Stephen Daldry jura que ficou surpreso com a indicação ao Oscar de Melhor Filme. De fato, muitos não colocaram fé no longa “Tão Forte e Tão Perto” – por o filme não ter sido indicado a nenhuma outra grande premiação.
Mas, os que acompanham as produções do diretor sabem que ele é um dos queridinhos da Academia e nunca passa despercebido quando o assunto é concorrer à mais cobiçada estatueta do universo cinematográfico. Todos os trabalhos deste veterano receberam alguma indicação de peso, como em “Billy Elliot” (2000), “As Horas” (2002) e “O Leitor” (2008) – um feito impressionante para uma carreira tão curta.
Não precisamos ir longe, para descobrir que histórias dramáticas, baseadas em memórias verossímeis, cheias de perseverança e superação de barreiras, explorando a harmonia de boas performances, são ingredientes da fórmula que costuma render consideráveis indicações ao Oscar. E Daldry, definitivamente, não mede esforços para acertar na receita.
Baseado no livro “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto” (segundo romance de Jonathan Safran Foer, autor do aclamado “Tudo se Ilumina”), “Tão Forte e Tão Perto” conta a história de Oskar (Thomas Horn) – um garoto intelectualmente bem dotado e maduro para a sua idade (11 anos), mas que não consegue lidar com a dor da perda. Depois de muito martelar na tecla dos transtornos que envolveram os ataques às Torres Gêmeas, explorados pelos mais diversos ângulos, Hollywood retorna com o tema por meio da visão de uma criança.
Os elementos estavam dados para o filme ser um completo dramalhão, mas soma-se a isso algumas relações familiares complicadas e um garoto que foge dos padrões comuns, e temos pela frente uma história, digamos, muito mais consistente.
O pequeno Oskar vê seu perfeitinho mundo de expedições, caças ao tesouro, cartinhas para cientistas famosos e sagazes desafios, instigados pelo pai e melhor amigo Thomas Schell (Tom Hanks), cair por terra juntamente com o World Trade Center, no lamentável 11 de setembro.
Naquele dia, o menino não perdeu apenas o pai na tragédia, mas o único ser humano que julgava ser capaz de entendê-lo e acompanhar as maquinações de sua imaginação incrivelmente fértil.
Oskar sentia-se culpado por ter sido o último a ouvir a voz do pai nos recados da secretária eletrônica e não ter atendido o telefone, quando Thomas implorava para trocar algumas palavras com o filho, em seus últimos suspiros de vida – segredo que escondeu da própria mãe, Linda Schell (Sandra Bullock).
Um ano após o atentado, ele finalmente cria coragem para bisbilhotar as coisas do pai e encontra uma chave guardada dentro de um vaso, no closet, com a palavra “Black” escrita em um pedaço de papel, e se agarra à esperança de essa ser mais uma das brincadeiras que seu pai costumava fazer (como esconder objetos no Central Park e indicar pistas para que ele os encontrasse).
“Se o sol explodisse levaríamos oito minutos para saber, pois esse é o tempo que a luz da explosão precisaria para alcançar nossos olhos. Tenho que correr, depressa. Os oito minutos que me restam com o meu pai estão se esgotando”. Dito isto, Oskar dá início à sua busca.
Com a chave pendurada no pescoço, e uma espécie de pandeiro nas mãos, o menino sai à procura do tal “Black” pelos cinco distritos de Nova York, sempre registrando histórias paralelas, numa tentativa de colocar-se mais uma vez perto do pai.
Concomitantemente, nós somos apresentados à história dos avós paternos de Oskar, ambos sobreviventes do bombardeamento de Dresden (Alemanha), durante a Segunda Guerra Mundial.
Tal viagem aos cinco cantos de NY poderia ser tornar uma jornada de autoconhecimento e aceitação, mas na responsabilidade do roteirista Eric Roth (“Forrest Gump: O Contador de Histórias”) ganha um tom extremamente apelativo. Claro que ele conseguiu destilar alguns diálogos geniais, proferidos pelo pequeno Oskar que, por sinal, também segura muito bem a complexidade do seu papel.
Mas a tentativa de levar o espectador a se debulhar em lágrimas não torna o enredo saudável – em especial, nas cenas em que Oskar imagina seu pai se jogando do World Trade Center e as assustadoras mensagens deixadas na secretária eletrônica, que se repetem a todo instante.
O excesso de metáforas e momentos feitos propositalmente para emocionar acaba diminuindo a qualidade da produção e apoiando-se em clichês e exageros.
Ao mesmo tempo em que Oskar nos encanta com sua perspicaz inteligência, ao se mostrar um ‘pequeno príncipe’ pós-moderno, ele nos deixa com vontade de lhe dar umas boas palmadas – por conta de suas crises histéricas (como na cena em que ele começa a destruir a cozinha, quebrando tudo que vê pela frente), uso de palavrões e dificuldades para lidar com coisas aparentemente tão simples. Sintomas justificáveis para uma criança com autismo.
E, por falar nisso, o diretor – que já demonstrou ter um talento especial e sensibilidade para dirigir crianças – soube retratar com maestria o universo de um portador da Síndrome de Asperger.
As técnicas utilizadas definitivamente ampliaram a sensação de imersão na mente de Oskar, enquanto revelava suas variadas idiossincrasias.
Linda Schell deixa a desejar como a esposa desolada. Em uma das vezes que o menino resolve ‘rodar a baiana’, ele diz à mãe que gostaria que ela tivesse morrido no lugar do pai e ainda repete mais enfaticamente: “eu gostaria que você estivesse no WTC, naquele dia”. E ela? “Eu também gostaria”. Linda não se impõe e contribui para agravar o comportamento peculiar do filho. Felizmente, o desfecho da história conspira a seu favor e nos faz mudar alguns (pré) conceitos adquiridos no decorrer das passagens.
O elenco de apoio, formado por Jeffrey Wright, Viola Davis e Max von Sydow, dá um ‘empurrãozinho’ no filme. Não foi à toa que Sydow (de “O Exorcista”, 1973) foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – ele simplesmente rouba a cena quando entra na vida do garoto.
Mudo desde um trauma sofrido na Alemanha nazista, seu personagem usa um pequeno bloco de papel e as tatuagens “Sim” e “Não” nas mãos para se comunicar. Mais adiante, as suspeitas se confirmam e descobrimos que ele é o avô de Oskar. Vale frisar que a dupla é responsável pelas melhores sequências da trama.
O filme estreou nos EUA, em circuito comercial, no dia 1º de janeiro. De lá até o fim da primeira quinzena de fevereiro, acumulou pouco mais de US$ 29,4 milhões nas bilheterias. Nada mal, mas certamente está abaixo da expectativa do estúdio – especialmente por causa dos nomes estelares de Tom Hanks e Sandra Bullock no elenco. Até agora, “Tão Forte e Tão Perto” faturou seis prêmios e foi indicado a mais oito, incluindo dois Oscars.
Três dos seis prêmios abocanhados pela produção foram para Thomas Horn, mas nenhum de grande relevância. Ainda que o filme trate de um tema importante para os EUA e que ele comece muito bem, a verdade é que esta produção não tem competência para vencer os favoritos “O Artista”, “Os Descendentes” ou “A Invenção de Hugo Cabret”.
Tneho lido algumas críticas negativas sobre esse filme – clichês e outros pontos desvantajosos , como a autora colocou, contudo, eu gostei do filme, em grande parte pela atuação do ator que interpreta o Oskar (Além do ator que interpreta o avô, sempre muito bem). No entanto, sobre Oskar ter Síndrome de Asperger, como ele mesmo disse “os resultados não foram conclusivos”, penso que não dava para afirmar, apesar do menino ter umas características próprias da síndrome. Enfim, não sei se eu estava num momento sentimental quando assisti, mas gostei.
E concordo com a nota da Emanuelle, dá um 7,5.
Obrigada pelo comentário, Silvia. Talvez eu tenha tirado conclusões precipitadas, mas a minha afirmação é simplesmente algo que fica subentendido em cada mínimo detalhe da personalidade de Oskar, ao longo da fita. Lembro da parte quando o menino diz que os resultados do exame não foram conclusivos. Porém, creio que essa sensação de indecisão tenha sido uma escolha proposital do diretor, para nos dar uma certa liberdade de tirarmos nossas próprias conclusões. No livro, essa questão é abordada e esclarecida com mais afinco. Tirando os exageros, é um filme muito bom. Adorei a atuação do Thomas Horn! E, realmente, os nossos ‘momentos’ influenciam bastante na hora de tomarmos uma posição, seja favorável ou não, sobre um filme que acabamos de ver.