A vida não anda fácil para Barack Obama. Espionagem contra os maiores aliados revelada, perspectivas pouco animadoras para a economia americana, a conturbada reforma da saúde, paralisia do governo após impasse no Congresso. Para quem alimentou tantas esperanças do mundo inteiro, o atual presidente dos EUA está se tornando uma decepção.

“O Mordomo da Casa Branca” busca recuperar a aura por trás de Obama. A obra aposta na famosa e batida história da superação para mostrar como a eleição do primeiro presidente negro dos EUA se tornou um marco na luta contra o racismo no país. O longa utiliza todo o contexto histórico americano para passar a mensagem do quão importante é a presença daquele homem na Casa Branca.

Baseado livremente em uma história real, o filme mostra a trajetória de Cecil Gaines (Forest Whitaker) desde quando saiu de uma opressora fazenda de algodão no sul dos EUA até chegar à Casa Branca trabalhando como mordomo durante as décadas de 1950 a 1980. Nesse período, ele presencia decisões importantes para a melhoria da situação dos negros no país. Enquanto isso, o protagonista terá que enfrentar uma crise familiar quando vê o filho mais velho optar pela combate ostensivo ao preconceito racial.

No comando da direção e do roteiro, Lee Daniels (“Preciosa”) poderia ter feito o competente filme de superação, porém, as simplificações para retratar os personagens envolvidos ao longo da trama atrapalham a produção. Cecil Gaines, por exemplo, é o típico caso do sujeito ideal: honesto, trabalhador, dedicado, exemplo de pai e, claro, patriota. Os contrassensos presentes no protagonista, como o fato de não se irritar com o filho que vai ao Vietnã mesmo não acreditando na guerra, enquanto perde a paciência com o rebento que tenta lutar pela causa negra, são deixados de lado por quase todo o tempo. Nem a boa atuação de Whitaker compensa tamanha fragilidade.

Já a esposa dele interpretada por Oprah Winfrey faz a parceira fiel, sendo capaz de segurar os problemas familiares enquanto o marido trabalha. A densidade da personagem se resume ao problema com o álcool, mesmo com a possibilidade de um caso extraconjungal ser referido e pouco depois esquecido. Ainda há espaço para o filho rebelde, mas consciente, e os amigos de trabalho parceiros para todo tipo de situação.

Se ficasse restrito aos personagens desconhecidos da trama, “O Mordomo da Casa Branca” seria perdoável. Porém, estender isso a figuras públicas como os presidentes do EUA reduz a credibilidade da trama. Glorificar Dwight Eisenhower (Robin Willians) e John F. Kennedy (James Mardsen) através de situações artísticas e de indignação de atitudes racistas, enquanto a Lyndon Johnson (Liev Schreiber) cabe uma cena no vaso sanitário chega a ser ridículo. Porém, o tratamento dado a Richard Nixon (John Cusack) revolta, pois,  as aparições com o pé em cima da mesa da presidência, chamando os Panteras Negras de desgraçados e o sujeito descabelado e bêbado durante as investigações do Watergate tentam transformá-lo em um vilão chinfrim.

Essa visão simplista vem carregada da mão pesada de Lee Daniels na condução da história. Sem controlar a utilização da trilha sonora, o cineasta insere a todo momento algum tom carregado para emprestar emoção à cena. Em outros momentos, a criação de boas sequências como a violência cometida contra negros dentro de uma lanchonete ou o incêndio cometido pela Ku-Klux-Klan no Alabama a um ônibus perdem força com os cortes abruptos, câmeras lentas e inserção de situações paralelas. Os recursos, porém, são menos irritantes que no filme anterior do diretor, o mal construído suspense “Obsessão”.

O golpe fatal, porém, se revela na parte final do longa-metragem com a campanha eleitoral feita pelos protagonistas para Barack Obama em 2008. Claro que a votação do democrata marcou a história do país. Porém, a sensação pretendida pelo filme é fazer com que o espectador creia que tudo mudaria, muda e mudará com o atual presidente na Casa Branca. Para ressaltar isso ainda mais, a última frase de “O Mordomo da Casa Branca” é a célebre “Yes, We Can”.

Assim como “Lula – O Filho do Brasil”, “O Mordomo da Casa Branca” tenta colocar uma aura de sujeito predestinado e vencedor ao líder político do momento. Desta vez, porém, a sugestão é disfarçada dentro de um contexto histórico e social. Com o elenco e a história disponíveis, poderia ser melhor.

BEM, melhor…

NOTA:6,0