O maior “oba oba” do Amazonas Film Festival 2013 não foi para um renomado diretor, nem para nenhum ator talentoso. O que chamou mesmo a atenção do público foi a presença de Ney Matogrosso no festival. O cantor veio prestigiar a exibição de sua cinebiografia, o documentário “Olho Nú”, dirigido por Joel Pizzini. Aplausos, gritinhos, assobios, pedidos de autógrafos e declarações de amor… a manifestação dos fãs mais exaltados emoldurou a empolgação do diretor ao apresentar seu longa ao público antes da exibição.

Uma pena que o produto final não tenha resultado num espetáculo tão impactante quanto o tour de force que Ney é cantando nos palcos. Independente de ser fã ou não de Ney Matogrosso, é difícil um indivíduo com um mínimo de conhecimento sobre música brasileira não conhecer alguma polêmica em torno do cantor de temperamento e atitudes fortes. Apenas um lampejo de sua personalidade pode ser percebido no documentário, que apresenta basicamente a relação do cantor com os pais, sua ida a Brasília, onde se descobre como artista, o alcance do estrelato junto a banda Secos e Molhados e a afirmação de seu sucesso a partir daí.

Talvez a proximidade de Ney Matogrosso com o diretor Pizzini e com Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil que propôs a realização do documentário (além de ter composto vários sucessos do Secos e Molhados) tenha prejudicado mais do que ajudado, quem sabe. Em tempos de discussões sobre censura a biografias de artistas, fica a impressão de que o Ney que vemos nas telas nunca capta de fato sua essência, soando mais como uma versão do cantor aprovada por ele mesmo. Muitos são os teóricos que afirmam que nem mesmo o documentário consegue captar o “real” no cinema, sendo ele também fruto de recortes sobre o tema que aborda, mas deixar isso tão escancarado não parecia ser a proposta inicial de “Olho Nú”.

Pizzini, cuja filmografia carrega uma forte ligação com o experimentalismo das imagens, tenta com “Olho Nú” dar continuidade a esse flerte, o que nem sempre funciona bem. Os fãs soltavam suspiros, gritinhos e assobios quando Ney Matogrosso surgia na tela rebolando sensualmente com um figurino provocante ao se apresentar nos palcos, mas a repetição de cenas similares, aliada ao sentimento de que o documentário não se aprofunda num personagem que se propõe tão rico, começa a saturar depois de um tempo, revelando um leitmotif que nada acrescenta à fluidez ou aos simbolismos da narrativa.

O experimentalismo visual de Pizzini se mostra mais frutífero em segmentos como o de Ney na floresta, com belíssima fotografia, ou nos que a qualidade da imagem valoriza os detalhes de seus figurinos sempre exóticos, em performances que lembram videodanças. De fato, salvo raras exceções, o documentário se mostra mais rico a partir de sua visualidade, pois reúne vídeos pessoais, imagens de arquivo de apresentações e entrevistas televisivas, além de ótimos registros do cantor nos palcos. Estes últimos, aliás, poderiam ter sido mais valorizados para dar conta de mostrar ao espectador que pouco ou nada sabe sobre Ney e o motivo de ele ser considerado um artista tão importante para a música popular brasileira.

De maneira geral, “Olho Nú” seguiu o clima morno dos longas-metragens exibidos no Amazonas Film Festival 2013 (à exceção do venezuelano “Cabelo Ruim” e do brasileiro “Tatuagem”). Muito provavelmente os fãs de Ney Matogrosso aprovaram a produção, principalmente pela fartura de imagens pessoais e, óbvio, pela chance de estar perto de seu ídolo; já os que esperavam um documentário ousado, que desse conta de abarcar em seu formato a complexidade e a exuberância do personagem-objeto, tiveram as expectativas um tanto quanto frustradas.

Nota: 7,0