Deve existir uma cota dentro de Hollywood para exaltar policiais e bombeiros em filmes. Grandes astros interpretando heróis sempre dispostos a salvar o dia pelos EUA. Bandeiras americanas tremulando, cenas em slow motion, frases de efeito, oficiais carinhosos com a família e sensíveis à dor vista naquele momento são os clichês do gênero.

“O Dia do Atentado” junta-se a produções como “Brigada 47” e “As Torres Gêmeas” neste quesito. Igual aos dois citados, o filme de Peter Berg sobre o ataque terrorista realizado durante a Maratona de Boston, em 2013, e a posterior caçadas aos responsáveis pelo crime, os irmãos chechenos Tsarnaev, não compromete e entrega um drama correto e sem brilho.

Com um início cuidadoso ao retratar os primeiros momentos do dia com figuras-chaves do atentado terrorista, a produção mostra não ter pressa para desenvolver a história. Não que isso seja um pecado; pelo contrário, tal escolha de Peter Berg permite a criação exata da tensão até a explosão das duas bombas. Quando o fato que muda o rumo da vida daquelas pessoas acontece já estamos com 30 minutos de filme.

Apostar em um protagonista sempre perto de explodir e um longe de ser o policial perfeito, mas, com um forte grau de identificação com a comunidade de Boston como é o caso de Tommy Saunders (muito bem defendido por Mark Whalberg) se mostra um grande acerto, já que permite o nosso envolvimento além do natural com a história. Mesmo que os demais personagens não sejam tão bons assim, a calma com que o roteiro escrito pelo quinteto Peter Berg, Matt Cook, Joshua Zetumer, Eric Johnson e Paul Tamasy desenvolve cada um deles humaniza “O Dia do Atentado” e nos importemos com quem vemos em cena.

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E quando chega a ação, aí, Peter Berg mostra ser um dos melhores da atualidade em Hollywood. A sequência da explosão traz uma pegada documental com a riqueza que os nossos tempos cheios de imagens permite: vemos o momento desde um celular passando pela câmera de vigilância de um café aos planos mais convencionais. Com uma montagem equilibrada sem os cortes insanos à la Michael Bay e a decisão perfeita de filmar em Boston e não na frieza de um estúdio cheio de computadores, o espectador consegue se sentir dentro da tragédia. O cineasta ainda acerta ao não poupar o público de cenas fortes como, por exemplo, detalhes dos graves ferimentos sofridos pelas vítimas e pedaços de membros espalhados pela calçada dão a ampliação de um tom de realismo ao projeto. Mesmo não tendo chegado ao patamar de um Paul Greengrass, Peter Berg merece aplausos.

Infelizmente, “O Dia do Atentado” não consegue segurar a mesma tensão ao longo do projeto. A duração excessiva (130 minutos!), o excesso de gente com muitas e muitas situações em cena, o pieguismo (o que é aquele discurso de amor e ódio de Saunders?) e até mesmo a incapacidade de Berg em manter a tensão em determinados momentos (toda a sequência do chinês sequestrado pelos Tsarnaev soa forçada) atrapalham o projeto de ser mais eficiente. Por outro lado, quando o filme acerta o ritmo e aposta na linha mais documental atinge bons momentos como, por exemplo, o tiroteio ocorrido em Watertown.

Com tons de “24 Horas” e “Homeland”, “O Dia do Atentado” funciona em ser uma homenagem a Boston e os moradores da cidade, assim como uma mensagem de que o terrorismo não será capaz de amedrontar as pessoas e fazê-las de deixar viver suas vidas como acontece na bela homenagem a cidades que sofreram com problemas nos últimos anos. Não muda a vida de ninguém após a sessão, é verdade, mas, cumpre razoavelmente seu papel.