“Sequestro Relâmpago” inicia da mesma forma como a surpresa do crime em questão: não demora muito e já vemos Isabel (Marina Ruy Barbosa) ser sequestrada por Matheus (Sidney Santiago) e Japonês (Daniel da Rocha). Não há tempo para entender quem são aquelas pessoas ou as motivações que a cercam; há o fato e estamos nele.

Desta maneira, a diretora e co-roteirista Tata Amaral (“Hoje” e “Antônia – O Filme”) tenta trabalhar a tensão ao colocar um estado de urgência e incerteza sobre o que veremos pela frente em relação ao destino dos personagens, especialmente, à vítima, enquanto traça pequenos aspectos das razões da violência brasileira de todos os dias. Discurso importante, coerente com a realidade do país, mas, muito longe de ser transportado de maneira eficiente para o cinema.

Na fala mais significativa de “Sequestro Relâmpago”, Isabel tenta convencer os dois criminosos que eles são pessoas iguais por não fazerem parte do 1% de pessoas que dominam a economia mundial e possuem fortunas bilionárias. Matheus não se faz de rogado e começa a perguntar se a garota já viajou para a Disney ou estudou em colégio particular, todas com respostas positivas. Um soco de realidade sem uma gota de sangue ou esforço físico.

Nestes momentos, o filme consegue demonstrar o abismo social desesperador existente na sociedade brasileira. Da garota exuberante que sai de um prédio executivo de São Paulo em um carro importado com todo um futuro grandioso pela frente passamos a um frentista sem perspectiva de vida e um pai de família sem dinheiro para comprar as fraldas do filho recém-nascido. Da São Paulo cheia de carros, de pontes e prédios milionários, das hamburguerias refinadas passamos para a SP da cracolândia e das favelas esburacadas sem pavimentação. Para o terror de uma classe média alta e da elite quase sempre sem noção de seus privilégios, a violência surgir deste contexto é mais do que natural.

Além disso, há uma tensão sexual durante toda a projeção com potencial de explodir a qualquer momento em “Sequestro Relâmpago”. O medo de ver Isabel ser estuprada por Matheus e Japonês deixa o espectador torcendo para que haja o mínimo de humanidade em meio ao caos. Diante disso, é interessante observar como a personagem de Marina Ruy Barbosa não chega a ser sofredora estilo ‘mocinha de novela’, pois, é hábil suficiente para utilizar o charme como um artifício para tentar se salvar.

O longa, porém, perde muito da força devido ao roteiro incapaz de dar mais camadas aos personagens, o que é fatal para uma produção que busca debater a violência. Todo o contexto ligado à família de Matheus é deixado de lado rapidamente, enquanto o Japonês fica apenas com a alcunha do criminoso estourado e nada mais. Com apenas 85 minutos de duração, “Sequestro Relâmpago” também repete demais as mesmas situações: ou eles estão quase sendo pegos pela polícia ou discutindo sobre quem manda na ação ou Isabel tentando fugir. Cansa a partir da metade final.

Buracos no roteiro (como a polícia não apertou mais o cerco depois do assalto à lanchonete?) e forçadas para gerar alguma tensão (Isabel pegar a arma dos dois e a mal construída situação com o segurança para servir de bandeira feminista) diminuem a força do que está sendo mostrado. Afinal de contas, “Sequestro Relâmpago” tenta alertar para perigos reais, mas, estes trechos são tudo menos críveis. Complica ainda a falta de uma montagem ágil, uma câmera menos estática e atuações mais convincentes do trio de atores para amplificar ainda a tensão do filme.

Evidente que há boas intenções de Tata Amaral ao trazer uma temática tão cara à sociedade brasileira atual como “Sequestro Relâmpago” insinua ter. Como infelizmente vem ocorrendo de forma frequente no atual cinema nacional, o discurso se sobrepôs aos demais aspectos, gerando uma obra aquém do potencial.

PS: acredito que tenha sido apenas mera coincidência Marina Ruy Barbosa passar mais da metade do filme dirigindo um Renault e ainda defender o veículo da marca em uma pequena desnecessária fala ?.