A procura por jovens geniais ou foras de séries em qualquer setor é uma busca constante da sociedade dos tempos atuais.

Para comprovar essa afirmação, basta enumerar a quantidade absurda de reality shows que estão no ar na caça de uma nova estrela como “American Idol” e “O Aprendiz”.

A situação piora ainda mais quando surge um novo talento: a imprensa começa a elogiá-lo, colocando várias comparações a pessoas bem-sucedidas do passado, os companheiros de trabalho passam a bajulá-lo, uma  quantidade sem fim de puxa-sacos se forma e o público alimenta todo esse circo.

Conseqüentemente, a pressão para que ele repita o sucesso torna-se imensa, ocasionando um frisson a cada pequeno movimento feito por esse cara. Quando o resultado se mostra inferior, mesmo sendo de excelente qualidade, dúvidas começam a pairar sobre o verdadeiro talento dele. Quando é uma bomba, críticas humilhantes surgem a todo momento.

Daí em diante, só é possível tomar uma das duas vias: ou a pessoa sabe lidar com a pressão e não se importa com o que os outros falam, concentrando-se apenas em seu trabalho ou fica tentando provar que são bons com o objetivo de calar a boca dos críticos, criando ressentimentos e raiva, o que o faz se perder.

M. Night Shyamalan passou por todos os caminhos dessa longa história e, infelizmente, optou pelo segundo caminho.

Com o sucesso de “O Sexto Sentido”, os mais apressadinhos trataram de rotulá-lo como o novo Steven Spielberg, sendo capaz de contar histórias simples de maneira extremamente eficiente e emocionante, e o herdeiro de Alfred Hitchcock, o que o levaria, de acordo com os mais entusiasmados, a ser o mestre do suspense do século XXI. E o indiano caiu nessa babação.

Aí veio “Corpo Fechado”, um filme que tinha personagens introspectivos e nenhum um pouco carismáticos para uma produção de super-heroís. O bom roteiro e a direção inspirada fizeram o longa de 2000 ganhar status de cult e continuar o frisson em cima do nome de Shyamalan.

Tanto a história quanto a direção de “Sinais”, terceiro filme do indiano, são simples demais, porém o filme agradou o público, rendendo 408 milhões de dólares mundo afora. A crítica tratou o filme de maneira indiferente.

A partir de “A Vila”, o indiano começou a ver toda a badalação em torno de seu nome sofrer um abalo significativo. Preso a fórmula do final-surpresa (rendeu até uma propaganda patética para que não revelassem o final do filme), o longa estrelado por Joaquin Phoenix e Bryce Howard Dallas possui boas intenções, mas tem um ritmo arrastado e se perde completamente no último e decisivo ato.

Porém, Shyamalan, acreditando ser um cineasta visionário e incompreendido, ficou revoltado com as críticas que levou e resolveu se vingar.

A vingança teve nome: “A Dama na Água”. A raiva do indiano em relação aos críticos de cinema era tanta que ele escreveu um personagem dedicado a esses profissionais, o qual acaba morto em uma cena constrangedora.

Quem na verdade “paga o pato” é o espectador que passa duas horas assistindo uma porcaria de trama mal acabada, com personagens ridículos, atuações tristes de dar dó (Paul Giamatti que o diga!), cenas de ação confusa.

Adivinha o que aconteceu?

Os críticos especializados em cinema não perderam a oportunidade e detonaram Shyamalan. As comparações com Hitchcock e Spielberg viraram piadas e ele passou a ser ridicularizado.

Com “Fim dos Tempos”, porém, Shyamalan chegou ao fundo do poço. Perdido, realiza um dos filmes mais patéticos e com a cena mais constrangedora da última década: Mark Whalberg conversa com uma samambaia, enquanto milhões de pessoas morrem do lado de fora da casa, vítimas de uma substância liberada pelas árvores espalhada pelo vento.

Shymalan então resolveu deixar de roteirizar o seu próximo projeto, fato inédito até então. Pensou que ao comandar algo mais no estilo blockbuster, um pouco longe do estilo “filme pop de autor” que impregnou sua carreira, aceitou comandar “O Último Mestre do Ar”, adaptação do desenho animado “Avatar”.

O tiro saiu pela culatra com um filme morno, sem graça, cenas de ação cheias de efeitos especiais e com zero de emoção, personagens fracos. Levou 5 Framboesas de Ouro, incluindo pior filme e diretor. Não é horrível como parece, mas ainda sim é fraquíssimo.

De “O Sexto Sentido” a “O Último Mestre do Ar” se passaram 11 anos, uma enormidade de tempo para períodos tão ligeiros e instantâneos como o nosso. Shyamalan de gênio se transformou em piada.

Injustiça?

Sim e não.

Sim: o indiano não é tão ruim quanto a maior parte das pessoas, iludidas por críticos de cinema apressadinhos (especialmente o norte-americanos), o consideram. Ele sabe criar atmosfera de suspense como ninguém, além de dirigir ótimos momentos de tensão (a cena da festa de aniversário em “Sinais” é um belíssimo exemplo).

Seus roteiros possuem boas premissas, apesar de serem mal desenvolvidos (“A Vila”, por exemplo, parte de uma idéia brilhante, porém, de tão mal acabada fica em segundo plano devido a nossa decepção com a conclusão da história).

Além disso, consegue arrancar atuações excelentes de gente como Bruce Willis, Haley Joel Osment, Bryce Howard Dallas (Mark Whalberg não conta, ok?).

Não: Shyamalan se deixou levar pelos elogios exagerados no começo da carreira e não controlou o ego, achando que tudo que fizesse seria sucesso absoluto.

Permitiu também, apesar de dizer que travava brigas com produtores de Hollywood por questões criativas, a alcunha de ser um cineasta que entregava filmes sempre com finais surpresas, tornando-o refém dessa solução.

Bancou ideias estapafúrdias como a de filmar “A Dama na Água” a partir um roteiro criado por ele baseado em uma história de ninar que contava para os seus filhos.

Infelizmente, nenhum dos lados dessa briga parece ter aprendido.

Os críticos estão sempre a procura de novos visionários e gênios.

Zack Snyder, diretor de “300”, “Watchmen” e do recente “Sucker Punch”, já é visto como um grande cineasta por alguns críticos só porque produz filmes com um visual arrebatador e cenas de ação muito bem coreografadas.

Porém, sua incapacidade em desenvolver a história derruba todos os seus filmes para a linha do medíocre. Mesmo assim, há quem o endeuse.

Já Shyamalan trabalha em um projeto com Will e Jaden Smith, uma ficção científica que se passa daqui a um milênio, na qual um menino, acompanhado do pai, navega pela Terra abandona, após sua nave cair no planeta.

Espero honestamente que a humildade volte a Shyamalan e ele recobre a consciência de que precisa trabalhar e não ficar querendo provar nada há ninguém.

Caso isso aconteça, já é meio caminho andado para retomar uma carreira que parecia promissora.

Menos do que ele pensou que pudesse ser, porém, muito mais do que é hoje.

NOTA DOS FILMES DE M. NIGHT SHYMALAN:

O Sexto Sentido (1999) /NOTA: 9,5

Corpo Fechado (2000) /NOTA: 8,0

Sinais (2002) /NOTA:8,5

A Vila (2004) /NOTA: 6,0

A Dama na Água (2006) /NOTA:4,5

Fim dos Tempos (2008) /NOTA: 4,5

O Último Mestre do Ar (2010) /NOTA: 5,5

PS: Quando falo em críticos de cinema e jornalistas, sei que estou no meio do bolo (apesar de ter muito que aprender ainda nas duas áreas). Porém, uma coisa que acho importante e necessário ao ser ter na atividade de crítico é a tranquilidade e calma ao ser avaliar a obra. Claro que o filme pode despertar emoções fortes e isso vem a aflorar nas análises, porém, é preciso se fazer um freio nas empolgações e analisar friamente determinado fato. A falta disso provoca os erros e exageros, como os que aconteceram na época do lançamento de “O Sexto Sentido” e sobre o que se podia esperar da carreira de Shyamalan.