O cinema nasceu sem roteiro, mas ao longo de sua história surgiram incontáveis definições, manuais e livros sobre a importância da construção do roteiro cinematográfico como fator primordial para a realização de um filme que possua todas as suas intenções criativas concretizadas na tela.

Talvez o roteiro seja o segmento cinematográfico mais abordado e discutido por profissionais, acadêmicos e teóricos ao redor do mundo. O efeito dessa proliferação de estudos e conceitos não resultou numa definição socrática sobre uma forma correta para desenvolver um roteiro, mas em inúmeras maneiras diferentes de pensar e escrever o roteiro. Portanto, é sempre interessante buscar a literatura disponível sobre o assunto, desde os textos mais antigos aos mais recentes, mesmo que seja para posteriormente descartar os métodos aprendidos. É necessário o saber para construir e, também, para desconstruir.

Divisão na estrutura clássica de começo, meio e fim ajuda roteiristas iniciantes

A função objetiva e legítima do roteiro é apresentar um grande poder de visualização das cenas, com a sua estrutura dramática bem delineada, para que produtores, diretores, elenco e técnicos possam compreender todo o potencial artístico daquela dramaturgia audiovisual.

Quando um roteiro fica pronto, na realidade o que temos é um primeiro tratamento do roteiro. É muito comum, principalmente em produções com alto orçamento, o roteiro passar do décimo tratamento. Nessas revisões podem mudar locações, acrescentar ou retirar personagens, adequar os diálogos de acordo com uma determinada característica de um ator e atender qualquer outra decisão tomada pela produção do filme.

Para facilitar a elaboração do primeiro tratamento do roteiro é fundamental desmembrar o argumento em cenas ou sequências. Definir uma estrutura numa espécie de blocos de cenas, que são as unidades dramáticas do roteiro, com cabeçalhos (Ex.: 01 EXT. CASA DE CARLOTA – DIA), descrições das ações, diálogos dos personagens e transições (Ex.: FADE IN, FADE OUT, CUT ON). A formatação para roteiro mais adequada pode ser encontrada com facilidade em softwares livres na internet.

Para organizar melhor as ideias do roteirista iniciante pode ser proveitoso partir de uma estrutura clássica muito empregada no cinema americano, que é dividida em três atos específicos, sendo que cada ato tem a sua própria microestrutura contendo um início, meio e fim. No primeiro ato, geralmente coloca-se para o espectador quem são os personagens, os problemas, as expectativas ou alguma circunstância peculiar que provoque instabilidade dentro da história. Revela-se um conflito. No segundo ato, basicamente, temos as mudanças de comportamento dos personagens e o desenvolvimento dos problemas que foram apresentados no primeiro ato levando a ação dramática ao extremo. Instala-se a crise. No terceiro ato, chega-se ao clímax, o conflito termina e a história principal é resolvida. Esse é um modelo de roteiro que tem como principal intenção manter o interesse do espectador na história do filme. Mas também não oferece garantia alguma de que seu filme será bem sucedido, comercialmente ou artisticamente.

É sempre bom lembrar que o roteiro cinematográfico, seja ficção ou documentário, não é somente a própria história do filme. Um roteiro pode ter apenas características de um guia ou de um documento onde as informações tenham um caráter mais subjetivo e que estejam de acordo com os propósitos daquela realização.

Um filme experimental, onde o objetivo é explorar a percepção e estimular novas sensações no espectador, que navega por águas mais profundas, também necessita de uma organização de áudios e imagens a serem produzidos e captados e que podemos qualificar como roteiro.

Acredito que o cinema contemporâneo está carente de novas formas narrativas e presumo que esse processo renovador pode começar pela concepção do roteiro. É onde acontece o início genuíno de um pensamento cinematográfico, o momento da criação. Da inquietude pode se manifestar a gênese de um novo olhar cinematográfico.