O impacto do avanço da agropecuária no desmatamento da Amazônia é o foco principal do documentário “Sob a Pata do Boi”. A produção estreia nesta quinta-feira (30) no Casarão de Ideias, localizado na Rua Barroso, 279, no Centro de Manaus. Neste dia, o diretor Marcio Isensee e Sá participa de um debate pós-sessão das 19h, ao lado da pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Ritaumaria Pereira, e do procurador do Ministério Público Federal do Amazonas, Rafael Rocha.

Em entrevista exclusiva ao Cine Set, Marcio explicou que o projeto reúne gravações coletadas ao longo dos últimos dois anos e é resultado de uma parceria entre o site de jornalismo ambiental, (((o)))eco, e Imazon dentro do projeto ‘Rumo ao Desmatamento Zero’. Com duração de 49 minutos, “Sob a Pata do Boi” traz depoimentos de pessoas ligadas ao assuntos, incluindo, desde líderes de assentamentos até grandes pecuaristas, passando por representantes do Greenpeace (Paulo Adario), Instituto Socioambiental (Adriana Ramos), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio – Diego Rodrigues) e o então ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho.

“É um trabalho com posição clara, mas, sem levantar bandeiras. A ideia é apresentar múltiplas visões sobre o tema”, declarou Marcio. Além de entrevistas próprias realizadas para o documentário, “Sob a Pata do Boi” também conta com materiais produzidos em videorreportagens feitas desde 2016 para o site (((o)))eco.

Vencedora do prêmio One Hour Award, concedido pelo Ministério da Cultura da França durante o Festival Recherche et Développement Durable, a produção foi gravada em cinco Estados brasileiros: Pará, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.


DESCONHECIMENTO NACIONAL SOBRE A REALIDADE AGROPECUÁRIA NA AMAZÔNIA

Considerando o processo histórico de colonização da Amazônia e o avanço da agropecuária na região desde a década de 1970, “Sob a Pata do Boi” utiliza como ponto de viradao TAC (Termo de Ajustamento e Conduta) da Carne de 2009. A medida fazia com que os principais frigórificos do Brasil se responsabilizassem pela fiscalização dos pecuaristas que eram seus fornecedores com o intuito de uma maior conscientização ambiental.

Assim como muitas normas no Brasil, o TAC ainda está longe muito de dar certo. “Deparamo-nos com a não efetividade dos acordos. Há muitas brechas e isso fica claro no filme. Por exemplo, a triangulação é constante: as fazendas ilegais passam o boi para uma fazenda dentro da lei que vende a carne para o frigorífico”, citou Marcio.

A situação piora ainda mais, segundo o diretor, devido ao desconhecimento do consumidor final. “As pessoas não têm noção do impacto da produção de carne no bioma amazônico. 40% do rebanho brasileiro vem da região. No Sudeste, porém, muitas vezes, não há noção de que tem boi na Amazônia”.

Presente em “Sob a Pata do Boi”, a fala de um homem conhecido como Zé do Saco, um assentado da região do Xingu, sintetiza bem o panorama do momento, de acordo com Marcio. “Ele é um sujeito que encara a vida de uma forma muito simples, mas, com uma clareza da dinâmica da agropecuária na Amazônia como poucos. Diz ele: ‘ Enquanto houver dinheiro e lei fraca, as coisas vão continuar na pendenga’”, recorda o diretor.


ASSUNTO RELEGADO A SEGUNDO PLANO NAS ELEIÇÕES

Marcio Isensee e Sá considera que o desmatamento na Amazônia e o avanço da agropecuária na região está sendo pouco debatido pelos candidatos durante a corrida presidencial deste ano. “De forma eleitoreira, muitos têm exaltado, mas, sem questionar a forma de desenvolvimento. Será que este é o desenvolvimento que queremos para Amazônia? Queremos que a floresta vire pasto? Aliás, não vejo debate disso também nos últimos governos”, declara.

O impacto da agropecuária na política, porém, é grande com o fortalecimento da bancada ruralista no Congresso Nacional nos últimos anos, como recorda o diretor de “Sob a Pata do Boi”. “Historicamente, remontando aos militares, sempre olhamos para a Amazônia como um grande almoxarifado, explorando a região a custo da biodiversidade, da floresta. Nas últimas décadas, vemos uma ascensão do agronegócio como expoente econômico, e consequentemente, político. Acompanhamos os projetos sendo aprovados para a diminuição de áreas florestais, quilombolas, de ribeirinhos. Estamos em um momento em que o setor agropecuário se tornou algo super potente que o Brasil parece não ver outra forma de se desenvolver que não seja desta maneira”.


FORMAS DE EXIBIÇÃO

Estes são alguns dos tópicos que estarão no debate no Casarão de Ideias sobre o documentário “Sob a Pata do Boi”. “Espero que seja um encontro muito legal. Estivemos em Belém e houve uma receptividade muito legal. Acredito que o encontro em Manaus será dentro de um outro contexto pelo fato de que a Amazônia não é uma só; há muitas variações dentro dela. Pode ser esclarecedor apresentar novos pontos”, afirmou.

“Sob a Pata do Boi” está disponível em quatro serviços de streaming: NET Now, iTunes, Google Play e Vivo Play. Além disso, há também a possibilidade do acesso ao documentário através da plataforma Videocamp – “é uma espécie de Netflix ambiental”, compara Marcio. Nela, o solicitante pode pedir a exibição gratuita informando em um relatório todos os dados. “Já fizemos mais de 60 exibições e através dela atingimos desde universidades até capitais na Europa como Oslo e Amsterdã.

SERVIÇO

O QUÊ: Sessão de “Sob a Pata do Boi” seguida de debate com o diretor Marcio Isensee e Sá

QUANDO: Quinta-Feira, dia 30 de Agosto

ONDE:  Casarão de Ideias, na Rua Barroso, 279, Centro de Manaus

HORA: 19h

QUANTO: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)