Estudioso sobre a fórmula dos roteiros de cinema, Syd Field afirma que um bom filme consegue prender a platéia nos 10 minutos iniciais. Depois disso, a chance do público conseguir ter interesse na trama diminui com o passar do tempo. O lançamento de “Thor – O Mundo Sombrio”, porém, quebra essa fórmula ao ter um segundo e terceiro ato bem melhores do que o início apático e sem criatividade.

A história começa com um prólogo semelhante a “O Senhor dos Aneis – A Sociedade do Anel”: milhares de anos atrás, o universo estava dominado pelas trevas comandado por um sujeito malvado (Malekith) a partir de elemento capaz de dar força a ele (Éter). Eis que surgem os guerreiros de Asgard e destroem os vilões. Claro que os danadinhos conseguem driblar a destruição e escondem a bendita substância em Londres. Daí por diante, adivinha? Vão querer destruir o Universo começando com a Terra. Como se não bastasse a lembrança constante da obra de Peter Jackson, o vilão parece saído da série “Star Trek”.

Nem mesmo a entrada da sempre bela Natalie Portman faz o filme empolgar. O reencontro do herói com a mocinha acontece rápido demais e a direção de Alan Taylor (primeiro longa-metragem da carreira) não sabe se adota um tom humorístico ou amoroso para o romance. Vilão em “Os Vingadores”, o destino de Loki (Tom Hiddleston) acaba sendo pouco interessante, pois, depois da condenação feita pelo pai, o Rei Odin (Anthony Hopkins, pagando de figurante), nada acontece com ele.

Quando o tédio começa a se apossar do espectador, surge a sequência do ataque a Asgard. O impacto do momento não chega a ser tanto pela batalha em si, já que efeitos especiais e a edição/mixagem de som são sempre competentes em blockbusters. A grande diferença é a tragédia causada pelo ataque com a morte de um importante personagem. Nesse trecho se estabelece um ponto fundamental para o sucesso do longa da Marvel: a insegurança no destino dos protagonistas.

O fator cresce ao explorar a relação entre Thor e Loki. Como o sucesso do plano do herói depende da ajuda direta do irmão, saber até que ponto as amarguras trazidas do primeiro filme e “Os Vingadores” vão influenciar nas decisões colocam uma dúvida em cada ação vivida pela dupla. A montagem do longa ainda consegue ser feliz na sequência do plano para chegar ao planeta de Malekith, sendo elaborada para causar aflição no público, já que as soluções surgem sempre no último instante por caminhos inesperados.

Claro que o filme não sobreviveria se fosse levado à sério, pois, basta olhar a sinopse para perceber não se tratar de um Shakespeare ou Machado de Assis. Para isso, o humor da obra acaba sendo vital para transmitir essa leveza. Dois momentos se destacam: a aparição do Capitão América em uma provocação de Loki contra Thor e o herói pegar uma carona no metrô londrino durante o clímax do filme.

Mesmo sem um ato inicial empolgante, “Thor – O Mundo Sombrio” consegue ser um ótimo filme e mantém o interesse constante no universo da Marvel. Em um período de adaptações de HQ’s tão sérias e com desejo de serem os mais realistas possíveis, a obra acaba sendo um válvula de escape interessante como todo seu colorido brega e o bom humor.

NOTA:7,5

PS: o 3D é dispensável. NOVIDADE!

PS 2: tem uma cena durante os créditos e outra depois do fim. Nenhuma traz algo interessante. NOVIDADE 2!