Se o Oscar desse ano fez vexame no quesito representatividade, ignorando negros e latinos e desprestigiando as mulheres nas categorias mais célebres – reflexo do sólido alheamento da indústria do cinema, que não dá trabalho para gente fora do padrão homem branco bem-nascido –, não se pode acusá-lo de conservador na escolha dos indicados.

Assim como há espaço para um western radical e solene (O Regresso), para uma space opera com tons de comédia (Perdido em Marte) e para uma crítica aos absurdos do capitalismo (A Grande Aposta), também tivemos desde velhos favoritos (Steven Spielberg, Leonardo DiCaprio, as duas Kates – Blanchett, com C, e Winslet, com K) até revelações como Alicia Vikander, Adam McKay (quem esperava um filme como Aposta?) e a sensacional redescoberta de George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria).

Brie LarsonE, claro, Brie Larson, franca favorita ao Oscar de Melhor Atriz, por O Quarto de Jack. O que levou muita gente a se perguntar: Brie quem?

Só mesmo um observador atento cantaria a pedra de algo como Jack na carreira de Brie, mas rever os trabalhos da americana mostra que, já há algum tempo, ela vem emplacando atuações sensíveis e inteligentes, em filmes que fogem ao produto-padrão da indústria.

Brianne Sidonie Desaulniers, ou para todo mundo, Brie (pronuncia-se brí, como o queijo) Larson nasceu em 1989, e começou a aparecer na TV em 98, contracenando com o apresentador de talk show, Jay Leno. Como Anne Hathaway, Lindsay Lohan e outras aspirantes ao estrelato na virada do milênio, a moça emplacou participações em sitcoms e filmes da Disney, como Rodas de Fogo (2003) e o sucesso De Repente 30 (2004). A Brie teen também tentou a sorte na música, lançando o álbum Finally Out of P.E,. em 2005, naquele estilo pop-rock aguado que é a especialidade do canal do Mickey. Sua participação na comédia Os Heróis do Pedaço (2006) chamou a atenção pelo charme e a graça, e é, hoje, provavelmente a única coisa que ficou do filme.

short-term-12-brie-larson-1Como Anne Hathaway, mas não como Lindsay Lohan, Brie também renunciou à glória efêmera de estrelete adolescente, passando a navegar por águas mais indies, sobretudo a partir de Os Segredos de Tanner Hall, de 2009, com Rooney Mara. A colaboração com o herói indie Noah Baumbach (de A Lula e a Baleia e Frances Ha), O Solteirão (2010), com Ben Stiller, aumentou seu perfil nessa linha. No mesmo ano, Brie também apareceu como uma das ex-namoradas de Scott Pilgrim (Michael Cera) no cult Scott Pilgrim Contra o Mundo, e integrou o elenco da série (também cult) United States of Tara, ao lado de Toni Collette.

Uma ponta no sucesso Anjos da Lei (2012), com Jonah Hill e Channing Tatum, e a interpretação aclamada como a protagonista Grace, no indie Temporário 12 (2013), foram passos decisivos para a descoberta de Brie. Mas, quando esta se deu, foi fulminante: a atriz apareceu ao lado de Amy Schumer em Descompensada, a comédia mais bem recebida de 2015, e amealhou comoções com seu retrato complexo e delicado de Joy Newsome, a mãe que faz de tudo para aliviar a terrível situação do filho em O Quarto de Jack.

Mesmo que ela não leve a estatueta, o que é pouco provável, Brie Larson sai como a grande vencedora desta temporada. Talentosa, inquieta, afinada com as mentes mais férteis nas bordas de Hollywood, a atriz tem tudo para ser a estrela que seus filmes mais recentes anunciam.

Resta conferir se Hollywood vai saber aproveitá-la: seu novo projeto é o reboot da franquia King Kong, Kong: Skull Island, onde ela irá contracenar com Samuel L. Jackson e Tom “Loki” Hiddleston.

et_BrieLarson_011016_huluFica a torcida para que não pare aí.