.

O que vem por aí

Só a partir de quinta-feira (17) poderemos confirmar quão integrada a questão do figurino estará à trama do novo Episódio VII. O que as notícias dão conta é que J.J. Abrams vem garantindo atenção especial a esse item, mantendo o saudosismo e a integração em termos de cronologia, como bem percebemos nas imagens de divulgação em que figuram o vilão Kylo Ren, os troopers ou os pilotos de X-Wing.

Outros figurinos marcantes de Star Wars: trajes de Bobba Fett, Povo da Areia, Conde Dukan, Imperador Palpatine, Zam Wessell.

Lembrou-se de algum figurino legal que nos esquecemos de citar? Diz pra gente nos comentários.

Não perca os próximos post especiais “O Design de Star Wars”. Ainda falaremos sobre as armas e os veículos da saga!