Super premiada comédia da Amazon Prime Video, “The Marvelous Mrs Maisel” se passa nos anos 1950 e apresenta como a personagem-título conseguiu entrar no stand-up comedy, espaço dominado até então por homens.

Mesmo sendo uma produção de época, os temas abordados são importantes até hoje. Por isso, eu trago cinco motivos que comprovam a força de “The Marvelous Mrs. Maisel” para os dias atuais:


Uma comédia com mulheres em papéis principais

É notório como o território da comédia nas séries americanas foi um ambiente dominado extremamente por homens, alguns personagens masculinos simplesmente assumiam o título das produções – “Barry”, “Barney Miller”, “Cosby Show”, “Seinfield”. Atualmente, entretanto, houve um boom de produções aclamadas pela crítica e pelo público em que mulheres assumem personagens principais em comédias, entre elas, “Mom”, “Veep”, “Grace & Frankie” e “Glow”.

The Marvelous Mrs Maisel não foge dessa lógica ao ter a personagem-título, Miriam Maisel (Rachel Brosnahan) e a sua companheira de trabalho, Susie Myerson (Alex Borstein) como protagonistas. Em volta das duas personagens existem muitos homens, mas são elas que ditam a narrativa da série. O mais genial é que a personagem principal representa justamente isso: uma mulher que assume a comédia como meio de vida para contar narrativas cômicas por meio da perspectiva feminina.


Existe sororidade na década de 1950

A produção tem um humor lúdico e particular; tudo é muito perfeito e organizado. Contudo, as relações entre homens e mulheres são bastante conflituosas: problemas de comunicação, adultérios, objetificação da mulher e tratamento de inferiorização.

Entretanto, as mulheres não são colocadas umas contra as outras; pelo contrário, elas se apoiam mesmo quando existem definições incompatíveis de felicidade. Miriam vira o porto seguro para apoiar outras mulheres, menos ou mais rápido dependendo da situação da relação que ela possui com a outra personagem. Maisel consegue compreender o que acontece com cada uma delas, criando uma relação empática durante a série com várias outras personagens femininas.

É nesse ambiente saudável para mulheres onde a narrativa cresce e ganha um apelo extremamente contemporâneo.


Existem modelos de mulheres independentes

Mulheres em ambientes onde não dependem de homens nos anos 1950 não eram majoritariamente comuns. The Marvelous Mrs Maisel apresenta personagens femininas fortes que não hesitam em buscar espaços e viverem com absoluta convicção dos seus desejos pessoais. As relações femininas possuem complexidades: conflitos de gerações e classes sociais.

A relação de Miriam e Susie é criada a partir do contraponto de duas visões de mundo bem diferentes: a primeira leva uma vida de classe média-alta sem problemas financeiros e com regras sociais, enquanto a segunda não tem nenhum privilégio, é muito pobre e aprendeu a lidar com seus problemas de um jeito bem particular.

Já a relação de Maisel com a sua mãe, Rose (Marin Hinkle), sustenta-se em duas mulheres com uma visão independente da vida, entretanto, uma aceitou sua posição de esposa e mãe como sinônimo de vida feliz e a outra descobre que essa visão não pode definir sua vida. Ao final de tudo, mesmo com seus maridos e filhos, estas mulheres estão sozinhas e precisam encontrar maneiras de serem felizes nesse mundo cruel e dominado por homens.


Amy Sherman-Palladino
é a show runner da série

Uma comédia para TV protagonizada por mulheres e comandada por uma mulher. Para quem já assistiu Gilmore Girls, com certeza, já está acostumado com o senso de humor da Amy Sherman-Palladino: ácido e discreto. A roteirista define o texto com graciosidade e sensibilidade, apresentando personagens que vivem em bolhas e conflitos muito individuais.

Felizmente, ela transita por todos sem perder a mão e todos são bem desenvolvidos: nada fica superficial, mesmo que a série tenha um ar lúdico. Ver uma mulher se apropriar do seu lugar de fala para apresentar uma narrativa sobre como ser uma mulher na comédia ganha ainda mais peso para a série.


É uma série feminista

A história de uma mulher que abandona a vida de casada para buscar a felicidade e independência por meio de um ambiente artístico dominado por homens não poderia deixar de ser considerada feminista. O mundo da série é bem particular, mas a narrativa consegue tratar da temática com sucesso, atravessando a realidade das mulheres da série e dando a elas diferentes formas de viver suas vidas.

Elas sofrem misoginia e machismo nos seus cotidianos e chegam até mesmo incorporar esses discursos na sua fala, mas não é diferente das situações que mulheres atualmente passam em vários ambientes tóxicos para elas. E é justamente esse o motivo principal da série ganhar relevância: “The Marvelous Mrs Maisel” pode se passar na década de 1950, mas essas questões sociais, infelizmente, continuam presentes e vivas.