Desde curumim, uma das paixões desse que vos escreve, com certeza, são os vídeo games. Logo, era natural, enquanto jogador, sonhar com aqueles gráficos ganhando carne e osso em uma outra mídia, especialmente, o cinema.

Porém, sempre vinha um filme do gênero, a frustração era inevitável: ou era um completo desastre ou trazia consigo um sentimento de indiferença, a crítica não perdoava e o público também não.

Daí, surge a pergunta: por qual razão ou motivo as adaptações de games para o cinema nunca funcionam da maneira esperada?

Separei quatro motivos fundamentais e outro especial que acredito contribuir para esses atentados a sétima arte. O que posso salientar é que os motivos ocorrem em um efeito dominó.

'Assassin’s Creed': seria bem mais divertido jogar o game4 – Falta de foco e ganância

Esse não é um motivo atrelado apenas a adaptações de vídeos games, mas, de grande parte das obras na indústria cinematográfica. Preocupados apenas em ter o retorno financeiro da obra licenciada, produtores e estúdios focam apenas nos números e acham que apenas o nome do game e elenco vão conseguir o retorno. Esquecem-se do principal: a história.

3 – Deturpação do material original

Ao se agarrar à falta de atenção e cuidado com a obra adquirida e entregar o trabalho a roteiristas ou diretores que não conhece ou não possuem um mínimo de respeito ao game adaptado, o filme abre margem a roteiros pobres ou que nada tem a ver com o jogo. Seja em história ou até mesmo ao design de produção.

2 – Sensação de déja-vu

As mídias podem até ser diferentes, mas você não pode negar que tanto o cinema como os games bebem um na fonte do outro. Games como “Tomb Raider” e “Uncharted” pegam muitos elementos de filmes como os da série “Indiana Jones” e “Max Payne” além do bullet time de “Matrix”. E quando passam isso para o filme na adaptação, você acaba não se surpreendendo e tendo aquele gosto de que já viu isso em algum lugar, prejudicando também o fator emoção. As adaptações podem até ficar visualmente interessantes, mas acabam pecando no desenvolvimento de personagens e roteiro.

'Warcraft – O Primeiro Encontro entre Dois Mundos': uma aventura fantástica requentada1 – Falta da experiência interativa

Agora, o grande problema de todas as adaptações de games.

O cinema é uma arte em que o espectador não pode interferir na trama. Pode até reagir de diversas maneiras, mas não sem mexer e nem modificar as coisas que estão acontecendo na tela. Já o game é completamente diferente. Neles, você controla a ação do personagem, entra praticamente na pele dele e isso é a forma como o jogo proporciona emoções e entretenimento. Colocar personagens em que somos habituados a controlar suas atitudes em uma posição que não podemos intervir é, sem dúvida, a maior barreira destes filmes.

Por outro lado, é interessante como os games têm se aproveitado muito bem da linguagem cinematográfica pra contar suas histórias e envolver seus jogadores. As cutscenes como são conhecidas são elementos já estabelecidos nos games que servem para avançar, apresentar ou até mesmo reforçar a história do game. “God of War” e “Call of Duty”, por exemplo, apresentam cenas de ação com efeitos de deixar Hollywood ouriçada.


Motivo desonroso: Uwe Boll

Claro que não podia deixar de citar esse picareta (não ouso chamar de diretor). Uwe Boll é praticamente uma pedra no sapato daqueles que sonham em ver seus jogos favoritos ganhando vida nos cinemas. A lista dos jogos adaptados por essa figura é extensa e o incrível é que ele consegue nomes conhecidos para os seus filmes. Ben Kingsley e Jason Statham, por exemplo, já se meteram na enrascada de participar de suas adaptações.

OS CINCO PIORES FILMES BASEADOS EM GAMES

Menções honrosas: Assassin´s Creed, Max Payne, Doom, Double Dragon, Wing Commander, Dead or Alive e Tekken, Resident Evil (do 2 até o último), Silent Hill Revelação.


5 – Street Fighter – A Batalha final

Adaptação de um dos games de luta mais famosos de todos os tempos, o filme sofre claramente com os efeitos de descaso e deturpação da história do game. Mesmo a trama sendo muito simples –  jovens lutadores se encontram para lutar e testar suas habilidades – acabou se tornando em um desnecessário longa de guerra. Raul Julia não merecia essa.


4 – King of Fighters

Efeitos visuais toscos, coreografias ruins e whitewashing básico em personagens orientais que se tornam americanos. Só não é esquecível por ser uma experiência traumática.


3 – Mortal Kombat – A Aniquilação

O primeiro filme até não é ruim tendo até um charme graças a sua famosa trilha sonora. A continuação, porém, é muito horrível, apressada, com personagens entrando e saindo, sem pé nem cabeça, “lutas” que chegam a ter segundos de duração apenas para mostrar um personagem do game – fanservice ainda não era um termo conhecido. Uma tortura.


2 – Filmes do Uwe Boll

Poderiam tranquilamente compor todos os cinco filmes dessa lista, mas não acho vantajoso e é melhor juntar tudo em uma categoria: House of the Dead, Alone in the Dark, Em nome do Rei (Dungeon Siege) 1 e 2, Postal, Far Cry e BloodRayne 3. Assista por sua conta em risco.


1 – Super Mario Bros.

Reza a lenda que Bob Hoskins fez o Mario sem saber que se tratava de uma adaptação de um jogo de vídeo game: Não duvido: é aparente seu desconforto no papel do ex-encanador – Mario agora é atleta, segundo a Nintendo – John Leguizamo faz o irmão Luigi. Completa descaracterização: sai mundo colorido e cogumelos gigantes, tartarugas, entra submundo sujo, bizarro e distópico com dinossauros. Esqueça a flor de fogo, cogumelo pra crescer e penas para voar: aqui, o Mario usa uma bota esquisita para conseguir dar seus pulos.

OS MENOS RUINS


3 – Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo

Produção da Disney era um dos games mais famosos da época em que a galera usava ainda disquete pra salvar arquivo. O sonho do Jerry Bruckheimer era possuir uma nova franquia para chamar de sua nos moldes de “Piratas do Caribe”. Apesar da produção caprichada, visualmente fiel ao game do título do filme e do elenco famoso, o filme nunca engrena. A direção de Mike Newell, acaba funcionando como uma aventura divertida, porém genérica e sem alma.


2 – Terror em Silent Hill

Visual, trilha sonora, roteiro… para muitos a melhor adaptação de um game para cinema. Christopher Guns dirige um filme que amedronta, mas não aprofunda. “Terror em Silent Hill” ainda conseguiu uma continuação, mas, aconselho: fiquem longe!

1 – Mortal Kombat  

Falem o que for, mas, o primeiro filme do Mortal Kombat, talvez, seja o longa mais fiel ao game de origem. Um grupo de jovens é escolhido pra defender os interesses da Terra em um torneio em que monstros desejam invadir e destruir tudo. O filme diverte demais: cenas de luta bem coreografadas, trilha sonora marcante, apesar dos efeitos visuais datados, Goro é um animatrônico sensacional… Ah, se todos os filmes de game fossem assim…